O urubu.

O URUBU.

Todo urubu nasce branco. Mas ele não mata seu filho, pois não tem preconceito social; não tem preconceito à sua raça negra. Todo urubu é preto e come carniça. Mas todo urubu sente-se feliz de ser carniceiro. Ele sobe à grande altitude para de longe enxergar quem morreu para ele comer; é seu almoço. Ele é funcionário público da limpeza; onde os civilizados cometem poluição do meio ambiente. Os homens antiecológicos não gostam de urubu. Até fizeram um choro com o título: “Urubu Malandro”. Mas o urubu não gosta do título e protesta: “Eu não sou malandro. A minha missão é fazer limpeza. Os restos mortais que os homens desprezam o que para mim, é prato delicioso de hotel de Cinco Estrelas. Não tenho o que me queixar. Sou feliz; até que faço parte da história da humanidade e do livro sagrado: A BÍBLIA. Aliás, em se tratando de respeito à vida, eu não faço guerra a ninguém e tampouco mato o meu semelhante para comer. O que eu como é aquilo que é desprezado pelo ser humano. Eu como os restos mortais que o homem matou.”.

“A Mídia anunciou que, lá na índia, onde a fome grassa incomensuravelmente, e não se pode comer carne de vaca, e muitos morrem de fome; muitos não são enterrados e para mim é prato do dia. As revistas fizeram manchetes e eu posei para a foto, quando uma criança chorava de fome. Enquanto ela chorava fraquinha, que mal dava para eu ouvir, eu estava perto dela esperando-a morrer, para que eu pudesse comê-la. E eu a comi. Fiz limpeza, mas o homem não me agradeceu. Fez sensacionalismo jornalístico. Dá muito dinheiro e fama. Quem tem culpa de a sociedade ser desorganizada?! Em toda a terra há abundância, riqueza supérflua e deixa a morrer de fome seus semelhantes. Nós urubus não morremos de fome. Eles dizem que são democráticos e religiosos. Não aprenderam nada do Grande Mestre. São todos hipócritas. Mas, digo eu: Que bom ser hipócrita e sobrar comida pra mim! Sou egoísta? Não. Não o sou. Nasci para comer restos mortais. Sou a limpeza da terra. Não são felizes; eu sou. Estão estressados, encurralados nas suas próprias casas... Pagam segurança e põem cadeados no portão; há câmaras espalhadas por todos os lados, mas morrem. Eu só lamento eu não poder comê-los, pois são enterrados em cemitério. Mas há muitos que são colocados para estudos de anatomia; fazem dissecação no cadáver para estudo cirúrgico.”

“Quando houve o dilúvio, eu estava lá na barca, que Noé fabricou”. Quando as águas começaram a abaixar, Noé me soltou e eu encontrei muitos cadáveres. Foi um prato bom para eu saborear. Esperaram-me e eu não voltei à barca, pois tinha comida de sobra. Mais urubus que houvesse. Mas até hoje ninguém me agradeceu pela limpeza que fiz. Agora, eu não. Agradeço todos os homens por não construírem gaiola para me prender. Sou livre, mas do que eles. Não tenho casa e dizem que sou preguiçoso. Não sou. Para que construir casa para o homem roubar, derribar a árvore, casa e tudo!? Bobo é o João de Barro, que faz sua casa e arrancam para enfeitar a sala de visita. Os homens são assim egoístas e destruidores. A abelha passa meses para fabricar o mel, seu sustento, eles roubam tudo e vendem por bom dinheiro. Deixe-me viver como o sou: urubu carniceiro e fedorento, mas sou feliz.

hagaribeiro.

Zé de Patrício
Enviado por Zé de Patrício em 17/05/2011
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