O nascimento do Curumin-pirá
Amazônia a alguns seculos atras...Dois guerreiros do extremo norte viajam juntos para as terras baixas em busca de esposas, um deles trás em seu pescoço um colar, onde esta pendurada uma peça arredondada com a imagem de um centurião Romano. O tuxaua faz uma pequena assembleia ira explicar para a tribo que aqueles visitantes vieram das terras alta lugar onde mora “Uaracy” e “Jacy”. Estão ali a procura de noivas, querem casar com índias da tribo, principalmente aquelas que não estão prometidas.
Dito isso pelo Tuxaua, muitas jovens são tomadas de certa euforia. Começam a comentar sobre o assunto, ficando impossível disfarçar o interesse. O bate boca e grande, os homens da tribo enciumados comentam que os visitantes devem lutar pelas mulheres... Os mesmos se manteem calados, há um momento de tensão... Os animos parcem exaltados, Então todos da tribo caem na risada quase que ao mesmo tempo, foi só uma brincadeira dos futuros cunhados, quem decidirá mesmo essa historia são os anciões.
Os jovens chamam-se “Oro-Wê” na lingua caribe significa “ papagaio” e “Wêy-mutã” “ombro do sol” o primeiro é filho de um grande chefe o segundo e seu primo e guarda costas, eles conhecem pouco a língua de seus anfitriões. Quando a noite chegar, são convidados a participar de um “ajuri” (reunião). Nessa reunião os velhos decidirão se aprovam ou não o casamento dos estrangeiros com índias da tribo.
A noite em volta de uma grande fogueira, fumam um cachimbo coletivo com tabaco nativo, conforme o tempo passa os visitantes vão percebendo que esta mais fácil se comunicar com seus anfitriões. Um ancião sentado em seu banco com desenho de uma onça da uma grande baforada e diz: “até o dia nascer voçes terão aprendido a falar a nossa língua, pois essa erva é magica, então soprou nos dois.
A conversa segue, por bom tempo, até que é anunciado um ritual, um dos velhos diz “ Vamos mostrar para voçês a historia do guerreiro pai de nossa gente que lutou contra as mulheres matadoras de homens e as expulsou para as terras altas.
Dois homens pintados segurando ossos de canelas de antas batem em um tronco oco, pendurado em duas estacas, flautas feitas de tíbias humanas soam... Começa o ritual, as mulheres saem na carreira arrastando seus filhos pequenos que choram assustados, ficam somente os homens. Cânticos começam a serem entoados, o rosto dos visitantes iluminados pela chama da fogueira reflete a sua admiração. Da escuridão uma sombra se move de um lado para outro numa especie de zig-zag até chegar ao campo de visão de todos, não da para ver o que há por trás daquela coisa, trata-se de uma espécie de escudo com um par olhos e uma boca pintados no centro do mesmo.
Quando a pessoa que carrega o escudo para, é possível para os jovem avaliarem o objeto, trata-se do casco de uma enorme tartaruga de aguá doce, talvez a maior que eles já viram, o guerreiro para bem na sua frente, Abandona o artefato e se mostra, esta usando uma mascara feita de fibras de arumã que impede que seu rosto seja reconhecido e seus olhos sejam vistos, tem o corpo pintado como o couro de uma onça, empunha na mão uma borduna do tamanho de um remo segue com ela fazendo varias evoluções demonstrando muita habilidade é força, Talvez um espadachin com um florete não seria tão rapido.
Os cânticos cadenciam os movimentos e simulam um ferrenho combate, dura um bom tempo, quando acaba, o homem fala direcionado para os visitantes que estão quase em transe com a apresentação. diz: “essa canção é a historia do pai de nossos avôs, Ele veio dali, aponta para o céu estrelado, na direção da constelação do caçador (orion) bem visível da clareira, no chão ele faz um desenho grosseiro que representa a posição das estrelas no ceu, o desenho mostra o guerreiro filho das estrelas a quem eles chamam de “Jurupari” ( O rei do rio) Ele esta lá no alto com seu escudo de tartaruga lutando contra uma Bóio-Açu, (cobra grande) depois aponta novamente para o céu a via Láctea e diz “aquele é Tapira-pecó o caminho das antas e dos guerreiros que abandonaram a terra e voltaram para as estrelas”.
