E VIM ___E VI___VENCI. (UM CONTO DEDICADO AOS MILITARES )

Meu Pai foi Militar.

Sempre admirei o senso de dever que militares têm.

Pela política ___quando se torna arma de poder ___

nem sempre bem utilizado.

Mas o Mundo se faz de todos. E nele, o senso do de-

ver Militar : proteger e desenvolver as Comunidades.

Pacifista, antibelicista, nem por isso deixo de valorizar

o que acho de importante no Humano.

Alteridade : disco de Newton ao Inverso : multiplica

mais cores.

Por isso, esta tentativa de conto.

Na verdade ele busca ir um pouquinho mais além ,tam-

bém.

Falar da Linguagem (bem de nós todos ___ como a

Paz ) ___como uma coisa Viva!...

Jorge Sunny

EPÍGRAFE

Numa tribo da antiga região das Gálias,que resistiu

à dominação romana, havia curioso costume de inicia-

ção. Uma espécie de batimo ao revés. Os jovens deve-

riam ser aos poucos despidos de suas roupas e bens

mais valiosos___inclusive das palavras que mais apre-

ciavam ___ e ingressarem, em perfeito mutismo, na

choça central da aldeia. Os bens ficavam pertencendo

ao domínio público.

Esta cerimônia só poderia acontecer na lua nova,

antes do últimos resquício do inverno.Era uma cerimô-

nia acompanhada de todos os instrumentos musicais

da tribo, e não para o Mundo dos Mortos ___ para o

Mundo dos Vivos...

VIM.

Cheguei.

Há já um terço do caminho. Estas cultivadas planícies

cheias de pastos e remansos convidam a repousar pelo menos

por um meio dia. Não posso, no entanto; esperam a mensa-

gem. Muito cansado, não resisto ,porém.Daqui ___coloco meu

cavalo em abrigo,armo ,média ,a tenda e acendo um fogo, já,

já___sob luz do sol que se vai pôr posso ver as choças nos

campos da região. Trigais e centeios repousam. Vento passa

arregaçando caminhos. As espigas se movem, os grãos. Sete

dias em bom galope, acho esta elevação e descanso armas.

Breve espaço da noite. Armas que brilham com a múltipla luz

de estrelas, estendendo seu sopro esforço de "civilitas ", pe-

dras do nosso conduto, levando nosso merecido e eternizável

poder a muitas luas de muitas regiões...como o rio extenso e

caudaloso que reparte de suas águas e abole pedras e o le-

que abre de fronteiras.

Lutas e lutas. Selvagem era o chão das florestas

germânicas. Membro da Guarda Pessoal, tenente no lugar da

IV Legião ___Asas Honrosas de Águia ___guardo duas cicatri-

zes de quando na guarda mais ampla entestei o largo coman-

do contra Rústicus, filho de Pérgamus, o inteligente, o ardilo-

so bárbaro, grande tecelão de emboscadas, raposa escondi-

da das campinas ___ e que, a seu filho transmitiu seu gelado

ódio contra nós, romanos. Protegi César pessoalmente. Há la-

ços que só o sangue pode desfazer. Seu comentário foi envi-

ar-me posteriormente nesta utimada missão que não é sem

importância. Lamentei apenas a troca do teatro de opera-

ções. E agora estou aqui ___ este espaço de muitas belezas ,

numa pequena elevação ao abrigo das rochas.

Trouxe água.

Agora já faço uma "infusão";mais tarde como a sopa;

rabanetes e farturas e uma horta (ficava entre jardins ) requi-

sitadas como provisão dos camponeses desta CisGália. Segura

poderosamente em nossas mãos de eterno poder...

Olho meus anéis. São presentes.

Postado aqui poderei ter um bom sono. E amanhã re-

começo estrada.

Mas ___já caída a noite ___ me trazem uma mulher.

Souberam que um líder militar estava à região, noite de lua. E

que possuía autoridade. A faminta foi pega roubando. Não é

da região. Há um nojo coletivo. E pedem que faça justiça.

Vi muitos como ela; seus olhos também pedem.

Tem como que a poeira de todas as regiões.

Este mundo cíclico e as particularidades, as tragé-

dias regionais ___cataclismas, falta de autoridades que asse-

gurem um mínimo... o vento sopra um pó vermelho. Tento ser

duro.

Quando abre a boca, o corpo descarnado, comigo,

comigo mesmo me surpreendo : ela fala latim; um bom latim...

com naipes de palavras que minha mãe ___ Velha Antonina

___pronunciava.

Faço-os ver o valor de Roma.

