Um silêncio às vezes diz tudo.
Um silêncio às vezes diz tudo, e com este clichê eu hei de coroar meu epitáfio, ou até mesmo uma história qualquer, algum dia ainda. Não necessariamente nessa ordem – ah, ou até pode ser sim, pois que Brás Cubas tá aí (ou aqui, ou lá, ou no dasein que o (re)parta) para não me deixar mentir (muito). E esse tal de Saramago (outro defunto dentre os meus prediletos), com seus paragrafinhos (ou, como diria uma rosa, seus saramagrafinhos), não sei por que me vem à mente quando olho para tudo isso e constato que os primeiros parágrafos de Todos os textos (ou nomes, como queiram), sem exceção – digo e tripito: sem exceção, sem exceção – são para nada. Que é o que fica sempre entre nós. Nem sempre em nós.
Mas, voltemos ao silêncio (e para isso ainda será necessária muita digitação ruidante): ela perguntou se ele a perdoava e ele nada respondeu. Está aí a célula dramática (maldita expressão literária que me atormenta desde os contatos ficcionais de segundo grau) deste conto, se quiserem mudar de assunto vão ali, ó, logo em cima, e minimizem ou fechem esta aba, tudo a seguir é mera continuação dos parques, sem pretensões maiores, registre-se isso frente ao tamanho dos parques. Ele nada disse.
Talvez, quiçá, porventura ela ainda nem tenha se dado ao trabalho, martírio, deleite, tempo de perceber esse silêncio sibilante (quase um silvo) nas entrelinhas dele. Fato é que ELE, ao receber comentários dela sobre e-mails trocados indiretamente e lembrar que não havia respondido ainda, parou tudo no tempo e no espaço e olhou para dentro de si: não a havia perdoado. Não a perdoei. Não a perdoei. Não a perdoo. Deveria perdoá-la? – repetia ele consigo mesmo, depois de um silêncio daqueles (ainda mais percebido) a cabeça vira mesmo a oficina do diabo, o tanque de afogar hereges, a cama de alquebrar insones, o forno de assar cucas. Tenham paciência, as irritantes repetições e parênteses e os trocadilhos infames são mais para esvaziar as mágoas que encher linguiça. (Aliás, coincidência ou não, os dois eram como irmãos, parentes, daí talvez os parênteses dramatinescos.) – e o protagonista aí, parado, diante dessa maldita aba de que vocês são testemunhas.
Ela não merece tanto – diz o rapaz em silêncio, achando que se referia à aba, pousa o coração doído levemente sobre a mesa e vai ao encontro das luzes esquecidas pela casa: precisa economizar energia.