UMA GAROTA DE PROGRAMA E UM CORONEL DO SERTÃO ( para o dia dos namorados)

( UMA FICÇÃO QUE PODE SER VEROSSÍMEL)

A tarde parecia ser uma das piores tardes na vida do Coronel Rosinha! Nunca em todos os seus noventa e quatro anos de idade, ele pensara que passaria pelo pior momento, momento este que não desejaria para o seu maior inimigo, caso existisse. O sol brilhava intensamente e o céu estava com poucas nuvens esbranquiçadas.

Nas árvores os pássaros cantavam como se nada de anormal estivesse acontecendo em frente à casa do Coronel. Com o olhar perdido sobre o horizonte ferido pelas paisagens das serras que pareciam emoldurar o quadro, o Coronel Rosinha, de vez em quando enxugava uma lágrima dos olhos, dava um suspiro, uma sacudida na rede onde estava prostrado utilizando-se dos pés calçados com botas de couro pintadas de amarelo, presente dado por um dos netos por ocasião do ultimo aniversário.

Às vezes o coronel Rosinha recebia um abraço apertado de um grande amigo! Às vezes recebia um beijo de uma neta! À vezes era um morador da então pacata cidade do Descoberto no sertão da Bahia, que dava – lhe uma palavra de consolo ou de conforto. Nada disto parecia alegrar o coronel. Ele sabia de antemão que a hora mais cruciante estava quase chegando e que a vida dele deveria continuar até o fim, afinal de contas ainda tinha os filhos, os netos, os bisnetos, os amigos, os admiradores e os empregados da fazenda.

Do lado de fora da casa, que já estava apinhada de gente, uma multidão tomava cada vez mais as proximidades, querendo de qualquer jeito dar as últimas palavras de consolo para o coronel Rosinha.

Na frente, nos fundos, nas estradas e em todo o entorno. Na cidade do Descoberto, onde tudo era pacato, parecia que o mundo em derredor resolveu desaguar em toda a cidade, formando assim uma preamar itinerante de pessoas de todas as partes do Brasil.

Políticos, parentes, amigos, trabalhadores rurais e admiradores do coronel, chegavam a cidade a cada minuto que se passava para participarem do último momento de um grande acontecimento que ocorreu na região da pequena cidade do Descoberto e que mudaria de vez a vida do lugar e de toda a família do coronel.

Tudo havia começado há trinta e quatro anos. O coronel Antonio Rosinha das Flores, era conhecido como Coronel Rosinha. No dia em que completou sessenta anos, já com os filhos e netos, empregados e parentes bem encaminhados na vida, resolveu fazer as partilhas da herança para todos eles, ficando ainda com uma grande parte da riqueza para viver bem até os últimos dias da sua ,ou até a data que Deus lhe concedesse continuar no mundo dos vivos, resolveu dar um novo rumo na sua vida com mais emoção, com mais adrenalina do que a simplicidade do dia a dia em que havia vivido até completar sessenta anos. Não é que ele nunca tenha vivido grandes emoções. Durante toda a sua vida sempre havia experimentado uma quantidade enorme delas. Mas agora queria uma emoção diferente. E para começar, atendendo a um pedido de um grande amigo, o Coronel Novais, candidatou-se para o cargo de prefeito para a prefeitura do Descoberto, sendo eleito com uma maioria esmagadora pela Arena 2 da cidade, e foi aí que a sua maior aventura começou a tomar corpo de verdade, e também a mudar o seu destino para o resto da sua existência, inclusive, culminando com o momento atual, talvez o único em toda a sua longa vida.

Em 1977, todos os prefeitos da mesorregião da Bahia, foram convocados para participarem de uma convenção de prefeitos em Salvador a capital do Estado.

A segunda e grande aventura do coronel Rosinha iniciou-se de fato quando, no aeroporto de Bom Jesus da lapa, teve que entrar no avião Bandeirantes que levaria todos os convocados para a Capital Soteropolitana, e houve a necessidade de a aeromoça dar um forte calmante para o coronel. Se não fosse dormindo, ele jamais viajaria naquela geringonça de aço mais pesado do que o ar; Já tinha montado todo o tipo de animal bravo, andado em carroceria de caminhão pau de arara, em carro de boi, viajou de vapor de Juazeiro da Bahia até Pirapora em minas Gerais. Também já tinha viajado de navio pelo litoral da Bahia, mas em uma tranqueira de aço, e ainda por cima voando no céu, só com calmante ou muita cachaça na cachola.

