MINHAS AMIGAS

-Minhas amigas, não tenham medo. Estou um pouco diferente de antes, não é? Mas, seja qual for esta diferença, eu estou consciente dela, acreditem. Lembram de quando eu as alimentava, pegava os seus ovos, limpava seus poleiros? Algumas de vocês foram para a nossa mesa, eu sei. Eu comi a carne delas. Mas nunca, de modo algum, eu toquei naquela... parte essencial que as definia, naquilo que as fazia sagradas. Amigas, assim aconteceu comigo. Vocês viram. Enquanto acontecia, eu vi os seus olhos. De certa maneira, vocês sabem o que eu sou. Ser ou não ser, aliás, não é a questão. Do que eu não sou eu tiro a minha força. E o que sou é nosso segredo. Não fiquem tristes. Não fiquem alegres. Esqueçam a identidade daquele que me... logo ele!...esqueçam!

Viram aquela chuva de estrelas que caía? Pois será meu novo nome- Bidinbel. Eu a vi entre lágrimas, foi como se eu chorasse, por mim, pelos meus desejos, pelo que eu conheci e pelo que eu não conheci, um punhado de jóias brilhantes.

Pois é para lá que eu vou. Lá no alto. Vocês habitam uma parte de mim tão antiga, agora... ouçam. Eu sou poderosa. Estou além de qualquer dor. De qualquer decadência. Não vejo os extremos, pois sou os extremos. Não fiquei mais inteligente nem sábia. Nem indiferente. Ninguém me deu este poder. Não tenham medo.

Vou lá para o céu. Tem um pontinho bem ali que me agrada muito- numa área escura da faixa leitosa.

Mas, antes, entendam, eu preciso fazer uma coisa.

(As galinhas olharam para Bidinbel com tristeza)

Eu sei que vocês entendem. Estarão sempre comigo.

...sabe, eu acho que já sabia que tudo isso ia acontecer.

Adeus.

Repentinamente, Bidinbel começou a flutuar. Jogou fora o lençol que a cobria, revelando um corpo vago mas cintilante, algo como uma chama inquieta, viva. Olhou para as galinhas, todas juntas e encolhidas num canto.

Uma pequena esfera luminosa se formou na cabeça de Bidinbel, e foi descendo, descendo, até desprender-se de seus pés e tocar o chão. Então, o galinheiro, a casa a aldeia, tudo em volta até o horizonte e além desapareceu do espaço, e até do tempo.

Enquanto isso, ela subia, rumo a...

(De A HISTÓRIA DE AGNES BIDINBEL, POR ENRIK D’AMOUR)

Filicio Albara
Enviado por Filicio Albara em 17/06/2011
Código do texto: T3040087
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.