Enquanto isso um espectro quase humano observa da beira da mata toda a movimentação, inerte age como se fosse uma sombra da própria floresta, enquanto isso o guerreiro mascarado se retira levando seu escudo de tartaruga.
O visitante com o colar pede para falar, diz: “na nossa terra onde as serras quase tocam o céu e os campos somem da visão, nos já ouvimos muitas historias dos nossos avos sobre vocês os “filhos do rio das águas negras" sabemos que vocês são os guardiões da noite, que guardam ela dentro do rio no ninho da cobra grande, seus antepassados desceram das estrelas em uma grande canoa puxada por antas e o rastro que ela deixou no céu se transformou em uma grande cobra de fogo que ate hoje anda pelas matas.
Quero lhe dizer que é uma honra para nós esta aqui com seu povo. Lá em nossa terra sou pajé, descobri que podia viajar pelas estrelas e falar com os espíritos quando eu ainda era curumim. Meu avo soprou tabaco em mim e me disse que quando eu me tornasse rapaz e fosse caçar teria que ir para a montanha do diabo as grandes torres do norte onde mora o grande espirito malvado que transforma seus inimigos em pedra.
Lá, na cachoeira mais alta da montanha eu procure minha “sombra” (alma) ela estará dentro de uma pedra. Que não pegasse qualquer pedra, principalmente as que brilham (diamantes) pois elas são sombras de pajés que já morreram fazem muito mal, também que não subisse a montanha atrás de caça nenhuma, porque seria uma armadilha do pai dos Canaimã para me transformar em pedra dentro dos labirintos, meu avo falou que quando encontra-se a minha pedra me tornaria um pajé de verdade.
visitei muitas vezes a cachoeira da montanha, caçei muito sem subir a montanha, até um dia em que o verão foi muito forte. Os rios estavam secos, podia ver muitas pedras, algumas que brilhavam tanto que pareciam estrelas do céu. Encontrei uma que não brilhava, mas tinha minha sombra presa dentro dela, ela me mostrou como eu seria quando ficasse homem, nela estou com meu cocar de penas na cabeça.” Falou isso pegando no colar, “essa é minha pedra”
Todos vão passando de mão em mão, os futuros cunhados ficam admirados com o desenho de uma pessoa com um Elmo na cabeça, acreditão ser aquilo uma pedra magica, sinal de que o futuro cunhado também é um homem que tem poderes, o desenho nela impresso é o de um centurião romano, trata-se de um drakman, uma moeda romana.
Quando o dia amanheceu falando bem melhor a língua de seus cunhados os rapazes recebem o sim dos anciões, se despedem e partem em direção ao norte, isso tudo sem terem visto suas noivas, mas levando a certeza de que retornarão dentro de muitas luas trazendo todos os parentes para a grande festa de casamento.
Ambos saem alegres por terem sido aceitos para casar entre os filhos de Jurupari, a honra entre esse povo do extremo norte da Amazonia está em procurar uma esposa o mais longe possível... em terras desconhecidas e se tiver que rouba-la ou lutar por ela melhor ainda.
II Capitulo
Os meses se passam... O sol brilha por entre as fendas da grande floresta, a tribo das noivas segue com seu cotidiano, é cedo da manhã as crianças ainda dormem... Agora as águas começam a baixar, é tempo de vazante, as grandes tartarugas aproveitam o sol forte para endurecer seus ovos nas praias, muitos animais voltam das terras altas para os igapós e Paranás, são centenas de capivaras, os rios estão cheios de praias de areia branca, no negro uma praia esta tomada por uma gigantesca vara de porcos do mato (catitú), um bando tão numeroso que os mais jovens ficam nas costas dos pais, enquanto a sua maioria “fuça” a areia atrás de devorar os ovos das tartarugas.
A abundância se manifesta no rio, anuncia o casamento que logo ira acontecer, muitas araras fazem à festa em um tucumanzal nos fundos da grande maloca... De repente saem espantadas com alguma coisa, sua revoada deixa todos na tribo em alerta, pode ser um ataque de inimigos, pois e bem cedo para as araras se espantarem, pode ser um ataque surpresa.