A terceira aventura do coronel começou quando precisou tomar os elevadores do centro de convenções. Jesus, como era custoso para ele entrar em um caixote de ferro, amarrado apenas por algumas cordas de aço, com as pessoas olhando sem graça a cara dos outros, aliás com caras de bufas, como costumava dizer nas rodas formadas nos intervalos das palestras e debates.O alívio só chegava quando o bicho parava e as portas então se abriam.

O coronel Rosinha era sem dúvida o coronel mais respeitado, não só pela sua riqueza, mas também pela sua pureza de caráter no tratar com as pessoas, sem a necessidade do uso da violência e nem da truculência. Por isto era adorado por todos da sua região, onde estava situada a cidade do Descoberto.

A quarta aventura do coronel e a que mudaria radicalmente os rumos da sua vida para o resto dela, começou quando na sexta feira, último dia da convenção, todos os prefeitos foram convidados a participarem do coquetel de encerramento. O salão de festas e eventos era uma coisa de louco de tão bonito, chique e aconchegante. Havia uma quantidade de moças muito lindas e perfumadas, cognominadas de garotas de programas, trajando vestes insinuantes e provocantes, desfilando as suas belezas e sensualidades para os convidados vips do sertão da Bahia. Vips, mas caipiras na linguagem dos homens da capital e promotores do evento.

- Depois do banquete coronel, podemos escolher a moça que quisermos para passar a noite brequeitando na ousadia e no deleite! Tá incluso no pacote! Mas tome cuidado para não escolher estes tais de maricas vestidos de mulher, e que enganam a gente (direitim). Consta pela boca grande que tem colegas prefeitos e deputados que preferem estes tais" maricados" vestidos de mulheres! Dizem as más línguas que é para ter uma emoção diferente! Eu é que não quero! Vai que o cabra queira trocar de lado com a gente! – Cochichou ao ouvido do coronel Rosinha, o prefeito de Bom Jesus da Lapa..

- Mas,oxente, e é verdade Tião!

- É coronel. Todos são de programas para estas ocasiões. São garotas e marmanjos de programas que são pagas para participarem destes eventos, de acordo com a preferência do freguês.. Já participei de um, com garotas é claro, e olhe (bichim), é mais de légua e meia de delícia e não tem nada para se comparar, quando comemos franguinhas novas, lindas e perfumadas, diferente das nossas bruacas galinhas velhas que temos em casa, data vênia com a data máxima de respeito por elas, que são as nossas adoráveis esposas, mas é bom beber uma aguinha diferente, não é coronel?.

- Mas é claro caro Tião, não é por acaso que mantemos muitas putas em vários lugares, e, em vários bregas! Afinal de contas, as comidas caseiras, às vezes acabam sendo enjoativas não é mesmo? Complementa Coronel Rosinha.

Após o desfile das garotas de programas no palco do coquetel, elas resolvem passar pelas mesas dos prefeitos, cada uma mais linda e cheirosa do que a outra. Uma em especial com o apelido de vivi gravado no crachá passou pelo coronel Rosinha, esfregando os seios pontiagudos no rosto dele. O perfume da Vivi, o hálito adocicado, os olhos verdes parecidos com uma pedra de esmeralda lapidada, cabelos loiros e lisos, olhar de zabelê, deram uma ( reboliçada) no coronel Rosinha que, se parassem todos os barulhos do ambiente, as batidas do coração dele com certeza encheriam o ambiente de barulho mais alto do que os batuques do Olodum na Baixa do Sapateiro. Imediatamente o coronel correu para o chefe do evento e solicitou que a moça Vivi fosse a indicada para ele.

- Não posso coronel!

- Mas não pode por- que?

- Ela já está reservada para o prefeito de Santa Maria da Vitória que é muito mais jovem do que o senhor!

- Não, eu quero é ela e tá acabado. Pago cinqüenta mil cruzeiros por ela e não se fala mais nisto!

