Poetas são perigosos...



      José Paulo, tão tímido quanto inspirado poeta, apaixonou-se perdidamente por Natália, que exibia a sua bela morenice na seção de pessoal do banco onde trabalhava. Não sabendo como abordá-la para iniciar os trâmites de um namoro, procurou aconselhar-se com Nelson, colega de seção de Natália:
      - Cara, estou loucamente apaixonado pela Natália, mas me falta coragem para me declarar. Que faço, cara, que faço?
      - Hum, não és poeta, daqueles que sabem fazer versos de amor?
      - Sim, mas...
      - Nem mais nem menos, cara, nenhuma mulher resiste a belos e chorosos versos de amor, e Natália, além disso, adora poesias! Manda versos de amor para a gata e logo a terás nos braços!
      - Mas como agir para que Natália receba os meus versos de amor?
      - Faz os versos, cara, e eu os entrego para a tua musa.
      - Sério? Poxa, que legal, tu és um amigão mesmo.
      Então, durante dois meses, Nelson recebeu poemas de amor das mãos de José Paulo para entregá-los à Natália. Durante esse tempo, quando José Paulo perguntava a Nelson se a bela já estava devidamente convencida para topar um encontro, Nelson respondia;
      - Tá quase, tá quase... Manda mais um poeminha.
      Mas, de repente, soube-se que Natália pedira demissão do banco e José Paulo a perdeu completamente de vista, pois Nelson informou que ela voltara para o seu distante rincão natal amazonense.
      Meses depois, Natália, toda suspirosa, reclamava para o marido:
      - Meu bem, quando nos conhecemos, logo percebi que eras um genial poeta. Antes de me apaixonar por ti, foi por teus maravilhosos versos que me senti atraída. Por que nunca mais fizeste poesias?
      - Ando numa fase de pouca inspiração - respondeu Nelson, e se lembrando de um verso de um colega de banco, arrematou com esta pérola lírica: - Mas nem preciso, meu bem, pois você é meu poema vivo.

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 10/05/2011
Reeditado em 10/05/2011
Código do texto: T2960603
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