UMA VEZ FLAMENGO...DEPOIS O BARCELONA
-O que é que você vai ser quando crescer?
-Eu vou sê jogador de futibol!
-E vai jogar em que time?
-Framengo!
-Precisa estudar, para falar pelo menos o nome do clube certo.Já aprendeu a cantar o hino nacional?
-Aindia não. Mai vou aprender. Agora jogar eu já sei.Vou sê mio do que Ronaldim.
Assim respondia Luquinha ao seu padrinho Egídio.
-Ele só fala nisso, cumpade Egídio, não quer nem ir para a escola, fica no caminho jogando bola cums muleque da rua. A deretora do grupo já falou inté cum eu, mai ele sai daqui de livro a mão e num vai.
-Tem que estudar, Luquinha. Ou você acha que Ronaldinho é burro?
-Mai eu jogo é cum as perna.Pra que eu ir istudá?
-O flamengo não aceita aluno que não estuda na escolinha de futebol do clube.
-Quem dixe?
-Eu estou dizendo. Pode perguntar por aí, todo mundo vai lhe dizer a mesma coisa.
-Vixi.Eu vou pá iscola hoje.O sinhô acha queu vou sê bem famosão? Daqueles que vai simbora pro Bacelona?
-Depende de você, de que tamanho é o seu sonho e da perseverança que tiver.
-O que é pe...pecevança...?
-Perseverança. É a insistência e paciência com que você corre atrás do seu sonho
-Eu tenho isso?
-Não sei, você tem?
-Acho que sim. Eu nun vou disisti nunca. Aindia vou jogar cum Neimá e Ganso na seleção.
-A bença padim, vou-me rrumá mode ir pro grupo istudá. De hoje envante num perdo mais iscola.
-Muito bem Luquinha, leva esse trocadinho pra lanchar.
-Gradecido.
Saiu todo contente. Adorava jogar futebol, mas essa do padrinho era de lascar. Tudo bem, se fosse para estudar, estudaria, aprenderi a a ler, a escrever, mas um dia, o Flamengo teria um craque.
De farda e livros em punho, lá foi o menino a caminho da escola.
-Ei, Luquinha!Luquinha...Pra onde tu vai?
-Pá iscola!
-Coisa de Mané! Bora jogá bola!
-Hoje não, só despoi da aula.
-Tu nunca vai na aula.
-Agora vou.O Framengo só qué jogador qui sabe lê e iscrevê e eu vou aprendê.
-E tu pensa qui vai pó framengo , Rá Rá Rá
-Vou sim e de lá vou pu Bacelona.
-Oi o cara, só qué sê Ronaldim.
E lá se foi Luquinha para a escolinha do bairro. Daquele dia em diante, não faltou a uma aula sequer, aprendeu a ler e escrever, jogava um bolão no time da comunidade, mas só depois da aula. O padrinho sempre ia visitar-lhe, até que um dia:
-Benção meu Padrinho.
-Deus te abençoe, Luquinha. Vim hoje aqui porque tenho uma novidade para você.
-Boa ou ruim? Perguntou Luquinha.
-Boa. Tenho um amigo que arrumou um teste na escolinha do flamengo para você. Quer ir fazer?
Os olhos do garoto de doze anos brilharam de alegria.
-Foi, meu padrinho?e nós vamos quando, agora?
-Calma Luquinha, tá marcado para sexta feira. Vou com você, se sua mãe quiser ir, pode.
Lucas era o único filho de Maria José. Nem conhecera o pai que faleceu de atropelamento dois meses antes dele nascer. A mãe não quis outro homem para poder criar o filho em paz. O padrinho, que também era patrão da mãe, fazia as vezes de pai com o consentimento de sua esposa Juracy em cuja casa trabalhava Maria José. Os dois moravam numa casinha pequena mais ou menos perto da casa da patroa, assim o menino estava sempre na casa deles.
-Eita, danado! Vou pro Flamengo! Mããããããêêêê, vou fazer teste no Flamengo. Saiu gritando para avisar a mãe.
Maria José enxugando uma lágrima que teimava em escorrer, abraçou o filho e disse-lhe:
-Que Deus o potreja, meu menino, agora é cum tu.E se Deus ajudar, tu vai jogar nesse crube.
-Vou, mãe. Vou ser craque no Flamengo.
No dia do teste, Luquinha nem dormiu direito e quando dava um cochilo, sonhava com o maracanã lotado, e a torcida gritando seu nome.
E lá se foram os dois, Lucas e seu padrinho, Maria José nem teve coragem de ir. O Padrinho conversava Luquinhas só sorria. Estava nervoso, mas confiante.
-Muito bem recebido no Flamengo, Lucas o garoto da comunidade do Alemão, foi aceito na escolinha do flamengo.Ganhou uma bolsa para alimentação, escola melhor, transporte e tudo o que um garoto precisa para dedicar-se ao estudos e ao futebol.
Pensaram-se quatro anos. A copa do mundo foi no Brasil, que virou hexacampeão em cima da Argentina, com um gol de Pato e dois de Neymar. Luquinha agora jogava no juvenil do flamengo.Tinha dezesseis anos. Aos dezessete, foi convocado para a seleção brasileira sub vinte, três anos depois, jogando na equipe principal do clube, era craque da torcida rubro negra, querido pelos dirigentes e pela imprensa. Maria José agora era “Dona Maria José”Mãe do “Luquinha doutor”, apelido que ganhara dos colegas por ter passado no vestibular para Fisioterapia. Morava numa casa grande e bela perto dos seus padrinhos.Sua mãe agora tinha empregada doméstica e não trabalhava mais para ninguém. Por ser jovem ainda, voltou a estudar incentivada pelo filho e estava a terminar o supletivo. Quando completou dezenove anos, saiu a convocação para a seleção que iria disputar a copa de 2018.Luquinha foi o primeiro nome da lista.Quase morre de felicidade, era tudo o que ele desejava nessa vida, defender a camisa do Brasil no grande torneio mundial que é a copa do mundo.Convocados os jogadores(ainda estavam lá Neymar, Ganso e Alexandre Pato)foi marcado o primeiro jogo treino no Maracanã.Emocionado,” Luquinha Doutor”, ao lado dos seus ídolos fez aos 12 minutos o primeiro gol da partida que era contra a França, enquanto o Maracanã inteiro gritava:LUQUINHA, LUQUINHA, LUQUINHA...
Nesse momento, o garoto do complexo do alemão compreendeu o verdadeiro sentido da perseverança: Nunca deixar morrer o sonho e fazer por onde ele vire realidade.
Que venha o Barcelona!