Sapo Cururu.
SAPO CURURU.
Conto de Honorato Ribeiro.
Uma casinha de taipa com cobertura de palhas de coqueiro, à beira do Velho Chico, ao lado um gigante pé de jatobá, morava um pescador solitário, apelidado por Caçote. Ele era aleijado e suas pernas eram cruzadas uma a outra como se ajeita para assentas-se ao chão. Andava com as mãos servindo-lhes de pés e o seu tronco suspenso a balançar com o movimento do andar com uma habilidade incrível. Trabalhava como pescador. Mergulhava e nadava bem. Conhecia bem o rio da Unidade Nacional e vivia da pesca. Sua vida era sentado no piloto de sua canoa a pescar de anzol. Pescava de caceia noite e dia. O seu tronco era de uma figura forte. Quando estava sentado ninguém percebia que ele era aleijado. Eu o conheci e me lembro dele.
À noite, céu estrelado, lua clara mostrava o grande tapete natural dormia placidamente o Velho Chico; enquanto a sua canoa deslizava serenamente; e os sapos, batráquios cantadores repetiam-se harmoniosamente o dobrado em fá maior, onomatopaico, que rasgava noite adentro, numa sinfonia de Beethoven como numa sonata em fá maior....
Mas o guru, maestro cururu regia com naturalidade como quem conhece bem partitura de cor com sua batuta regia os outros anuros. Começou a peça com o contrabaixo, depois, suavemente soaram o violoncelo, a marcação, o barítono, os pistões, o bombo, a caixa e os demais instrumentos que se compõem a orquestra de câmara são ouvido pelo pescador Caçote todas as noites de pescaria. O prato soa forte, quando sai do “andantino” pelo forte som de presságio da coruja, ave noturna. Os sapinhos com sua flauta, pistão, clarinete completa toda a harmonia, ora piano, ora pianíssimo; ora forte, ora fortíssimo com a entrada dos grilos que enchiam em tons diversos a completar, oficialmente a sonata da noite.
Caçote que é homem batizado e sacramentado, talvez trouxesse o nome de Francisco, e não fora conhecido por Chico pescador, mas Caçote. Lá estava sentado no piloto de sua canoa descendo rio a baixo a puxar a linha pra lá e pra cá a espera de o peixe fisgar escutando a melodia onomatopéica em concerto sinfônico e não tinha sono. De olhos arregalados para a planície das águas do Velho Chico; pacientemente esperava a hora certa para fisgar o peixe. Ele conhece bem o timbre de voz de cada batráquio. Olha para o céu estrelado, encanta-se com a lua qual um poeta, e sorrir contente. Ele ouve a voz do socó boi, que da moita entoa a sua harmonia noturna.
A barra do dia vai chegando e o céu se torna avermelhado. Naquele momento ele sente o puxavão forte e puxa a corda e sente que fisgou um grande peixe, quase lhe arrancando o braço: é um enorme surubim. Caçote, com habilidade de sempre, vai cansando o peixe até dominar por completo e retira d`água e coloca em sua canoa. Volta pra sua casa com sua riqueza, pois o surubim é de dez palmos; vai dar bom dinheiro vendendo aos moradores de Carinhanha.
Gaivotas, mergulhões e outras aves ribeirinhas voam livres cantando e dando seus voos rasantes quase beijando o Velho Chico. Caçote sabe que tem de descansar, pois não dormiu à noite, mas recorda de ter ouvida a sinfonia noturna com a batuta do maestro sapo cururu. A única coisa que Caçote aprendeu foi agradecer a Deus por ter o dom de saber pescar, em sendo aleijado, mas se sente sadio e não tem inveja de alguns sem aleijo não saber fazer o que ele faz: nadar, mergulhar, remar e pescar.
hagaribeiro.