Procuro dividir os produtos adquiridos pela força da

boa vontade, os camponeses, lá atrás, ofertaram ao Mensa-

geiro do General.

Partilho parte da sopa.

Dou o caso por encerrado.

Pela manhã a farão partir.

A lua vai desenhando uma eterna linguagem. Ela a-

paga todas as palavras e traz novas. Como nuvens prometi-

das que ___finalmente ___se condensam. Não é só bela a re-

gião ___ é sublime. Há pinheiros que falam uma fala harmoni-

osa ___ quisera ficar mais demoradamente e entender melhor

esta gente... mas, como o vento que cata e leva as folhas

das árvores, tenho de partir... Há uma linguagem porém e ela

me parece vir da terra___ coração pulsando esperança de vi-

da, de vida mais completa... Vem da terra, de seu fundo

mais precioso ___ como as minas de metal da cidade de Ar-

gentum. Vou deixar algum material ___ quem sabe aprovei-

tem ___ e... mais leve me torno...mais veloz... preciso che-

gar. Deixo a manta colorida que viu muitas regiões ___muito

da provisão conseguirei no caminho. Fico só com o que é pre-

cioso: só uma túnica sobressalente, um alforge e espada. A

estrada me chama com suas espirais colorida das curvas

flexíveis e antiserpentinas de um gato.

Tento me concentrar. Algo em mim permanece

alheio___como olho de criança bem nova ___ diante das

possibilidades. Mas a região ... ah! a região !... ela é como

uma grande boca aberta de gosto e variedade.É a cura dos

desertos. A mulher faltosa ___que pobre dela ! ___me deu

um anel de presente. Vou usá-lo. Junto-o aos que conside-

ro meus. Tem uma pedra ___ e seu valor é irisar-se em ou-

tras menores. Quase sem valor...Quase, quase vidor puro.

Mas a pedra é vermelha. E vermelho fala de coração !...

Deito-me, então, coberto pelos pios da noite, cla-

ros e misteriosos como as estrelas.

A mensagem será entregue.

VI.

De manhã , o sol abre veredas. Busco apressar-me.

São estas amplas regiões os longínquos ___ como um poço

de água a nos lembrar eterna a sede ___à luz, demais conhe-

cidos de todos que se interessam pelo território da Loba Cio-

sa. Tomei leite de ursa ___ assim disseram ___ queijo de ca-

bras das montanhas ciprestinas, mel de abelhonas veneno-

sas dos vales do Bravo Ribeirão. Forte, sempre me voltaram

as cores em seu vigor. Penso que conheço estes amplos.

Enquanto cavalgo vou a lembrar-me. Uma íbis pas-

sa, as abertas asas ___ é bom agouro. Já passei por aqui __

é região de muitas cascatas sinuosoas e de rios Amplos, del-

tas derramantes. Parece o meio do território romano em ex-

pansão.

Acelero bem o companheiro em nossa amizade. É

forte, crinas longas discursivamente entrelaçadas. Já vivo a

metade do caminho. Quando recebi o volume, recebi, tam-

bém as algumas cartas particulares ___ mas o rolo tem prio-

ridade. Sua abertura é pública___ sei ___ como os pastores

germânicos usam seus cajados para lutar ___e entre si luta-

rem ... e brincarem! Ele falaria de mudanças.

.

Já seis horas e não gosto do que encontro.

À saída da cidade ( uma cidade com muitos gatos __

imagem que sempre me persegue ) com o costume de sempre

voltar o rosto com intuitos de proteção, vejo ___ tereno incul-

to, dobra do caminho. Não pressinto bem. Lugar belo ?... belo

lugar para uma emboscada. Nem a lua que conhece a fala de

todas as outras terras brilha. Não, não, não... coço, seriamen-

te as sobrancehas. Não é Bom.

.

Não disse ?!... são quatro que me tentam imobilizar

e me cercam. Cicatrizes malfeitoras, viram-me à cidade, à ta-

verna, à procura de Vinho. Vinho e Água, Água e Vinho___

medicina para o estômago. Agora, aproveitam.

Tranças bárbras, fortes e rudes braços, material

de matar, afiado. Formam uma cruz; atacam. Me reviro. Se-

guro forte a mensagem. Amicus, tanto longe ___ me agacha-

ra para endireitar sandálias. E resisto.

Lanço um deles longe, ao outro firo nos pés ___

nada de me segurarem...penso. Levo vantagem à luta desi-

gual.

