A Gente que faz.
Depois do sim no casamento comunitário dona Isabel e o senhor Claúdio felizes, correram literalmente dos amigos e dos colegas de trabalho e pegaram um ônibus para passar a lua de mel no distrito de mosqueiro como haviam planejado. Ivan o terrível, colega de bar do senhor Claudio, mesmo sem conseguir pegar o amigo para batizá-lo com talco, tratou de ornamentar com latas de bebidas o lotação e sob gritos eufóricos dos ficavam na plataforma de despedida o carro seguiu o seu destino. A casa em que a tia Maria, irmã do senhor Claúdio tomava de conta no mosqueiro. Chegaram lá pelas 23hs e não escaparam da recepção simples e humilde, com arroz, feijão e aquela cervejinha feita pela dona Maria, que ao som de um bregas arrastados, como na valsa de meia noite todos os três dançavam a borda da piscina azul, sob os galhos frondosos do cajueiro com a mangueira a esconder rasteiramente a dama da noite, a lua, que enserestava na harmonia das ondas do mar atrevido lá fora. Assim a noite fincou os pés na madrugada, dona Maria coitada cansada adormeceu no sofá da imensa sala, enquanto o senhor Claudio com dona Isabel completamente bêbedos rolavam lá no quintal em riso e beijos, até que adormeceram em cantos diferentes.
Manhã de céu azul cujas nuvens em férias naquele momento forjavam o ensoleirar do dia acordaram a anfitriã, que sem perturbar os pombinhos fez o café, a tapioca com o côco ralado, um bolo de mandioca, leite fresco, suco de taperebá, mingau de farinha de tapioca e esquentou um caldo de mocotó guardado do outro dia, para ajudar a tirar a ressaca.
Quando os recém- casados acordaram comeram, beberam e riram bastante. Muito felizes não paravam de se divertir, jogavam dominó, brincavam de canastra e enquanto a dona Maria ia a feira o quarto virava uma obra de arte cantada em prosa e em versos pelos artistas e pela natureza do corpo, da mente e da alma.
Vinha almoço, entrava janta, merenda e a casa grande assustava na hora de limpar. Dona Maria ia por a mão na massa, seu irmão dizia:
- não mana! Que, que isso, agora não! Não se preocupe com a limpeza, não se preocupe com as panelas, depois a gente faz.
Os dias iam passando, a louça amontoando, a poeira tomando conta da casa, dona Maria sempre junto com o seu irmão conversando e bebendo a borda da piscina, enquanto dona Isabel, coitada limpando, passando, cortando... carregando sem parar a água do poço.
Vinha noite, entrava o dia, dona Maria ia a feira o quarto virava de cabeça para baixo.
Vinha almoço, entrava janta...
Dizia o senhor Claúdio:
Não mana!...Deixe essa louça ai, que depois a gente faz. Vamos deitar e descançar.E lá estava dona Isabel a lavar, passar, cozinhar.
Os dias se tornaram mais de uma semana e findando o mês o casal nessa rotina, enfim se despediu de dona Maria e voltaram à capital.
No terminal encontraram os amigos receptivos a perguntar como tinha sido a lua de mel numa casa de rico num lugar paradisíaco. Sem contextualizar a sua história, antes do senhor Claudio esboçar reação, dona Isabel disse:
- meus queridos amigo, me desculpem. Mas querido Claúdio amo você, mas quero o divorcio.
Sem entender a turma ficou atônita e Claudio quis saber o que se passara.
Olhado de lado, meio calada falou:
Esse amigo de vocês não quer uma mulher, quer uma escrava, quando estava ao lado da sua irmã, a beira da piscina, a beira da praia, na hora do almoço ou do jantar, mudava até o meu nome. Ela não fazia nada a não ser ir à feira. Era o melhor que sabia fazer. Pois toda hora, tudo o que tinha que fazer na casa “era a gente que faz” e quem fazia na verdade era eu. Por isso, meu caro senhor me dou a minha alforria.