São Paulo de Piratininga, cidade infinita

1ª prova comutativa da infinitude de Piratininga

Piratininga inspira uma espécie de ódio baseado na indiferença. O ódio sem objeto de que fala Aristóteles na Rhetorica. A origem desse ódio é difícil de discriminar: será a raiva, o desdém? É certo que a cidade está investida por qualidades negativas no imaginário singular, qualidades que inspiram esse ódio bizarro, neutro, cínico. O ódio é esse sentimento oposto à amizade e ao amor, estranho de todo à sua positividade, porque a amizade e o amor, tal como definidos pelo Estagirita, são profundamente determinados por seus objetos. O ódio é infinito, pode ser infinito, pode se voltar a um gênero de coisas parcamente determinadas - 'buracos na rua', 'pessoas', 'semáforos' - objetos que não fazem sentido para se amar num amor de amigo.

O ódio indiferente à metrópole se renova infinitamente, se direciona a classes genéricas de seres, repousa sobre qualquer obstáculo, que é somente uma espécie de obstáculo no gênero chamado 'São Paulo de Piratininga', o obstáculo dos obstáculos.

São Paulo é infinita porque é possível odiá-la de infinitas formas; são Paulo de Piratininga é infinita porque é impossível amá-la; o que é impossível amar é ou um objeto impossível ou um sujeito que não ama. Se a cidade não ama, é porque ela é infinita e nenhum objeto é-lhe apropriado. Se a cidade não é amada, é porque é infinita e, logo, é apenas mais um objeto impossível dentre tantos.

Conforme nos diz Herr Theophilus Przewiski, em seu famoso teorema sobre os pontos de um plano [segue uma prova ilegível de que a cidade é geometricamente infinita, prova a ser revista]

Danilo da Costa Leite
Enviado por Danilo da Costa Leite em 01/07/2011
Código do texto: T3068853
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