CASAMENTO POR PROCURAÇÃO - 3ª PARTE
Já lá vai uma semana e ainda não chegou o Sr Padre com notícias. Esta semana ele não veio celebrar a Missa cá. Às vezes não vem. Há poucos Padres e eles têm de dar assistência a muitas Freguesias.
Tive muita vontade de fazer perguntas sobre este assunto mas não quero alertar ninguém. Nem à senhora professora falei. Vou ter calma e esperar por domingo.
.......
O Sr Padre disse que há um rapaz em Angola que quer casar por procuração. Entendo que é um casamento. Ele quer casar comigo? Pois se nem nos conhecemos... Por procuração, disse ele; isso é que eu não percebo mesmo, nunca tinha ouvido falar.
Neste momento fala-se muito em Angola. Que começou por lá uma guerra contra guerrilheiros a que lhes chamam terroristas e há tropas de cá a irem para lá combater. Na fonte ouvi dizer que um dos rapazes que foi e que é daqui perto, foi ferido e está no Hospital Militar em Luanda e que outros morreram.
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Falei com o Sr Padre mas ele ainda não recebeu qualquer resposta. Há que esperar com paciência. Nem sei se haverá alguma que esteja disposta a arriscar um casamento com um desconhecido e ainda por cima, de tão longe.
Andei a ver de casas porque a que onde eu vivo não tem condições. Não há muito por onde escolher. Uma delas já é velhota mas com uns pequenos arranjos e uma caiadela deve ficar bonita. Tem casa de banho com chuveiro de balde no teto e há uma fossa séptica, o que é bastante bom. A cozinha tem fogão a lenha bastante bom e com caldeira e tem também uma bomba manual para puxar a água do poço, o que facilita as lavagens de roupa e de loiça. A casa tem um jardim muito bonito e um grande quintal com capoeiras e lugar para uma pequena horta.
A renda não é má. A casa pertence a um colega meu aqui da Fábrica. Herdou-a dos pais, que vieram para Angola logo que se casaram.
Não nego que ando nervoso com esta espera.
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O Sr Padre já chegou e disse-me que fosse ter com ele à sacristia depois da Missa...
.........
O Sr Padre explicou então o que se passa:
Há um homem novo, quase um rapaz, de 25 anos e que vive numa pequena povoação (como ele chama a essa aldeia) em Angola e que quer casar com uma rapariga que seja trabalhadora e humilde de uma aldeia da Metrópole. Ele não pode cá vir e escolher e então pediu ao Padre lá da terra dele a ver se sabia de alguém que estivesse disposta a arriscar.
Explicou o Sr Padre que o casamento se faz com uma pessoa no lugar do noivo que tem autorização (procuração) para assinar os papeis todos. Depois é só ir ter com ele onde ele estiver. Parece fácil.
Disse-me o Sr Padre que se eu aceitasse conhecê-lo podia mandar uma fotografia minha e que ele mandava uma dele. O Sr Padre disse que me levava a Vila Real para eu tirar uma num fotógrafo. Estou tentada a aceitar para ver como é. Para isso tenho de falar com o meu pai para ele me deixar ir ao fotógrafo.
Não sei se vou ficar bem. Pelo que diz o meu pai (e a minha mãe não diz que não) sou feia. Sou loira de pele branca mas agora tisnada pelo sol. O cabelo é muito grifo e uso-o em tranças enroladas à volta da cabeça para os caracóis não me atrapalharem nos trabalhos. Tenho as mãos e os pés grossos e com calos por causa desses trabalhos com os animais e os campos... Mas sei que sou boa pessoa...
Já disse ao Sr Padre que aceito tirar a fotografia mesmo que o meu pai não deixe...
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Recebi novidades! Há uma rapariga que diz que vai arriscar mandar uma fotografia. Vou ter de tirar também uma e entregar ao Sr Padre para ele a mandar. Espero que ela não se assuste comigo. Sei que não sou bonito. Sou moreno, alto e muito magro. Mas sei que sou boa pessoa...