Um grupo de guerreiros pega suas armas e rapidamente vão em direção ao tucumanzal todos espalham-se são muito rápidos cercam o tucumanzal, os que estão com bordunas levam-na com as duas mãos pronto para desferir um golpe mortal, os que vão com arco e flechas já o levam semi-tencionado pronto para atirar, o pássaro conhecido como capitão do mato ou cri-crió da um assobio fiúú, fiúú´fiúúú, fiiuu. Todos estão alerta ao menor movimento ou ruído, dentro do tucumanzal eles trocam sons guturais e gesticulam com a cabeça, fica confirmado não há outras pessoas ali, nesse instante uma seta corta o ar, seu zumbido pode ser ouvido por todos, em seguida um grunido, de quem esta nas ultimas.
Um dos guerreiros, o mais jovem disparou sua flecha, acertando em cheio uma cotia que se alimentava roendo caroços de tucumã, o animal foi atravessado pela seta, ele a pega e diz: “aqui esta quem espantou as araras” por um instante todos estão admirados, então caem numa risada só, em seguida todos pertem de volta para a maloca.
No caminho o jovem que acertou a cotia perguntou ao guerreiro mais velho se ele já participou de muitas guerras, a resposta é sim, continua, qual a sua arma preferida? Ele responde: “borduna como esta que estou usando, ele é feita de ita-ubá preta, com ela já derrubei tantos inimigos quanto você pode ver arvores em sua volta”.
Satisfeito e orgulhoso foi como o jovem se sentiu, afinal estava andando ao lado de um valoroso guerreiro, sua geração ainda não participou de nenhuma guerra, mais é lógico que a oportunidade viria.
Assim que o grupo se distanciou do tucumanzal, uma sombra esquálida saiu se esgueirando de seu mimetismo entre troncos estrangulados por apuizeiros. Sem olha pra trás, sentindo-se traído pelas araras a sombra desapareceu floresta adentro, impossível distinguiu se era homem ou mulher.
Da cumieira de uma maloca em construção um jovem grita, anunciando o retorno dos guerreiros, as crianças são as primeiras a se aproximarem, tomam a cotia das mãos do jovem, saem alegres fazendo medo aos menores.
Todos voltam a seus afazeres, construção de uma nova maloca, e o fabrico de arco, flechas, zarabatanas, peneiras e cestos, passado algumas horas começa um som vindo da beira do rio, Tum, Tum, Tum, Tum, é alguem batendo na raiz de uma sumaúma (a maior arvore da Amazonia) trata-se do aviso que esta chegando alguém pelo rio. Começa tudo de novo todos correm para o barranco, só que agora parecem saber de quem se trata.
São minutos para poderem reconhecer os que chegam, um grito os identifica, são os noivos e seus parentes, a animação é grande, chegaram em quatro canoas grandes trazem muito mantimentos e presentes para os parentes das noivas.
Chegam em um período ideal, a transição entre chuva e seca, chuva demais faz com que a tribo se fragmente em pequenos grupos familiares a fim de terem maior facilidade de conseguirem alimento. Os noivos provaram serem bons navegadores, incansáveis e corajosos, realizando um pacto de casamento tão longe, motivando a viagem que acabam de fazer, desceram todo o “Queceuene” rio branco atravessando uma região ocupada por centenas de grupos tribais distintos que quase sempre promovem guerra entre si.
Começa os preparativos para a festa, mobiliza-se toda a tribo, os noivos presenteiam o tuxaua com um muiraquitã, uma estatueta em forma de sapo, esculpida em uma pedra verde como o jade esse amuleto representa o deus da chuva “aquele que trás a fertilidade do solo”.
Observando o presente o tuxaua, vê nele o algoz de seu filho mais novo, morto pelo veneno do sapo ao brincar com um, (Dendrobhates) mesmo assim ele não recusa o presente, atitude que seria uma grande ofensa.
Começam os afazeres, as mulheres vão para a roça colher macaxeira para fazer a farinha, beiju e bebida. Os parentes dos noivos também ajudam, inclusive trouxeram uma coisa essencial, bolas de sal, extraídos por eles das plantas aquáticas existentes nas corredeiras por onde passaram.
