ZÉ DO ACASO- O EMISSÁRIO

     Recebi no início desta semana, um email do Paulo, um amigo virtual , e que falava sobre certas casualidades, nada casuais. Enquanto lia, vinha à minha mente, as imagens do garoto que, sentindo-se só, numa cidade estranha e morando numa peça pequena, de um prédio em condições precárias e que servia durante o dia como oficina de chaves -oficina cujo chaveiro era seu primo- e a noite transformava-se numa casa de jogos carteados e bar noturno na parte térrea. Primo que havia conhecido no dia da morte de sua saudosa mãe, e que, por saber da condição de miserabilidade que vivia, o havia convidado a ir morar consigo e sua família, na capital dos Pampas: Porto Alegre.
   Enquanto as imagens iam passando, uma por uma -como se fossem de um filme Hollywoodiano- com total nitidez, selecionava as mais fortes, e nelas revia: a cama feita de jornais, o bonde com seu barulho estridente de frenagens, o casaco que lhe servia de cobertor e a fresta no assoalho de madeira, por onde podia ver as horas do relógio na parede do bar, e que ficava a poucos metros de sua cabeceira -feita também de jornais- .
 A dor da ausência e o sentimento de solidão, com a perda da mulher, mais marcante de sua existência e o curto espaço, de um tempo, que somou por apenas dezenove anos , num reino onde era príncipe e a suprema majestade.
  Todas essas imagens foram reunidas e arquivadas, para que ficassem a disposição do artista, num patamar brilhante e forjado em ouro puro pela divindade. A primeira imagem era a de Maria; a mãe que lhe proporcionara a vinda. A segunda, daquele garoto, sem as duas pernas, mas jogando futebol, no meio de outros garotos,por ser a lembrança do seu renascimento; a sua volta ao convívio dos semelhantes; a sua dose certa de vitaminas e do soro chamado: vida!
     Sentia ainda o gosto das lagrimas teimosas que, naquele dia inesquecível  escorreram e caíram à sua boca, e foram sorvidas por sua língua,seca e ávida pela angustia do momento vivido . Há poucos instantes antes, pensava na desistência, na covardia do suicídio, no termino de tudo e agora via aquele jovem: O Zé! O emissário do acaso. O alento que precisava para reerguer-se e que estava ali: Meio-homem, na matéria, homem inteiro, na alma. Hoje, aos 62 anos , enquanto olha para os netos e recebe a noticia da vinda do primeiro bisneto, escreve esta parte de sua história de vida e  agradece ao Criador , por sabê-Lo ser o mandatário daquele emissário a quem chamou de : “ Zé do Acaso”.
PS. Estas imagens me acompanham, e irão acompanhar, por toda minha existência, pois sou eu, aquele jovem despedaçado espiritualmente, mas que renasceu, ao ver uma alma inteira, num corpo despedaçado. Agradeço ao Criador, todos os dias, por ter recebido essa lição: O acaso não existe. Tudo se encaixa milimetricamente no Universo e nas nossas “privilegiadas vidas”! 
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 28/05/2011
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