Os olhos do chefe de Vivi ,que na verdade era o dono da agência de garotas de programas para eventos,brilham como o sol da meia noite, com um valor tão grande oferecido pelo coronel, já que o valor era o quádruplo do que estava ganhando pelo agenciamento e que de imediato convenceu o prefeito de Santa Maria a escolher outra garota de programa. A tarefa mais árdua foi da Vivi, coitada! Ela ao olhar o prefeito já velho, até se sentiu enojada só de pensar que teria que passar toda uma noite com um velho que poderia ser o seu avô. Seria castigo de mais para ela mas, como precisava ganhar a vida, tinha que encarar o vovozinho. Quem sabe, com apenas uma ou duas ações com ele, pela idade cansaria logo e o sacrifício dela seria amenizado. Na verdade a Vivi tinha vinte e três anos de idade e , ganhava a vida fazendo programas como aquele no centro de Convenções.

Como tudo tem um começo, finalmente chegou a hora do coronel subir ao quarto do Hotel, acompanhado com a garota mais bonita da convenção. Ao chegar ao quarto, a Vivi sugeriu ao coronel que tomasse um banho para depois começarem a diversão. O coronel prontamente atendeu. Ao sair do banho, quase perdeu a visão! Estava diante de uma deusa cuja beleza jamais houvera visto em toda a sua vida! Vivi estava trajando uma calcinha vermelha, insinuante e transparente. O coronel quase desmaiou com tanta formosura, mas resistiu firme, afinal de contas havia gasto algumas cabeças de gado para ter aquela noite de príncipe.

- Quer fazer feijão com arroz coronel?- Pergunta Vivi.

- Não, não quero! Já comi de mais no tal de, qual é mesmo o nome?

- Coquetel coronel.

- Pois é, já comi de tudo o que tinha direito nele.

- O senhor prefere sexo oral coronel? Insiste Vivi, tentando convencer o coronel de alguma coisa.

- Não minha filha, respondeu o coronel já impaciente.

- Então vamos fazer sexo anal coronel!

- Minha formosura, continuou coronel Rosinha- Eu não quero saber nada disto que você está falando! Eu quero é sexo agoral. O meu brigadeiro já está de prontidão desde a primeira vez que vi você lá no salão de festas! Vamos deixar de ( polodório) e começar logo a nossa brincadeira, pois a noite é uma criança e acaba no dia seguinte e não quero mais perder tempo com sugestas! E sem mais paciência, pois já estava quase explodindo de tanto desejo e agonia, coronel Rosinha se atira sobre a Vivi e pasmem! Foram mais de cinco horas e meia de sexo, parando apenas para pequenos intervalos e recomposição de forças e energias. O coronel surpreendeu a garota de programa com tanto vigor físico! Era vigoroso como um touro e muito carinhoso como um cavalheiro e romântico! Sabia como tratar uma mulher ou garota sem ser violento e nem selvagem no seu ímpeto. Esta noitada do coronel acabou por levá-lo ao hospital em razão de um desmaio, primeiramente da vivi e depois dele.

O Dr. Renê, médico amigo da família, enquanto conversava com o coronel lhe fazia algumas perguntas.

- Que loucura coronel! Não teve medo de morrer não! Nesta sua idade se arriscou de mais! O que de fato aconteceu?

- Bom Dr., escolhi a mulher mais bonita do evento. Uma deusa! Quando chegamos no quarto tomei um banho, e ela foi logo me perguntando. Fazer arroz com feijão coronel? Imagine se eu, tarado do jeito que estava ia querer comer arroz naquela altura doutor depois de ter enchido o bucho no tar de coquimel!

- Coqitel Coronel e arroz com feijão quer dizer, sexo normal.

- Mas, e é doutor?

- É coronel!

- Quer dizer que sexo oral não é de hora em hora?

- Não coronel! É sexo feito pela boca! Ele iria chupar o senhor todo!

- E sexo anal então não quer dizer de ano em ano?

- É coronel, sexo anal é sexo feito no ânus – no tóba da mulher!

- Também pudera doutor, eu não entendo destas linguagens (mudernas) modernas!

- Mas me conte mais. O que aconteceu para o senhor desmaiar, já que o seu coração está bom e a pressão também.

