A Literatura dos Tele TÃ Biês

"Era uma vez um planetinha distante, chamado Terra do Lugar Comum, habitado, em sua esmagadora maioria, por seres portando cérebros com metade da capacidade normal de funcionamento e com freqüentadores de outros - e misteriosos - planetas que vinham dar o ar da graça de vez em quando.

O sol surge atrás das verdejantes colinas da Terra do Lugar Comum e vai, vagarosamente, ganhando altura. Não é um sol comum, apenas uma bola cheia de explosões que ilumina e aquece: é o sol da Terra do Lugar Comum. Há um rostinho bonito ilustrando o sol que parece miragem, mas não é. É o rostinho de um bebê. NHOIM, COISA NINDA DJI MAMAIN!

Sobe, brotando do gramadinho fofo, um cano com um catavento todo colorido pendurado: é o despertador dos Escritores da Terra do Lugar Comum. Eles saem do buraco que têm como casa, um a um.

Os habitantes/escritores que descreverei abaixo são moradores do Recanto dos Tele TÃ Biês.

O escritor um, Think Weak, tem a coloração purpúrea. Ele adora frases de efeito que incentivam o dia de seus amiguinhos que possuem menos capacidade mental que ele próprio - o que garante que seu ego insufle um pouquinho.

O escritor dois, Free Shit, é verdinho... Apesar da cor, recrimina aquela drogazinha que remete à ela - apesar de, na maioria das vezes, deixar-se levar pelos deletérios de suas inspirações e escrever como alguém que desde a Santa Ceia vem fumando a erva e perdendo mais e mais neurônios. Justiça seja feita, o resultado prático de suas palavras não poderia ser outro: a incrível verossimilhança com nada mais nada menos do que puro estrume.

O sol sorri: MIMIMIMIMIMIMIMIMI!

O escritor três, Blablá, é amarelo - por isso o sol sorri quando ele aparece. Blablá e o nenezinho do sol se dão bem porque rola empatia, já que a idade mental de ambos é a mesma. Blablá gosta de escrever repetidamente uma única coisa: seu nome. Sua última produção textual foi essa: "Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá, Blablá". Lindo, né?

SERÁ QUE É A HORA DE DAR TCHAU?

O escritor quatro, Pitiful, adora sua cor vermelha! Segundo a lenda mais antiga da Terra do Lugar Comum, vermelho é a cor do Amor. Pelo que consta nas Escrituras Sagradas - escalavradas no Monte Pau Nocu Zismo - o Amor é uma coisa que foi trazida por alienígenas; abriram-se portais diante dos olhos dos primitivos da Terra do Lugar Comum e o que eles viram foi o pó vermelho saindo de lá aos borrifos. Consta, ainda, que todos se abraçaram e viveram felizes por milhares de Anos-Cus, até serem dizimados por uma peste denominada Reali Dade que conspurcou os mais puros, jogou os pouco-impuros na fogueira e tudo o mais. As gerações seguintes nunca viram o tal do Amor, porém acreditam piamente nele e em seus poderes. Fazem até reproduções de sua imagem, vendem amuletinhos e constróem templos para idolatrá-lo. Não, o sol não chegou a testemunhar tais lendas. Esqueceu que ele é um bebê? Pitiful gosta de escrever sobre o Amor; gosta de distribuir 'beijos de luz', 'abraços poéticos' e de se despedir de seus amiguinhos escritores do Recanto dos Tele TÃ Biês com 'Fique com o Amor' ou então 'Que o Amor o abençoe'.

Mas, em um dia comum na Terra do Lugar Comum, algo começou a acontecer: o bebê-sol fez uma cara de choro e não tardou a cair em lágrimas, o que fez com que seu brilho ficasse ofuscado. Todos ficaram alarmados.

'O que será que está acontecendo?', todos se perguntavam ao mesmo tempo, sem ninguém parar e pensar - eles realmente não tinham o hábito de pensar, uma maldita lástima que incrivelmente facilitava suas vidas: ganhavam bastante números de leituras em seus espaços cibernéticos de publicação de textos e tudo o mais - em uma resposta para a solução dos problemas.

'Vocês são feios e me enganaram', falou o bebê para Think Weak, Free Shit, Blablá e Pitiful.

'Por que, ó, Bebê-sol?', perguntaram os quatro, em uníssono.

'Vocês deturpam a nossa Língua, só pensam em torradinha gostosa e creminho gostoso e se esquecem de que é feio publicar em rede mundial o quão ocas suas cabeças são', disse o Solzinho, visivelmente chateado.

Sua luz iluminava parcamente as Colinas Verdejantes do Senso Comum. Após longo silêncio, Bebê-sol se recompôs e tornou a falar.

'Vocês são uns filhos-da-puta, sabia? Quase morro de vergonha alheia toda vez que vejo vocês se intitulando poetas sendo umas verdadeiras antas que se acham sensíveis se não têm nem a capacidade de respeitar a ferramenta que capacita seus autoproclamados dons; ferramenta esta tão bonita e simples de se usar! Caramba, tantos corretores ortográficos, tantos livros... Que poeta de alma sensível que se preze não se atenta a isto, Amor? Casa de ferreiro espeto de pau, é isso mesmo?'

Os quatro escritores ficaram calados. Onde estaria o Amor, para que eles pudessem delatar as ofensas do Bebê-sol? Oras, que ultraje!

'Deixarei de iluminar vocês, suas amebas', disse o Bebê-sol, colocando o cano de uma arma na cabeça e puxando o gatilho.

Todos morreram. A Terra do Lugar Comum morreu. O Recanto dos Tele TÃ Biês foi definitivamente apagado do mapa..."

BRIIIIIIIIIIINKS!

Think Weak acorda suado, assustado. Fora apenas um pesadelo de mau-gosto pregado pela sua mente insegura. Oras, imagina, um "Bebê-sol" falante! Onde já se viu?

Abriu as janelas do seu quartinho, coçou o fiofó e tomou um gole de creminho gostoso.

Em seus respectivos quartos, Free Shit, Blablá e Pitiful fizeram a mesma coisa - eles sempre fazem a mesma coisa, os jumentos (com todo respeito ao animalzinho).

Todos suspiraram aliviados.

O Recanto dos Tele TÃ Biês continuava são e salvo, assim como sua literatura; a Literatura dos Tele TÃ Biês.

Fim.

Nota e dica: Excetuando o TÃ Biê "Blablá", o nome dos demais pode ser traduzido.

25/05/2011 - 01h20m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 25/05/2011
Reeditado em 26/05/2011
Código do texto: T2991593
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