Má gramática

Eu já conheço a tua gramática, a tua regência, a tua acentuação. Já estudei teu dicionário, procurei tuas discrepâncias, entendi tua sinonímia. Eu conheço os teus três jeitos e os verbos que conjugas: teus subjuntivos e imperativos. Por isso não olhes minha gramática com os olhos tão cerrados, ela me erra! Por vezes ela me esquece, por vezes eu a esqueço. A gramática que aprendi não foi a minha e sim a tua.

As palavras já me faltam. Escrever é também saber traduzir-se, e logo eu, que passei tanto tempo traduzindo você em mim, não consigo transcrever-me nessa história. Talvez eu deva me apresentar, afinal, tenho quase um mestrado em você, e você não me conhece em nada mais do que aquilo que quero deixar transparecer. Meus escapismos são também teus escapismos, porque mesmo inconscientemente você está perto, perto o suficiente para poder me ler.

Bem vindo ao meu mundo, ele se resume a quatro paredes brancas e um convite ao devaneio. Na primeira parede há setas que indicam os caminhos errados, os certos eu desconheço. Na segunda, há nossas fotos marcadas de risos e de choros e tudo o que eu já guardei, há quase um dossiê completo de nós. Na terceira parede há música, letras que se pintaram em notas, ritmos que se pintaram em partituras, em pauta, em clave, em dós. Na última há um sol, frases dos meus dias mais revoltados pintadas em vermelho sangue, mares de lágrimas pintados a óleo, imagens de Apolo, fixações. Bem vindo ao meu mundo. As quatro paredes são, de fato, brancas, e os convites até aqui, talvez não tão diretos, são também um devaneio.

Sah
Enviado por Sah em 06/05/2011
Código do texto: T2953820
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