A CHOUPANA

Lá para os meios das terras sem dono, uma choupana chora em silêncio. Lamentos cantados em alto tom, são ouvidos por todas as partes. Frequência choupanar.

Margaridas, copos de leite, dentes de leão. Cercam o chão; trepadeiras e espécies similares, cobrem seu corpo choupanar. Camadas de poeira e folhas pesam em seu frágil teto. Deleita de sua tristeza solitária à sombra de uma frondosa árvore de idade, que pelo seu majestoso tronco revela, mais de 150 anos.

Dia calmo. Céu azul. Um pássaro voa por perto. Choupana feliz ao sentir vida do ar. Pois há muitos anos, tudo que era vivo, ali, deixou de existir.

“Ora, que vida é a minha! Não sei o que são horas, não sei o que são dias, desde que aqui tudo deixou de existir.”

O pássaro some no ar: que pena, Choupana. Ninguém para conversar...

Silêncio! Um pássaro cai morto no chão.

Sangra o coitado junto às flores aos pés da Choupana.

Banhado pelas gotas salgadas que caem em suas feridas abertas, são as lágrimas de uma choupana que vive o momento da perda do único ser que poderia ser seu amigo.

Cai a noite fria. Céu iluminado por corpos brilhantes. Mas nem isso Choupana podia admirar. Sua visão era frontal. Não tinha movimentos. Via a sua frente paisagem morta e nada mais.

Guardava dentro de si lembranças, das quais a mais agradável: um porta retrato. Uma foto já envelhecida com o tempo, mas nítida e clara. Era Choupana, sua velha dona ao lado da arvore, onde na fotografia, aconselha-se que acabara de a plantar e seu velho dono, mais ao lado, apóia seu peso na porta de madeira de choupana, entalhada por suas próprias mãos. Única lembrança que tinha. Essa fotografia.

Uma tempestade. Água por todas as partes, como nunca se viu por ali.

Teto debilitado, choupana se enche de água. Alaga-se. Com a água que escorre de dentro, sai com o leve movimento da água o porta retrato de suas lembranças. Chora Choupana. Tristeza apossa-se de si. A água continua a escorrer de seu interior. Outro porta retrato. Uma foto que ate o momento, jamais a tinha visto, ou, uma lembrança esquecida ou que se fez esquecer?

Eis o retrato: a árvore que sua velha dona plantara, já com quase meio metro, seus donos do lado oposto olhando a demolição de sua choupana.

Silêncio.

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 25/05/2011
Reeditado em 12/09/2012
Código do texto: T2993182
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