O sol da tarde ainda brilha seus diamantes no rio um bando de curumins brinca com crânios de animais, simulando assustar uns aos outros os velhos já retiraram os dentes desses crânios e fazem colares para eles é uma espécie de passa-tempo.
Pela manhã um grupo partira para caçar levarão junto os noivos para testar os cunhados ver se são bons caçadores eles têm noticias de um lambedor de sal aonde animais se reúnem, seguirão para lá ao longo do caminho extrairão fibras para fazer cordas em quanto caminham.
Quando o dia amanhece o grupo segue para a caçada. Ao se aproximarem do lambedor perceberam que a água estava “toldada” (suja), sinal de que os animais estão no local os caçadores penetram no lugar cheio de pedras grandes, todas cobertas de musgo e bromélias, ao se aproximarem conseguem ouvir o barulho dos bichos se banhando em meio à lama, trata-se de um grupo de antas. Olhando por entre as arvores não conseguem distinguir quantos são, o índio mais experiente no comando pede através de gestos que os flecheiros se posicionem na borda do barreiro. O local é pitoresco, uma grande pedra equilibrada sobre uma menor, mais ou menos como se um prato equilibrado sobre o fundo de uma agulha enterrada.
O que seria o buraco da agulha é onde duas antas grandes esfregam suas costelas coçando os carrapatos, estão totalmente alheias ao que esta para acontecer um pouco afastada com seu filhote uma anta se lambuza em dois palmos de lama, cerco feito, o mesmo guerreiro que acertou a cotia será o primeiro a disparar. Enche o peito de ar tenciona o arco, toma cuidado para não esbarrar nos sipós e galhos, zap!! A seta corta o ar... Atinge debaixo do sovaco da maior, o animal da em berro de dor e pavor, arreganha o seu focinho entortando-o para cima e desembesta na carreira, uma das antas pretas antes de conseguir se levantar também foi atingida, na barriga e na perna.
A grande rosilha sai levando a floresta nos peitos é a maior quebradeira, o ferimento e fatal, ela diminui a velocidade, não querendo se entregar tomba sobre as patas dianteiras recebe em seguida um golpe de borduna no alto crânio que a finaliza.
As outras fugiram, uma que foi ferida é perseguida, a outra de filhote ficou cercando o filhote, batendo com as patas no chão em tom ameaçador. Os caçadores a deixaram em paz para que crie o seu filhote, em época de escassez eles a teriam matado, cambaleando a anta ferida se joga em um lago não muito distante, vai tentar atravessá-lo, Só consegue chegar à metade, afunda. Os caçadores cercam o local, observando as bolhas grandes que saem da água os caçadores tem certeza que ela se afogou. Um dos homens pega a corda feita durante a caminhada morde em uma das extremidades e mergulha. Após alguns segundos ele vem à tona, gesticula para os outros que o animal esta preso amarrado pela corda.
Os cunhados vêm ajudar segurando na corda, começam a puxar, o índio que mergulhou se manteve na água para impedir que o animal engate nas galhadas do fundo do lago... O bicho já esta quase em terra firme quando de repente o caboco que esta na água solta um epa! Estica os braços em direção aos companheiros, seus olhos estão cheios de pavor, ele desaparece engolido pelas águas, os mais proximos entraram em pânico sem saber o que fazer. Do meio da mata o velho guerreiro que viu o que acontecera passou correndo entre todos pegou uma das flechas de ponta de paxiuba quebrou, levando só a ponta, desapareceu em um mergulho. A água estava revolta, a galhada que saia do lago balançava... lá embaixo o experiente guerreiro tateando com as mãos tentando encontra seu companheiro, estava com os pulmões para estourar, não é possível enxergar nada a água esta toldada (suja)e alem do mais estão no meio de uma grande pauseira. Sua mão toca o corpo escamoso de um animal, numa atitude desesperada leva com a outra mão a ponta da flecha cravando-a no sentido contrario as escamas do animal (senão a faca não penetra) este por sua vez solta sua presa, com todo o desespero o experiente guerreiro segura seu companheiro e vem à tona Quando sente varias mãos lhes resgatando.
