Porto Seguro
Havia uma árvore naquela imensa planície. Uma árvore alta de copa avermelhada que cobria grande parte do lugar. Árvore com o tronco cortado. Colocava tanta força nas raízes para se manter em pé que, com o passar do tempo, suas raízes se tornaram as mais fortes.
À volta de tal árvore, haviam espelhos. Cada espelho com sua moldura, com sua singularidade, com seu reflexo distorcido. Eram fincados no solo e mantinham-se em pé, virados para a árvore.
Mais próximo à árvore estava o espelho de moldura natural. Moldura que havia sido tomada e reposta pelas raízes da grande árvore. Refletia uma grande árvore de folhas brancas e flores vermelhas. Grama alta, coberta pela neve que caía. Copa alta, que balançava com o vento. Uma linda árvore, o céu atrás da mesma era também em tons claros, esbranquiçados, e mesmo com a neve, havia Sol.
Um pouco mais distante, numa outra direção, estava um espelho de moldura de metal. Coberto até a metade com um pano negro. Refletia uma árvore de tronco cheio de marcas, pois tantos foram os que tentaram derrubá-la. Folhas tão verdes e flores tão vermelhas como não se vê mais nos dias de hoje. O céu atrás de tal árvore era em tons de vermelho, com o tempo sempre em tormentas e com Sol ao mesmo tempo.
Então havia um outro espelho, com uma moldura de madeira toda detalhada. Refletia uma árvore bem torneada, de tronco não muito espesso e com suas marcas escondidas por detrás da mesma. Em sua copa, as folhas verdes perdiam tom perto de suas flores roxas, mas podia-se ver o verdadeiro brilho das folhas se olhasse de perto. O céu se refletia em tons de verde, com Sol e sem nuvem alguma.
Mais atrás, e novamente em outra direção, um espelho que se moldava com flores. Uma pequena árvore, de copa grande e tronco fino, se refletia nele. As folhas bem verdes e com poucas flores. Dançava com o vento que batia levemente naquele final de tarde. O céu se revelava com tons de amarelo.
Ao fundo, dois espelhos próximos, mas ainda em distância diferente da grande árvore. O primeiro possuía uma moldura robusta e fina ao mesmo tempo. A sua árvore era de tronco alto, folhas grandes e flores azuis maiores ainda. Balançava de leve e era toda marcada de inscrições em seu tronco. No segundo espelho, com moldura feita de terra, havia uma árvore pequena que ficava numa colina. As folhas eram afiadas e as flores eram irregulares, algumas tão murchas e outras tão saudáveis! O tempo era irregular também, haviam fortes rajadas de vento seguidas por calmarias. Ambos os céus eram feitos em tons de azul e ambas as árvores estavam presas por uma corrente.
Por fim, o espelho mais distante. Permanecia a uma grande distância do último espelho. Porém, era o maior espelho. Moldura feita de raízes e de ouro. A árvore em seu reflexo era Uma árvore alta de copa avermelhada que cobria grande parte do lugar. Árvore com o tronco cortado. Colocava tanta força nas raízes para se manter em pé que, com o passar do tempo, suas raízes se tornaram as mais fortes.
A grande árvore, num determinado dia, começou a ceder com um outro corte que descobrira. Um corte enorme, tornando suas raízes insuficientes. Ela podia tentar sustentar-se, correndo o risco de despencar. Ela podia apoiar-se nos espelhos, correndo o risco de perder a força em suas raízes. Mas tinha medo. Não queria se apoiar, com medo de seu peso ser suficiente para quebrar os espelhos. Não queria perder sua força, pois então não poderia proteger os espelhos das fortes tormentas que enfrentava com sua copa de folhas avermelhadas.
Decidiu então, com um grande pesar, sustentar-se pelo tempo que conseguir. Suas raízes engrandeciam conforme ela caía e escolhia um lugar sem espelhos para se deitar.