O coronel se prepara para narrar o que de fato aconteceu naquela madrugada.

- Doutor, a madrugada já estava chegando. A Vivi decidiu que na (saideira) eu ficasse por baixo e ela por cima. De repente, sem mais e nem menos ela gritou: Coronel, vou desmaiar! E desmaiou. Fiquei atordoado e desesperado achando que ela tinha morrido. Esqueci que estava pelado totalmente, e ao me levantar bruscamente, apertei os meus ovos com força com a ponta o lençol preso entre as minhas pernas , dei um urro de dor, e que dor doutor, e depois não vi mais nada e desmaiei. Só acordei aqui no hospital.

O doutor Renê acabou dando uma pequena risada.- Desculpe – me coronel, quer dizer que o senhor quase foi castrado!

- Quase doutor! Agora sei o porquê dos bichos na fazenda gritarem tanto quando estão sendo castrados.

Depois de ter recebido alta do hospital, o coronel procurou pela Vivi.

- Foi interrogada pela polícia e já foi liberada - responderam.

- Preciso falar com ela, nem que seja uma última vez.

Depois de muito procurar, finalmente o coronel conseguiu localizar a Vivi. O dono da agência a tinha demitido alegando que ela poderia comprometer a sua agência, e , também para não pagar a parte dela no dinheiro que havia recebido. Ao vê-la o coronel tremeu dos pés à cabeça. Notou que estava perdidamente enfeitiçado por ela.

- Vivi, preciso falar com você princesa!

- Coronel,eu não posso me envolver com um homem mais velho do que eu e casado!

- Mas, por que está falando isto menina! Questionou o coronel Rosinha.

-Coronel, respondeu Vivi, apaixonei-me pelo senhor e sei que é apenas um sonho irado!

Viviane, a vivi jamais havia imaginado que o sonho impossível dela se transformaria em realidade naquele momento! Nunca havia passado pela sua cabeça que esta possibilidade de realização estaria prestes a acontecer! Afinal de contas era apenas uma garota de programa ganhando a vida através de uma agência de garotas e garotos de programas.

Após passados cinco meses deste primeiro encontro com a Vivi, o coronel estava divorciado da esposa dele, com quem esteve casado por quase quarenta anos. Após seis meses, renunciava ao cargo de prefeito e no sétimo mês já estava casado com a Vivi, e, ao completar o nono mês nascia o primeiro herdeiro da sua nova geração.

No começo tudo parecia que era uma loucura do coronel. Alguns até acharam que ele estava senil além do limite e diziam que aquela aventura não duraria muito. E que aquela aventureira daria o golpe do baú, ou melhor, o golpe das fazendas! A dona Gerosina, ex-esposa do coronel, acabou se casando com o vaqueiro mais antigo da fazenda que estava viúvo há alguns anos. Só sei que os anos foram se passando e avançando e deste relacionamento mais cinco herdeiros chegaram , e neste avanço de tempo, a Viviane foi conquistando a confiança das pessoas de todas as regiões do descoberto, inclusive a ex- esposa do coronel, dona Gerosina, acabou se transformando na sua amiga número um. A verdadeira paixão da Viviane pelo coronel era tão intensa, que a população acabou percebendo a sinceridade dela e passou a amá-la, não só pela sua beleza, mas pelas coisas boas que ela ajudou a construir na cidade e região. Todas as mulheres de todas as idades se espelhavam na Viviane. Era jovem, madura, bela, inteligente e generosa para com todos. E ela não forçou a barra para que isto acontecesse. O amor verdadeiro pelo coronel Rosinha, e a maneira singela de conquistar as pessoas, a transformou, talvez, em uma das pessoas mais queridas daquela parte do sertão da Bahia.

Todos os sonhos acabam um dia! Ou melhor, todas as histórias têm o seu final! Às vezes um final feliz e às vezes um final não tão feliz. O casamento do Coronel Rosinha, com a Dona Vivi, como era carinhosamente chamada e conhecida, havia acabado de completar trinta e quatro anos de duração. Dona Vivi estava então com cinqüenta e sete anos de idade e o coronel com noventa e quatro. Ambos viviam em uma eterna lua de mel, como se o fator idade não existisse para o casal. O coronel e Viv, fizeram muitas viagens pelo Brasil e pelo mundo quando havia possibilidade para fazê-las. E as viagens não eram realizadas só com os dois. Às vezes parentes e amigos os seguiam nesta empreitada de diversões, e, provavelmente eram estes tipos de fatores que os mantinham joviais, embora a idade cronológica começasse a dar sinais da chegada à curva final, mais pelo lado do coronel.