O reboliço foi tão grande dentro da água que os guerreiros em terra estavam assombrados com os movimentos que o tronco da galhada fazia. Em fim conseguiram resgata o companheiro bastante machucado mas vivo, graças à coragem do experiente guerreiro. O rapaz estava com a perna bastante machucada, tinha também vários riscos pelo corpo, feito pela galhada para onde foi arrastado, os dois forasteiros observavam admirados de toda aquela situação. O homem que salvou o rapaz, tentando consolá-lo diz se isso acontece no rio grande você teria virado comida, pois lá ninguém escapa da bóio-açu (cobra grande).
Passado o susto o jovem se põe de pé em quanto isso na maloca seguem os preparativos para grande festa, varias tartarugas enormes estão de peito pra cima a espera do abate, comida não ira faltar.
Os caçadores chegam trazendo suas presas penduradas em varas, a caçada é contada aos velhos, um deles diz “a cobra só atacou por que vocês estavam caçando no lago dela”. Tiveram sorte, retruca o mais velho dos anciões, a boio – Açu não estava por perto senão muitos não estariam aqui, “a cobra pequena e escrava da boio- Açu e descobre a caça para ela”. O ancião continua: Quando eu era curumim meu pai me levou para flechar “roelo” (tambaqui) no igapó; estava caindo muita semente de seringueira, bremávamos em uma pequena ubá (canoa), meu pai parou num lugar onde havia muito peixe, quando ele estava pronto para acerta o pai do cardume percebeu um pequeno banzeiro na água que estava parada... Meu pai ficou sem piscar.
Ele percebeu que o movimento vinha da raiz de um sacai... Ali uma pequena cobra nos observava, isso deixou o meu pai desconfiado. Ela encostava seu peito na aguá e voltava a se penduradar na raiz meu pai lembrou que meu avô lhe contou que a cobra pequena caça para a cobra grandee le esticou o arco e disparou, acertou no tronco da cabeça da danada, pregou ela no sacai! Ela Ficou se contorcendo até morrer.
O igapó que a gente tava não era muito grande, meu pai desconfiado remou para beira me mandou descer, desceu também e empurrou a ubá pro meio do igapó, ela saiu flutuando bem de vagar...Saímos da beira do igapó e subimos num pau deitado, de lá meu pai olhava a boca do igapó, eu não prestava muita atenção, foi então, meu pai segurou no meu braço e apontou; vinha um banzeiro fraco, seguindo de borbulhas que saia das folhas podres no fundo do igapó, um animal grande se arrastava pelo fundo.
As borbulhas Chegaram bem perto da ubá, o animal foi botando a cara para fora devaga Era a boio - Açu, nunca irei me esquecer a cabeça dela era maior que a de uma anta, tinha dois ossos grandes na frente da cara, pareciam chifres. Achando que a gente estava na Ubá ela abriu a boca então pude ver que os ossos não eram chifres e sim os dentes de baixo.
Atrás da sua cabeça tinha umas coisas parecida com pelos; era lodo do fundo dos rios onde ela deita para esperar os cardumes e come-los. O velho calou-se, os ouvintes com suas expressões faciais pediam “conte mais”...Depois de uma longa pausa ele continua: Ela se jogou por cima da ubá, partindo ela no meio, se nos estivéssemos lá ela teria matado a gente... Depois disso desapareceu na aguá meu pai e eu voltamos por dentro da mata e nunca mais ninguém foi pescar nesse igapó.
O peara velho terminou a historia e continuou o colar de dentes de anta que fazia. A floresta começa a escurecer os pássaros passam em bandos, vão dormir na beira do grande rio. Uma grande fogueira com tronco de arvores começa a ser acessa, vai começa a festa. Longe dali em uma gruta um fraco fogo ilumina o rosto enrugado de um velho, seus olhos vidrados e sentidos aguçados ouve o sussurrar que o vento trás. Ao passo que a noite vai esfriando, começa a ouvir melhor o som dos rituais que acontece na sua antiga tribo, seu coração nesse momento é só solidão.
