LENDA DO «SINAL DA CRUZ»
Conta uma antiga Lenda cristã que no sexto ano do seu reinado, o imperador Constantino confrontou-se com os Bárbaros nas margens do rio Danúbio. Pela aparência das forças em campo e pela disposição aguerrida dos adversários julgou-se que a vitória romana seria considerada impossível. Numa das noites sequentes desta constatação diz-se que o Imperador teria tido uma visão : no céu apareceu uma cintilante cruz de Cristo e por cima dela as palavras IN HOC SIGNO VINCES ( “com este sinal vencerás” ). O Imperador mandou imediatamente construir uma cruz, segundo a imagem visionada, e colocou-a à frente do seu exército. Apelou aos seus soldados para que reforçassem as suas posições e que acreditassem naquele sinal como se de um vaticínio de vitória se tratasse, pois que os deuses estariam com eles. Ordenou então que atacassem os inimigos. E tal foi o furor e violência do impacto que os Bárbaros, ao fim de algumas horas de refrega, puseram-se em debandada deixando toda aquela região na posse dos romanos.
De regresso à cidade, reuniu-se toda a Corte e, tendo-se discutido o acontecimento e os seus efeitos imediatos, concluiu-se da necessidade da protecção aos cristãos e da liberdade na sua catequese. Reconhecidamente foi decretada a lei da defesa do Cristianismo e o próprio Imperador terá pedido para ser baptizado na ocasião, dizendo alguns que por sugestão de sua mãe Helena, futura Santa Helena.
Mandando seguidamente Constantino edificar algumas igrejas para o culto da religião cristã conclui-se ser este o primeiro sinal concreto da era do desenvolvimento do Cristianismo no Império Romano.
Na sequência desta mudança na política de Estado e, de certa forma querendo regenerar o que de menos bom realizara na sua vida, Constantino enviou a sua mãe, a prestigiada Helena, a Jerusalém para que fosse procurada a verdadeira Cruz de Cristo. Uma vez na Cidade Santa, Helena mandou chamar os mais sábios e influentes sacerdotes aos quais, através primeiramente de argumentos diplomáticos e só depois chegando à aplicação de torturas, ao fim de aturadas iniciativas, conseguiu arrancar a confissão do lugar onde se encontrava a Cruz. Terá sido um tal Judas, na altura saduceu descrente activo, que confessou o lugar exacto. No monte da Caveira, do lado da lixeira do cemitério da Cidade Santa, perto do local onde a Tradição sempre situou a execução de Cristo à morte, aí encontraram de facto três cruzes ocultas. Mas como eram parecidas, seria necessário descobrir qual a verdadeira. O mesmo Judas sugeriu que fossem testadas colocando sobre elas o corpo de um jovem que, por coincidência tinha morrido de véspera, esperando-se a sua sepultura. Ora, perante o espanto de todos, ao ser colocado o corpo sobre a terceira cruz ressuscitou cheio de vitalidade e alegria. Foi este o sinal mais evidente da verdadeira Cruz, aquele que por sua intervenção foi garantia de Salvação. Este milagre teve as suas consequências imediatas de ressurreição, conversão e santificação : o jovem ressuscitou, o saduceu agnóstico – que não acreditava nem na ressurreição nem, muito menos, na imortalidade da alma – extasiado converteu-se e Helena santificou-se. Ela mesma, na hora de sua morte, pediu a todos os que acreditavam em Cristo que celebrassem a comemoração do dia em que foi encontrada a Cruz, a três de Maio. O jovem judeu ressuscitado passou a substituir a velha estrela de David, pendente do peito, por uma pequena cruz de madeira, em lembrança do mistério de Cristo. Nasceu aqui o hábito do uso dos crucifixos pelos cristãos. Quanto ao doutor saduceu agnóstico resolveu converter-se à mensagem do próprio Cristo. Dentro de algum tempo foi eleito pela comunidade de Jerusalém como seu bispo. Seria mais tarde reconhecido como São Judas de Jerusalém.
Adaptação de
Frassino Machado
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N. B. Há mais versões desta Lenda. Uma, com Constantino também passada não no Oriente, como esta, mas nas proximidades da cidade de Roma aquando das lutas intestinas entre Constantino e
Maxêncio, para a conquista do poder. É a lenda da Ponte Milvius. Uma outra, mais recente, datada do Século XII, aquando das lutas pela nacionalidade portuguesa,em que o rei D.Afonso I também visiona o Sinal da Cruz, na véspera da famosa batalha de Ourique.
Ficarão para uma outra oportunidade.
Frassino Machado