A Vivi, na manhã do dia anterior, tinha ido com o filho caçula, levar alguns netos do primeiro casamento do coronel para a cidade de Bom Jesus da Lapa, a fim de embarcarem no avião com destino a Salvador. Ao retornar para o descoberto, um irresponsável motorista de uma caminhão carregado de madeira extraída clandestinamente, tinha adentrado à mata para fugir da fiscalização, e ,de repente, resolveu retornar à estrada bruscamente e acabou atravessando toda a parte da rodovia, justamente na hora em que dois carros trafegavam em suas respectivas mãos e bateram violentamente na carroceria do caminhão e todos os ocupantes dos dois veículos tiveram morte instantânea naquele acidente grave. O Jeep de cor verde que retornava para a cidade do Descoberto, era o que estava a dona Vivi e seu filho Caçula, Robertinho. No outro carro que ia da Serra do Ramalho para Bom Jesus da Lapa, era de dois conhecidos do coronel Rosinha.

Todos da região ficaram sabendo da noticia do acidente e os amigos e parentes do coronel Rosinha estavam preocupados em achar uma maneira para dar a notícia da tragédia que abalou a cidade do descoberto, sem comprometer o coração do coronel. A idade avançada requeria maiores cuidados. Esta tarefa mais difícil coube à neta Marta que era a que sempre estava mais perto do avô. Era a Marta quem auxiliava o coronel Rosinha e a dona Vivi em suas várias atividades. Na verdade a Marta era a secretária dos dois. Ao entrar na casa a empregada mais antiga, conhecida e chamada carinhosamente como mãe Bartira por todos, que ao ver a Martinha entrar na casa totalmente de cabeça baixa, foi logo lhe perguntando.

- O que está acontecendo Martinha ?Há pouco o coronel saiu da rede e entrou apressadamente aqui , pediu-me que eu fizesse um chá de folha de laranja, falou que dona Vivi estava indo embora e que também estava levando o Bertinho com ela! Uma conversa sem pé e nem cabeça! Agora você entra aqui deste jeito! Acho que o mundo está virando de ponta cabeça!

- E está Mãe Bartira! Completou Martinha. Houve um acidente na estrada e Vó Vivi está morta juntamente com Bertinho, e os corpos chegarão daqui a pouco. Uma tragédia para todos nós. Martinha esforçou se para não chorar, pois tinha que cumprir a triste missão de dar a noticia para o avô.. Mãe Bartira ao sentir as pernas tremerem, senta-se na bancada de mantimentos para não cair. As suas vista escureceram e neste mesmo tempo as lágrima começaram a inundar o seu rosto.

- Meu Deus não pode ser verdade! Clamou soluçando enquanto Martinha tentava consolá-la.

– Pode me deixar minha filha, vá logo falar com o coronel, más vá com jeitinho! Ele poderá não aguentar! Pediu.

Marta, subiu ao quarto do avô e nem precisou bater à porta, pois esta estava entreaberta, e ao adentrar ao quarto, viu o coronel Rosinha, sentado na cama, olhando o retrato da Dona Vivi e do Robertinho, soluçando forte. Ao ver a neta, levanta-se bruscamente e a abraça com ternura e diz: Eu já sei de tudo querida!

- Sabe de tudo como, vovô ? Pergunta Marta sem saber de nada e surpresa. Afinal de contas seria ela a primeira pessoa a dar a triste notícia.

- Sente– se aqui minha filha que lhe contarei tudo. Marta sentou - se ao lado do avô e abraçada a ele começou a ouvir a sua história.

