O dia do Gafanhoto
Era para ser um dia como outro qualquer se não fosse aquele põe na mesa, louva deus, louva deus não!?Gafanhoto... Sentenciava aquela voz grave.
- Pai! Vem cá! Olha só o ponha mesa!
O bicho estava no arredomo do balcão em azulejo amarelo pálido florido descansando ou se refugiando das galinhas que passeavam pelo quintal, em seu tom verde mato. Quando o Sr. Alberto esclareceu:
- ora vejam só a Marília nem sabe distinguir louva deus de um simples gafanhoto. Pois bem, minha filha isso é um gafanhoto.
E falando dessa forma tomou pelas mãos o bicho e diante dos olhos do seu outro filho Arthur e de sua senhora Iza ele ergueu o bichinho e o impulsionou num lampejo porta afora.
O pobre bichinho foi-se com o impulso e como não entender direito o que estava acontecendo, bateu na folha que oscilava do abieiro, atordoou-se no sinzal e caiu no chão, em meio as pedras e as suas perseguidoras naturais, as aves, conhecidas também como galinhas.
Sem qualquer esboço de reação, o pobre gafanhoto foi para morte, antes mesmo de se dar conta dos segundos de vida que o separavam da vasta folhagem que degustara minutos antes dessa garfe. Pois as galinhas num ato de fúria, instinto natural dos animais de sua espécie, correram, bicaram, bicaram impiedosamente o bichinho sem qualquer chance de socorro e o comeram.
Estatelados todos ficaram por um segundo calados, quando dona Iza exclamou acusando e já o culpando definitivamente:
- Vejam só meninos de maldade o Alberto mandou o gafanhoto para a morte.
Quase que de imediato, Alberto se retratou:
- Não foi bem assim, na verdade eu só impulsionei com o intuito de fazê-lo voar para longe, mas ao que parece não aconteceu.
- sinceramente lamento, não foi a minha intenção, pois eu pensei que ele iria voar.
No mesmo momento, Marilia e Arthur começaram a chorar.
A tarde como em prantos pela morte injusta do gafanhoto começou a escurecer e desaguar num vendaval de chuvas que cantavam em tom triste sobre o telhado a morte do doce bichinho, que apenas quis se refugiar do perigo e acabou pagando com a própria vida.
Apesar das duras acusações o senhor Alberto, mais uma vez se defendeu dizendo que realmente não foi intenção matar o animal e assim aquele dia foi passando em silêncio para a história.