Beijinhos
Já lá vai uma semana e ainda não chegou o Sr Padre com notícias. Esta semana ele não veio celebrar a Missa cá. Às vezes não vem. Há poucos Padres e eles têm de dar assistência a muitas Freguesias.
Tive muita vontade de fazer perguntas sobre este assunto mas não quero alertar ninguém. Nem à senhora professora falei. Vou ter calma e esperar por domingo.
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O Sr Padre disse que há um rapaz em Angola que quer casar por procuração. Entendo que é um casamento. Ele quer casar comigo? Pois se nem nos conhecemos... Por procuração, disse ele; isso é que eu não percebo mesmo, nunca tinha ouvido falar.
Neste momento fala-se muito em Angola. Que começou por lá uma guerra contra guerrilheiros a que lhes chamam terroristas e há tropas de cá a irem para lá combater. Na fonte ouvi dizer que um dos rapazes que foi e que é daqui perto, foi ferido e está no Hospital Militar em Luanda e que outros morreram.
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Falei com o Sr Padre mas ele ainda não recebeu qualquer resposta. Há que esperar com paciência. Nem sei se haverá alguma que esteja disposta a arriscar um casamento com um desconhecido e ainda por cima, de tão longe.
Andei a ver de casas porque a que onde eu vivo não tem condições. Não há muito por onde escolher. Uma delas já é velhota mas com uns pequenos arranjos e uma caiadela deve ficar bonita. Tem casa de banho com chuveiro de balde no teto e há uma fossa séptica, o que é bastante bom. A cozinha tem fogão a lenha bastante bom e com caldeira e tem também uma bomba manual para puxar a água do poço, o que facilita as lavagens de roupa e de loiça. A casa tem um jardim muito bonito e um grande quintal com capoeiras e lugar para uma pequena horta.
A renda não é má. A casa pertence a um colega meu aqui da Fábrica. Herdou-a dos pais, que vieram para Angola logo que se casaram.
Não nego que ando nervoso com esta espera.
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O Sr Padre já chegou e disse-me que fosse ter com ele à sacristia depois da Missa...
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O Sr Padre explicou então o que se passa:
Há um homem novo, quase um rapaz, de 25 anos e que vive numa pequena povoação (como ele chama a essa aldeia) em Angola e que quer casar com uma rapariga que seja trabalhadora e humilde de uma aldeia da Metrópole. Ele não pode cá vir e escolher e então pediu ao Padre lá da terra dele a ver se sabia de alguém que estivesse disposta a arriscar.
Explicou o Sr Padre que o casamento se faz com uma pessoa no lugar do noivo que tem autorização (procuração) para assinar os papeis todos. Depois é só ir ter com ele onde ele estiver. Parece fácil.
Disse-me o Sr Padre que se eu aceitasse conhecê-lo podia mandar uma fotografia minha e que ele mandava uma dele. O Sr Padre disse que me levava a Vila Real para eu tirar uma num fotógrafo. Estou tentada a aceitar para ver como é. Para isso tenho de falar com o meu pai para ele me deixar ir ao fotógrafo.
Não sei se vou ficar bem. Pelo que diz o meu pai (e a minha mãe não diz que não) sou feia. Sou loira de pele branca mas agora tisnada pelo sol. O cabelo é muito grifo e uso-o em tranças enroladas à volta da cabeça para os caracóis não me atrapalharem nos trabalhos. Tenho as mãos e os pés grossos e com calos por causa desses trabalhos com os animais e os campos... Mas sei que sou boa pessoa...
Já disse ao Sr Padre que aceito tirar a fotografia mesmo que o meu pai não deixe...
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Recebi novidades! Há uma rapariga que diz que vai arriscar mandar uma fotografia. Vou ter de tirar também uma e entregar ao Sr Padre para ele a mandar. Espero que ela não se assuste comigo. Sei que não sou bonito. Sou moreno, alto e muito magro. Mas sei que sou boa pessoa...
Beijinhos