A festa durará três dias, e três noites selando os laços matrimoniais entre os índios do extremo norte e os da bacia do grande rio Negro. Para sair do bucolismo em sua gruta o velho pagé aspira um pó alucinógeno que ele mesmo fez... Após alguns instantes começa a entoar em voz baixa uma antiga canção, chama para dentro de si o espírito do Kaikushi (onça- pintada). Apaga o fogo com os pés, a floresta entra em trevas, o velho pajé começa a caminhar enxergando tudo em sua frente, seu corpo não sofreu nenhuma metamorfose física, mas seu espírito sim, seus movimentos agora são o de um onça pintada movendo-se furtivamente pela floresta até chegar aos arredores da festa, Com movimentos veloz de um felino sobe em uma arvore tombada, do alto observa as silhuetas comemorando envolta da grande fogueira. Toda a floresta parece silenciar para ouvir a festa, a lua contribui dando sua parcela, surge em meio às nuvens distribuindo seu prateado pela copa das arvores e em tudo que consegue tocar, inclusive o corpo camuflado do velho que imóvel emcima da arvore observa...
Os três dias passam rápido é a hora dos parentes dos noivos se prepararem para a volta a terra das cachoeiras quanto aos noivos esses poderão partir levando suas esposas somente depois que passarem um ano.
III CAPITULO:
Nove meses e alguns dias ficaram para trásG\,ddd agora crianças irão nascer uma das jovens de cócoras em cima de uma esteira da gritos de dor, ela darà a luz a uma criança um menino, deixará todos muito orgulhosos.
Passado um dia é a vez de outra jovem sentir as dores e dar a luz, por coincidencia um outro menino, ira nascer o filho do Papagaio “Oro- Wê”dessa vez o clã não ficará muito orgulhoso, a criança nasce vem com deficiência seus pés convergem. A mãe não quis nem tocar na criança, a velha índia que a amparou na hora do parto gritou “curumim-pirá” (o menino com pés de peixe) logo entregou criança ao pai, cuja tarefa era sacrificá-la automaticamente é a lei da floresta, “nasceu com deficiência, morre”.
O jovem Oro-Wê com seu filho no colo sentia-se impotente, caminhou de um lado para outro, apesar de seus poderes de xamã não conhecia uma formula magica para curar o seu primeiro fiho. Chamou o novo Pagé da tribo, esse olhou o pequeno tocou-lhe os pés e disse: “esse a lua ira devorar” ele é “curumim-pirá” (menino peixe) soprou tabaco nele e disse: “o demonio que se arrasta pelo fundo do rio tocou na mãe da criança Quando ela estava gravida e tomava banho no rio, por isso o curumim nasceu com pés igual nadadeira, não tem cura... terá que sacrifica-lo, devolvendo-o para o rio.
O jovem pai baixou a cabeça e retirou-se com a criança, já sabendo o que teria que fazer, iria sacrifica-lá mas, não a entregara ao demonio do rio. Acomodou-o dentro de um “jamanchi” (cesto) pegou seu arco e flechas e se embrenhou mata adentro, resolveu que iria abandoná-lo na floresta para ser devorado pela lua e seus filhos, ao invés de matá-lo afogado como era tradição ali.
Assim que se afastou bastante da maloca percebeu que estava sendo seguido por um animal, um felino talvez, atraído quem sabe pelo cheiro de sangue do parto. Caminhou muito, suas pernas jà estavam ficarem cansadas. Chegou a um lugar de floresta, local onde a mata não era escura, havia arvores muito altas lugar bastante bonito com bastante passagem para a lua, havia tambem muitas pedras todas cobertas de musgo e samambaias. Resolveu que ali seria o lugar para abandonar seu filho.
Sem remorso algum retirou-o de dentro do sexto pondo-o sobre uma das pedras, olhou para a criança, retirou seu cordão onde estava a sua sombra (alma) e colocou-o na criança para que essa o acompanha-se de volta para as estrelas. Jogou o sexto para o lado e saiu caminhando sem olhar para tras... deixou para que os espiritos da floresta fizessem companhia ao seu filho, caminhando de volta o jovem desapareceu, nesse momento os olhos felinos que supostamente o seguia aproximaram-se cada vez mais do recém nascido, este começou a chorar, parecia adivinhar o seu destino…
Continua daqui a uma semana...