- Eu estava deitado na rede em frente ao roseiral olhando todas as rosas que a Vivi plantou com o Robertinho nos últimos meses. De repente senti uma dor muito forte no coração e sem mais e nem menos as vistas ficaram pesadas e acabei adormecendo. Vi a Vivi e O Robertinho andando pelo roseiral e cada um deles tirou uma rosa, mostram para mim, e depois passando bem perto da rede, onde eu estava deitado, acenaram como se tivessem se despedindo e entraram na casa, andando como se flutuassem. Depois disto não os vi mais. Quando acordei já sentia que algo não estava bem e partindo desta minha intuição, entrei na casa, falei com Mãe Bartira, pedi um chá de folha de laranja e vim para o meu quarto chorar e rezar a Deus, pedindo forças para superar este momento de tristeza. E foi assim que o coronel ficou sabendo da notícia da morte da sua querida Dona Vivi e seu filho caçula, Robertinho.

Agora estava no velório dos dois entes queridos. De vez em quando um amigo lhe falava alguma palavra de consolo:

- Deus foi cruel para contigo coronel!

-Não foi meu caro amigo! Deus me deu uma mulher especial por quase quarenta anos e depois me deu esta mulher maravilhosa por quase trinta e quatro anos. Não posso me queixar! Ele dá e pode pegar de volta quando quiser! Respondeu coronel Rosinha. Alguém lembrou ao coronel de que a hora do féretro já se aproximava. Nas ruas apinhadas de pessoas de todos os lugares ,e o caminho do trajeto para a igreja já estava preparado. Finalmente com o coração doendo o coronel ordenou o início do cortejo. A igreja Matriz da cidade já estava lotada. As pessoas que acompanharão o enterro não conseguirão entrar porque a quantidade de pessoas é imensa, e, em razão disto, o padre da paróquia resolve fazer a missa de corpo presente com um serviço de auto - falante para que todos pudessem ouvir as exéquias.

Muitas pessoas das antigas confabulavam sobre a dona Vivi. As fofoqueiras de plantão.

-Quando ela havia chegado e casado com o coronel, fazendo com que ele desfizesse um casamento de quase quarenta anos , onde já se viu uma garota de programa, uma prostituta que poderia ser neta do coronel desbancar a dona Gerosina! Dizia alguém

- Ela veio para tirar a Sorte grande e acabar com a família do coronel! Mas não foi isto o que aconteceu! Ela deu provas de que o amor pelo coronel era verdadeiro, e isto se confirmou quando aos poucos ela foi conquistando toda a família, toda a população, ganhando o respeito de todos. Viviane, a dona Vivi, mudou a vida das mulheres do descoberto e da cidade também. Implantou idéias novas no âmbito social e político. Ela era uma garota de programa mais era uma garota culta, universitária que falava três línguas. Era de família de classe média alta e ganhava a vida como garota de programas, em uma época em que tal fato ainda não estava em moda. Só nos meandros dos grandes centros. Completava outra pessoa.

Agora a cidade inteira chora a sua morte e a do seu filho caçula. Idem a família e o coronel. completou um outro.

Depois que o enterro foi finalizado, pouco a pouco as pessoas se retiravam para os seus destinos e o coronel com todos os seus familiares e amigos também seguiu o rumo de casa. Ao chegar, estafado e entristecido, pediu para que tirassem o jantar. Após acabada a refeição, retira-se silenciosamente para o seu quarto, veste o seu pijama e antes de ir para a cama, resolveu entrar no quarto construído a pedido da Vivi, onde estava edificado o altar da Santa, Nossa Senhora Aparecida.

Ao adentrando no quarto onde estava o altar construído para a Santa Nossa Senhora Aparecida, ao olhando a mesa do altar, um susto enorme tomou conta do coração. Aos pés da Santa estavam as duas rosas que a Vivi e o Bertinho, em sonho , carregavam no momento em que o acidente aconteceu!

- Bartira, gritou o coronel, venha aqui depressa!

A mãe Bartira espantada com o grito do coronel, rapidamente sobe ao quarto para saber o que estava acontecendo.

- O que foi coronel! aconteceu alguma coisa! Tá sentindo alguma coisa!

- Não Bartira. Respondeu. Quero saber quem foi que tirou duas rosas das roseiras!

- Ninguém mexeu nas roseiras coronel! Ninguém tinha cabeça para isto!

- Então dê uma olhada no roseiral para ver se está faltando rosas na roseira que está mais perto da minha rede no alpendre, por favor!