A noite se escreve feia.

Vou, porém, ganhando ___pedras rolam, poeira __

os gritos grunindo cacos. Xingo. A disciplina da coorte é nes-

ta hora proveitosa. Atabalhoados, brutos ___ e ___ minha

espada corta.

O tempo parece que me acompanha na luta. É

uma solidária escrita. E lanho entre a cicatrizes.

Tombo para o lado ___ barca nova à procura

de peixes.

Uma gota de involuntária lágrima me cai do olho

direito. Perto,bem, agora, eles. Quatro afiados cutelos. Terei

que forçar passagem.

Cercam-me... cercam-me... escapar consigo de

seus golpes. Antes que caia a mensagem deixo-me apunhalar.

O luar ilumina minha visão estratégica. Na força de um arco-í-

ris ainda contido. A lua aparece, iluminando como um bem ja-

mais perdido. Tudo dependo agora do valor pessoal. O luar

endireitando os rumos... o luar me ajuda. Preciso confiar na

couraça. Nada sinto. Desvencilho-me e consigo alcançar Ami-

cus, meu cavalo. "Vamos, valioso !..." Ele abana pelos, endi-

reita a crina ___ o pulo ___ e consigo.

Escuto que discutem lá atrás.

Não, não tenho tempo. Nuvens brancas no céu

são como toldos ___lá passam, médias,no céu. O azulado pe-

lo luar se faz mais azulado. É como se todas as palavras me

tivessem sumido.E sentisse, mas não tivesse as novas...

Ponho velocidade.

VENCI.

Parece que demorei uma eternidade !

Portas e se abrem. Atravesso os subúrbios. Ca-

sas familiares, vutos conhecidos. Ali, naquela casa nasceu

meu irmão. Não posso, contudo, parar. Parece que o tempo

cavalga comigo.

Em nossa casa de vila vivíamos cercados de

gatos. Era uma casa bonita no fim de uma estrada que se

desdobrava espirais. No lado do sol posto, montanhas colo-

ridas como pelos e uma grande sombra com sua árvore.

Meu salvo-conduto me conduz com mais

facilidade. Já me chega suor à face. E o cavalo se ressente

das estradas desdobradas ___ muitas, como um delírio de

formas, como o resgate do sentido maior das paisagens. A

água se espalha pelas faces.

Camponeses, aqui na cidade, de culturas vá-

rias provenientes dançam, as mãos dadas, o velho folclore

cantante ___ uma criança entre eles ___ isso basta pra que

pareçam novos. O Mundo sempre se renova. O Mundo é uma

nova linguagem trazida pelo Vento ! Minha antiga glória ( Há

vários tipos !...)

A velha couraça!... não a senti apodrecida.

Mas ajeito a capa tingidamente cônscio ___ são as cores de

honra da Legião ___ o acesso a Julius, Mensageiro Pessoal.

Abandonei quase tudo que me impedia. Foi

ficando pelo caminho. Ficaram no caminho : o peso das bo-

tas, mantas ___ alforges e partes da armadura ___ conse-

gui salvar o capacete ___ e mesmo o cavalo quase o estou

em seu pelo vermelho. Amicus, o cavalo, resfolega e gru-

nhe, firmando-se na terra, como se estivesse criando a lin-

guagem. O naipe de sombras do meio-dia nos veste. O sol

vai a pino... funda, a esperança de chegar. Gatos verme-

lhos indóceis no caminho. Afirmação de ser e uma individu-

alidade. Há uma fala que me fala. Quase desmaio, tudo me

fugindo. Mas vejo, melhor : sinto ___ não saberia dizer

completamente... Sinto Luz...

Acelero mais ainda o cavalo ___ abano o

vento ou ele me abana (?) ___ nervoso, não ... ___ indó-

cil ! : pedindo...pedindo...Passagem !

___ Ôu-êia !... ar__reda !...

Vou exclamando : Quase sem Voz !...

Capitães da Coorte, sempre de responsa-

bilidade redobrada, muito que viram e tiveram que agir,

me facilitam o que agora é passo febril de cavalo interva-

lado por golpes de galope, pouco faltante às janelas do

acesso ao Pórtico e ao Senado.

Goteja-me algo precioso.

Entrego a Mensagem e caio.

O sangue me sai em borbotões, agora,

que de vez, as mãos tocam a terra. Cheguei.

Jorge Sunny
Enviado por Jorge Sunny em 24/06/2011
Código do texto: T3054592