Ganhar a luz

Então aconteceu assim: abriram a janela da vida e me disseram: "Sai, que já tempo!".

E eu, inundado pela luz, sentindo o gelo do ar rompendo meu corpo todo por dentro, nasci. Assim fez-se mais uma vida: a minha.

Fazia frio, meus olhos ardiam. Algo em mim estava incontrolável. Eu via minhas mãos, assustadas com o peso da gravidade, que buscavam alguma segurança acariciando a atmosfera nova ao redor.

Se adormecia, ficava seguro mais uma vez. Voltava ao meu mundo onde ainda havia silêncio, onde ainda havia o macio.

Mas quando despertava, lá estava eu naquele lugar tão frio, tão ruidoso. E aquela luz outra vez! Um banho de cores que meus olhos não podiam suportar!

Eu podia sentir meu corpo todo em atividade frenética. Eu tornei-me capaz de produzir sons que me assustavam! Mas era o único modo de sanar um incômodo que comecei a sentir dentro de mim, um vazio dolorido.

Tantas sensações e fluidos novos passeavam pelos meus muros, que eu antes conhecia tão bem!

Eu estava triste. Sentia sono, muito sono. Queria liberdade daquela chuva de luzes que inundavam os olhos.

Só gostava do timbre de vozes que eu já ouvia antes. Essas sim, essas sim... E do calor do corpo da terra que me fez brotar. Tão quentinho!

Mas todo resto doía. Já não sabia mais onde era meu começo, onde era meu fim.

Alessandra Martins
Enviado por Alessandra Martins em 28/11/2006
Reeditado em 03/12/2006
Código do texto: T304133
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