VENDENDO FELICIDADE
Vendendo felicidade
Maria Luiza Bonini
Cansada de ouvir e ver pessoas lastimando-se da vida, reclamando de tudo e de todos, maldizendo o dia em que nasceram, dizendo-se infelizes, magoadas e sempre tristonhas, Dona Nicinha resolve pesquisar, na tentativa de descobrir a origem deste sentimento que toma conta da população do bairro onde mora, indo em busca de uma solução que faça com que as pessoas se tornem mais felizes.
Com a sabedoria de seus oitenta anos bem vividos, lúcida e surpreendentemente ágil na sua capacidade de raciocinar, embora limitada em sua capacidade locomotora, a doce anciã desperta o carinho e admiração de todos que a cercam, espalhando alegria e carisma por onde passa.
Todavia, pensava, algo precisa ser feito. As pessoas precisam descobrir a forma de ser feliz.
Não é bom desperdiçarem seu tempo, sua vida, curtindo sofrimento e pesar.
Eis que, como fazia todas as manhãs, nossa querida Nicinha, sai para seu passeio matinal. Andando devagar, com auxílio de sua linda bengala, da qual fazia objeto de charme, com sua nata elegância, seu sorriso e sua alegria contagiante, lá vai dizendo efusivos "Bom Dia", a todos que encontra.
Uns respondem, outros só murmuram uma resposta indefinida... Outros, ainda, fingem que não ouvem.
Mesmo assim, dona Nicinha continua sua caminhada. Nesta manhã o seu otimismo a faz sentir que o universo conspira a favor. Firme em seu propósito, diz para si mesma:-
_ Hoje vou descobrir a forma de ensinar a essa gente o segredo de ser feliz.
Caminhando, sorrindo e dizendo " olá ", lá vai dona Nicinha, toda faceira, contaminando a todos com sua alegria de viver, quaNdo depara com uma novidade que lhe chama a atenção. Uma barraquinha de camelô surgia na praça e lá, com os dizeres:- !"Compre aqui tudo o que quiser". Frase que provoca em nossa amiguinha, a grande idéia.
Não houve dúvida! Foi lá mesmo que ela parou e ao vendedor indagou :
-É tudo, mesmo, que aqui se vende?
-Sim, responde o interlocutor... Aqui temos de um tudo.
- Ouça, diz Dona Nicinha, o que gostaria de comprar não se encontra à venda. Acho difícil que tenha para oferecer.
- Diga o que compraria, caso eu tenha, venderia, diz o vendedor.
- Procuro comprar felicidade, para aos meus amigos distribuir...
- Felicidade? Claro que tenho, boa amiga... Tenho para dar e vender...
- Pois me diga de que forma posso adquirir.
- É fácil minha boa amiga, tenho aqui acondicionados em vidrinhos coloridos.
- Trata-se de um poderoso elixir.
( Nicinha dava corda, para ver até onde ia a criatividade do vendedor.)
- E como faço para poder distribuir?
- É fácil, amiga, simplesmente diga, que a felicidade está neste elixir.
Dona Nicinha, muito inteligente, parou e pensou...
"Acho que encontrei a solução, na astúcia e na fantasia desse simples vendedor".
- Obrigada meu amigo, hoje não levo. Fica para outra vez.
Em sua mente o problema estava resolvido. Volta às pressas para casa, toda feliz...
"Encontrei a solução para distribuir a felicidade a quem não a tem. Está no imaginário de quem acredita".
Rapidamente, coloca seu avental e vai para o fogão.
Inventa na hora uma receita... E produz o seu elixir. Com muito açúcar, água e folha de louro surgia a milagrosa poção. Resolve anunciar a sua fantástica descoberta. Convida a todos para participarem de sua festa, onde pretende distribuir , o tal elixir.
Todos comparecem, acreditando que, por ser ela, uma pessoa tão feliz, poderia ensina-los a compartilhar de uma felicidade que ela, com sua conduta de vida , provava existir.
E foi aí, entre uma conversa e outra que Dona Nicinha distribui felicidade em forma de elixir...
Depois daquele dia, todos que tomaram de sua poção milagrosa, passaram a viver como dona Nicinha. Sempre alegres, acolhedores e ao pronunciarem um "bom dia", passaram a acreditar no que diziam.
Gratos, todos querem saber o preço do elixir da felicidade.
Muito honestos, querem pagar à Dona Nicinha.
Ao ser perguntada, ela responde:
Felicidade não se vende... Ela não tem preço... Felicidade não se compra... Foram vocês que a conquistaram... E dela irão, daqui pra frente, usufruir. Encontraram a maneira de ser feliz. E, por oportuno, lhes confesso, a sua felicidade não estava no elixir... Estava sim, acuada dentro de vocês, doidinha para poder sair...