O dar de ombros...
Eu tenho tanta pena dele, que fica ali, na porta, esperando aquele que nunca chega, Sua inocência cega o impede de ver os fatos, as coisas como elas realmente são.
Mesmo no frio ele continua sentado à espera daquele homem.
- Vou comprar alguma coisa, quando voltar poderemos ir à praça, vou te ensinar a andar de bicicleta.
Após essas palavras, o dar de ombros. Inesquecivel. Ele foi. O menino esperou. Passaram-se horas, dias, semanas, e ele continuou a esperar, todos os dias, quando chegava da escola ele corria pra varanda, não queria saber de outra coisa, afinal, quando o pai chegasse ele iria tirar a bicicleta nova da garagem.
Ele nunca se deu conta dos gritos, das brigas, das discussões, do tapa, da porta, e era melhor assim, mas nem isso, esse menino, impediu o rompimento daquela familia em ruínas.
Era melhor que ele fosse pra varanda à espera do homem, pois não devia ser fácil conviver com a loucura e o desespero daquela mulher, morta ainda em vida, como ela ia fazer daqui pra frente? Ainda mais sozinha? Seu único alívio era esse, o menino que agia como se nada tivesse acontecido, que não entendia, ela não podia desistir e deixá-lo só, sabia disso, mas mesmo assim o fez.