AINDA SOMOS SEIS MAS JÁ FOMOS FELIZES. Parte I - Cap. III
Aquela era uma rua encantada.
E foi nela que eu nasci e mais quatro de nós.
Já começava pelo nome: RUA DO OURO.
Mas ouro mesmo, valia era cada um que morava nela.
Rua da Efigênia e do Tio (acho que ninguém nunca soube seu verdadeiro nome. Só Tio.), da dona Jacinta e do "seu" Osmar, que deram conta de criar a Mônica, a Ana, o Paulo, o Heleno e o Celinho.
Era também a rua da Efigênia do Lázaro, da Dalva, da Lina, da Raimunda, da Maria José, do Vicente do Zé Juca e do próprio Zé Juca.
É...era mesmo uma rua encantada.
E era nela que morávamos, o pai, a mãe, eu, o Tarcísio, a Simone, o Lequinho e o Lilinho.
A Patrícia - o Tição - nasceu bem depois, quase um milênio depois.
Era uma rua de bom conversê, de vizinho valendo mais que parente. Muito mais.
Todos eram cúmplices na felicidade descalça, simples e risonha.
Tanto, que no dia que apareceu o disco voador, até quem não viu, jurou e esconjurou.
Era uma rua onde todos estavam criando os filhos e todos os filhos brincavam na mesma poeira, falavam a mesma língua, penavam os mesmos castigos.
Depois de passado esse tantão de tempo - êta tempo danado de ligeiro, sô! - eu acho que nunca saí de lá.
Deve ser por isso esse desassossego dentro do peito, essa saudade que não se explica.
É que a rua era encantada... me enfeitiçou pro resto da vida.