Imediatamente Mãe Bartira desce até o jardim retornando depois de dez minutos, e espantada conta ao coronel o que de fato aconteceu.

- Está faltando sim, coronel e o corte dos talos está do jeitinho que a Vivi costumava cortar e o que é mais espantoso, é que o perfume dela está na roseira!

Sem mais nem menos, o coronel agradece à mãe,Bartira e logo que ela sai do quarto a sua memória traz uns momentos de recordação. Certa noite, ao abrir a porta do quarto viu, a sua querida Vivi ajoelhada aos pés da Santa e Bertinho, o caçula que contava então com oito anos de idade. Ele ouviu em um dado momento da reza, ela pedindo para a Santa não deixar o amor do coronel por ela acabar e também pediu que, se um dia ele tivesse que morrer, para que ela morresse primeiro do que ele. Jamais suportaria viver sem o amor da sua vida! E para que a Santa atendesse o pedido dela, ela fazia a promessa de nunca abandonar os trabalhos sociais da região efetuados pela paróquia da cidade. O Bertinho também, no embalo da mãe fez promessa igualzinha à mãe

- Você não menino! Disse ela – Sim mãinha, disse ele. Não quero ver o papai morrer! Quero ir primeiro também!

Foi aí que o coronel se deu conta de que a tragédia poderia ser um cumprimento do pedido feito pelo seu grande amor, de morrer primeiro do que ele. E que talvez os seus últimos dias de vida já estivessem se aproximando e que a Nossa Senhora havia atendido prontamente.

Silenciosamente o coronel voltou para o seu quarto, abriu a janela, espiou a lua prateada brilhando como nunca, ouvindo o chiar dos grilos, sentindo a brisa a roçar lhe o rosto, deu uma olhada nos roseirais plantados pela Vivi que exalalavam o cheiro forte das rosas que é inalado profundamente por que suspirou profundamente como se estivesse aliviado, tirado um fardo pesado das costas com a morte da Vivi e do seu filho caçula.

- Ela poderia ir embora sozinha mas quis ir acompanhada do filho que nunca se separou dela. O apego era muito dos dois! Ela quis assim e a Santa atendeu!

Nos galhos das árvores alguns pássaros de vida noturna faziam um pequeno barulho. O coronel Rosinha deixou a janela aberta, pegou um cd que foi gravado com várias versões da musica, “ Seguindo em frente” presente dado por uma turma do colégio e que era adorada por Vivi. E ao som desta música, o coronel deitou na sua cama, olhando e passando a mão do lado em que estaria a Vivi, deu uma olhada para o quadro na parede com as fotos de todos os filhos e netos, a primeira esposa abraçada com Vivi, olhou para o teto a espera de adormecer logo, para que começasse a ouvir o canto dos galos anunciando a chegada do novo dia,e com o canto dos pássaros o brilhar do sol. Talvez com a chegada do novo dia o seu coração, aliviado, poderia lhe impor uma nova vida dali em diante sem a Vivi e sem o Bertinho, mas que teria que seguir em frente conforme a música: Ando de vagar porque já tive pressa, e que era adorada pela Vivi. O coronel, enfim adormeceu com a mente cheia de lembranças e esperanças para suportar os últimos dias, meses ou anos de vida. Nesta noite em que encerrou o momento maior de perdas e angústias, o coronel adormeceu pensando em acordar no novo dia! Mas não sei se ao romper da aurora este fato ocorrerá.

É preciso esperar o amanhecer! Na verdade a história de amor entre a garota de programa e o coronel, que se apaixonaram efusivamente, e que na cabeça das pessoas não passava de um ato de oportunismo por parte da Viviane, uma prostituta que queria dar o golpe do baú, e de insanidade mental de um senil coronel, como diziam as más línguas, e que o tempo provou o contrário de que é possível uma jovem de vinte e três anos e um ancião de sessenta , se apaixonarem e viverem até os seus últimos dias de vida apaixonados,contra todos os tipos de preconceitos e vencendo todos eles, termina aqui ao anoitecer. E quando o novo dia amanhecer, com certeza uma outra nova história começará na vida de todos, acordando ou não do sono o coronel Rosinha.

Dito