As visitas de minha tia

Gostava dela daquele jeito. Bonita mesmo. parecia uma rainha de tão linda. Ia la em casa uma vez nos mês levar uns trocados. Fazia isso desde que meu pai caiu na lapa do mundo e deixou a gente sozinho, e minha mãe era dava o jeito dela. Essa tia então fazia de provedora. Todo mês entrava em nossa casa na ponta dos dedos, cara de nojo, dava um envelope com o dinheiro, não sentava, não tomava água. Não aceitava nada. Brincava com a gente distante. Amando de longe. Dava sorriso e falava que a gente era

Coisa linda. Saia quase sem motivo. Ia embora. O dinheiro não era grande coisa. Comprava comida e o resto Minha mãe cuidava como sempre fez.

Uma coisa boa que ficava quando ela aparecia era o cheiro de perfume que a casa ficava. Enquanto conversava minha mãe coçava o queixo, constrangida com tanta finura naquela dona. Era nossa tia, mas nem sabia nada dela. Só sabia que tinha muitos vestidos, porque nunca repetia, e sabia do cheiro e da preocupação dela em na deixar a gente desamparado. Minha mãe ainda com a saudade dela, que não passava sem perguntar se teve noticia do traste do meu pai. Causava um desconforto, porque meu pai o povo dele era só anjo e não tinha nada de ruim nele. Ele foi embora porque era muito novo e precisava fazer mais coisas. Assim ela dizia tentando ser amorosa. De qualquer forma minha mãe escutava, e passava o resto do dia com a cara entojada, os olhos marejados, e limpando só as lagrimas, sem esfregar o olho, pra não parecer que estava chorando. A gente sabia e nem ligava mais. No começo sim, mas agora não. Sabia que depois ela ficava bem.

O problema é quando minha tia vem. Que ela lembra tudo de novo, e fica preocupada. E depois quando vai embora, de tanto relembrar as falas de minha tia, que lhe tira toda razão na forma de falar. De vez em quando ela soltava uma fala na cozinha: “não gosto desse povo”. A gente perguntava, mas ela nem respondia. Era coisa dela. De todo modo, não insistia e volta as minhs preocupações. Mas assim como eu, no começo ela se interessava quando minha tia vinha. Limpava toda a casa, e fazia comida melhor, mesmo sabendo que nunca aceitaria. Queria passar uma imagem de limpeza. Era estranha minha tia na nossa casa, porque o jeito dela ser e de falar, não parecia em nada que a gente tava acostumado. O povo daqui não tem essas coisas não. Foi com ela que vi vestidos bonitos e foi com ela que senti o primeiro cheiro de perfume. Que com o tempo ficou parecendo com ela. Ela ria de vez em quando. Os dente brancos tinha todos. Minha mãe não tinha, ria de volta cheia de vergonha, colocando a mão na boca. Olhava as duas bocas e via as diferenças. Até o pouco que minha mãe tinha era manchado de fumo, e minha minha tia toda bonita. Dava uma coisa na gente. Por dentro eu falo. Um medo de admitir aquilo, de aceitar tanto dente na boca dos outros. Aquela roupas bonita, que balançança só com poquinho de vento, de tão leve que era. Minha mãe olhava tão comprido pra ela, virava um pouco a cabeça, ficava sem ação não sabia muito o que falar. Dava uns silêncios que parecia que ia enterrar a gente. Ai o tempo dava uma quebrada e de táo sem norte, minha tia dizia que ia embora. Nunca sentou na nossa casa. Minha mãe dizia que ela queria ser boa. Também concordo, porque lembro muito bem da cara dela. dizia que só tomava água filtrada, la em casa era tudo de pote, até lodo no fundo tinha. Mas era tudo normal, matava a sede do mesmo jeito.

Depois de um tempo minha mãe já não oferecia nada. Se sentia sem educação. Sempre soube tratar uma visita. Com ela não. O jeito que tinha aprendido na vida, não servia naquela ocasião. O que deixava a gente assistindo um encontro de gente muito diferente. Dava pra ver na cara que uma não gostava da outra, que era dois mundo querendo nem sequer conhecer.

O que mais me incomodava era quando ela dizia que a gente era muito querido. Dava raiva e o estômago fazia barulho de azedo. Nunca levava pra passear. Tudo que havia era o envelope, que com o tempo, minha mae não abria mais. Coloca encima do guarda-roupa. Recebia e guardava. Não entendia porque. Minha não queria mais ajuda dela, que nem coração tinha, assim falava pra gente, que via como minha tia passou a ser maltratada.

Foi passando, se antes minha mãe fazia sala, nem da cozinha saia. Entrava, pegava o envelope e minha tia sem graça, de pé, tentava animar a gente com conversa vazia. Nunca dizia nada do resto da família. So falava pra gente estudar pra ter uma vida melhor. Só isso. uma vez ela foi em casa, do mesmo jeito, cheia de cheiro, minha mãe só abriu a janela, pegou o envelope e entrou. Aquele mulher bonita agora estava na rua. Olhando a gente lá de fora com toda sua beleza. Continuou a vir mais um pouco. Depois usou correio. E com o passar da vida, parou tudo. A gente cresceu acompanhados pelos envelopes, que o orgulho da minha mãe só abria, quando o estômago ficava mais importante que o seu carater.

Daquela mulher sobrou o imenso perfume que me aparece como um fantasma toda vez que me distraio. Num lugar cego de vida, aquela mulher grande com envelopes dizendo que a gente era querido. Isso era muito gentil da parte dela.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 17/06/2011
Código do texto: T3040786