AINDA SOMOS SEIS MAS JÁ FOMOS FELIZES- Parte I - Cap. I
PARTE I
CAPÍTULO I
Introdução.
O tempo urgia.
Tinha pressa porque passava depressa e podia acontecer de não dar tempo.
O negócio era levantar cedo e começar logo a reinação.
E aí era um desparrame de imaginação de dar inveja.
Espiga de milho virava boneca ruiva, cabelo de fogo ao sol.
Chuchu virava boizinho, quatro gravetos finos enfiados no corpinho verde, enlameando-se nas águas barrentas de um açude feito de uma poçinha de lama no canto do jardim da mãe..
Latinha de "Marmelada Cica" era panelão de arroz doce, esse sendo de verdade, por que a mãe fazia fogãozinho de lenha no quintal e brincava de brincar com a gente.
O tempo corria ligeiro e a brincadeira agora era pique-esconde, pique-altura, pique-belisco, tudo que era pique, amarelinha, polícia e ladrão
- o Tarcísio já queria falar acertado, virava piada - "-vamos pegá-la ela!" - rouba bandeira, queimada, bambolê, bola de meia, bola de gude, tudo que era bola, pipa - o pai fez uma manivela profissional pro Tarcísio - o céu coalhadinho de cores, o vento dando néga nas rabiolas.
E a inocência, que ainda era criança, gritava bem alto quando passava um avião: "-Ô avião, joga um nenem pra mim!", ou ainda, quando via um urubu lá em cima, voando em câmera lenta: "-urubu, vai chover, bate as asas "pra mim" ver."
O dia estava começando a bocejar quando o pai chegava do trabalho, assobiava, acarinhava, achocolatava.
A mãe já juntava todos na bacia pro banho.
Aí era a janta...huumm...tempero da mãe...nunca mais!, e cama.
O sono vinha ligeiro, prazenteiro, necessário.
Pro outro dia faltava pouco, só uma noite, o que era uma noite?
Quando um novo raio de sol vinha acordar os companheiros, encontrava um olho fechado dormindo e o outro aberto, vigiando, que era pro tempo, matreiro, enganador, não passar sem avisar.
E aí era botar as coroas, vestir os mantos e sair reinando tudo de novo, que disso, a gente não se cansava.
Ê vidão de meu Deus!, "num caba" não!