Em sonho o santo ouviu.

EM SONHO O SANTO OUVIU.

Conto de Honorato Ribeiro.

A mata do nosso imenso Brasil vivia tranquilamente, antes que o homem branco aqui pisasse. Para plantação, abrir estradas, construir cidades, começaram a derribar as árvores. Depois veio o fogão a lenha, a “Maria Fumaça”, as caldeiras a vapor, as siderúrgicas, os móveis... E as matas foram sendo destruídas, na política econômica.

Muitos pensam que os animais e as árvores não se comunicam entre si. Enganam-se, pois as árvores, no silêncio da noite, e no barulho do dia, elas se comunicam umas com as outras. Os santos percebem isso.

Uma bela noite fria e de céu estrelado e lua clara um santo deitou-se para dormir ao pé de um juazeiro e em sua visão ouviu o diálogo do juazeiro com a barriguda, que eram vizinhos um do outro. Começou o diálogo pelo juazeiro que disse:

-“Essa noite, não dormi, barriguda, ouvindo o barulho de motosserra destruindo e matando nossas irmãs árvores”.

-“Eu não. Dormir tranquilamente, embora ouvisse o barulho da motosserra e escutasse o tombo das árvores”.

-“Você tem toda razão, barriguda, pois não serve para carvão. Agora, eu não. Sou prato predileto para a motosserra. Por isso não dormi sabendo que minhas irmãs estavam sendo assassinadas pelos homens feras. Eles preferem derribar as árvores mais velhas e maiores. O que eu tenho medo é exatamente isso: Sou enorme, velha e sirvo para ser queimada nos fornos e transformada em carvão”.

-“Então eu tive sorte de nascer barriguda. Eu cresço exageradamente, mas não sirvo para ser queimada nos fornos. Entretanto, houve muitas barrigudas que foram derribadas para abrir estradas; mas foram poucas. Mas como o ser humano não se conscientizou a preservação da natureza, não estou também isenta de um dia alguém me derribar”.

O santo ouviu todo o diálogo, assustou-se, levantou-se e disse consigo mesmo: “O homem desumanizou-se, delatou de sua mente a sabedoria recebida do criador. Por isso ele não percebe o crime que está cometendo com a humanidade. Ficou cego, surdo e louco. Sua insensatez é muito grande e consciente de que está cometendo um grande crime ecológico. A violência está dentro de si mesmo e ele não percebe. A vida não é vivida harmoniosamente; é dividida em classe política e social e corre dia e noite para fugir da solidão e ninguém tem paz. Tudo está dentro da sua consciência e ele não percebe e busca fora de si a paz e a tranqüilidade. Virou um simples apedeuta e não consegue viver de outra maneira a não ser depredando a natureza.

hagaribeiro.

Zé de Patrício
Enviado por Zé de Patrício em 20/05/2011
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