I Wanna Be Adored - Parte IV
Acordei estralando tudo quanto era osso que formava as minhas costas. Tinha dormido com a janela aberta, e, porra, que vista linda eu tinha do quarto! Um infinito de mar e um céu azul livre de nuvens. Inspirador. Um “toc toc toc” logo atrás de mim e eu me viro e lá estava Alê, com uma maquiagem ousada, pouco carregada, mas, sei lá, estava bem feita e seja lá que tipo de efeito ela quis dar com aqueles pós e tintas, ela conseguiu: ficou impecável e irresistivelmente sedutora. Estava de biquíni. De zebra. Eu não conseguia acreditar no que via. Aquele quadril. Aqueles peitos. Aquela bunda. Toda aquela gostosura num corpo de um metro e sessenta e seis. Eu tinha impressão de que se jogasse uma caneta nela, ela (a caneta) entraria em órbita e ficaria girando em volta daquele corpo celeste. Aliás, naquele particular momento ele tinha mais do que um e sessenta e seis. Estava mais alta. Graças ao scarpin vermelho que parecia ter sido feito sob encomenda, tamanha harmonia com aquele par de panturrilhas e coxas e bunda. Fiquei catatônico. E de pau duro. Óbvio.
Ela queria me testar. Àquela altura do campeonato eu ficava me perguntando como uma mulher daquela se sujeita a se casar com um cara que provavelmente torce pro time de futebol mais modinha, ouve rebolation no carro com o braço esquerdo pra fora do vidro, só vai pra academia pra treinar peito e bíceps e ainda dá risada com as piadas do Chaves e/ou do Casseta e Planeta. Esse lance de ficar me perguntando essas coisas só fermentava o meu desejo por ela, que entrou de biquíni no meu quarto – no quarto deles – trotando em cima dum scarpin, deu uma desfilada e saiu marchando me olhando por cima do ombro e me deixando inerte novamente. Corri pro chuveiro e tomei um banho de água fria, ensaboando toda a minha desprezada ereção. Merda.
O Sábado foi tranqüilo – tranqüilo até demais. Almoçamos fora – com ela pagando tudo, claro – e eu tomei o cuidado de não comer essas porcarias de litoral que causam tenesmos ou a propriamente dita diarréia. Continuávamos simulando o casal apaixonado na primeira viagem juntos.
Gol do Robinho. E eu no 0x0.
Mas eu contando esse lance desta forma parece que eu só me interessava em foder. Não, eu me interessava por tudo, observava tudo, sugava tudo e aprendia de tudo. Ela era doutora, de fato, e me contava histórias e histórias do seu lindo trabalho. Contava o folclore daquela cidade litorânea, contava sobre os anos de USP, sobre como era difícil conseguir um final de semana de folga daqueles – inclusive longe do marido. Dele, ela falou bastante também. Começou como vendedor de automóveis e com uma lábia invencível e uma cabeça que pensava em números, logo foi galgando cargos e cargos dentro da rede de concessionárias até chegar à superintendência da empresa. Eu não duvidava e até admirei e estranhei a humildade dele(s) em morar(em) na região do posto em que eu labutava de sol a sol. “Mas eu não sei o que aconteceu com ele de uns tempos para cá. Se comporta como um moleque, chega bêbado em casa e quer ficar discutindo. Tem um ciúme doentio que nunca existiu e... Não me casei pra trair ou pra me separar, sabe, mas... Não sei, tem pelo menos três meses que ele não me toca, sabe?”.
Eu já tinha ouvido aquele discurso antes, inúmeras vezes. Mas não de forma tão sincera. Tínhamos ali os nossos momentos de namoradinhos, mas eu não havia tocado nela mais do que o suficiente para deixar claro que dali eu não passaria; talvez ela ainda estivesse incerta do que estava fazendo, se era justo passar o molóide lá pra trás ou não. Que diabo, o cara consegue ser superintendente no meio de um maldito nicho onde a pilantragem reina solta e laça o coração de uma mulher daquela e não consegue deixar a porra de um trabalhador em paz! Não dá pra entender. E essa incompreensão só aumentava meu tesão por ela e me deixava sem escrúpulos porque, porra, ela estava desabafando. Mas você era amigo ou psicólogo dela? Nem eu. O canalha que eu havia colocado pra hibernar acordou. E acordou com fome e sede de perigos e prazeres a todo custo.
16/11/2010