O amor soube esperar

O dia estava nascendo, a natureza preparava com harmonia de cores para receber o astro maior, o sol. Pois fazia dias que ele não aparecia, porque as águas de março teimavam em descer torrencialmente. Os seus raios dourados batia na mata serrada e úmida que fazia fundos com a casa de Ernesto. Era uma pintura magnífica. Ele sempre alimentava uma espera infinita.

Ernesto, filho único de um casal de empregado da fazenda, nasceu e se criou nesse mesmo lugar, estudou na cidade vizinha. Fez agronomia e entendia de todos os assuntos agropecuários. Ele é um empregado fiel aos olhos do patrão e sem nenhuma ambição. O seu sonho, nunca ninguém se interessou em saber. Com certeza ele carrega um sonho maior. Os anos se passaram e estraçalharam com mãos invisíveis a beleza que trazia em sua juventude. Pelos traços nota-se que foi um jovem muito bonito, ainda traz o anseio que não pode ser vencido pelas agruras da vida, nem esquecido pelo perpassar dos anos.

O sol já estava alto, Ernesto já havia partido para a lida cotidiana bem antes de a fazenda acordar. Não dormira nada naquela noite, seus olhos permaneceram abertos diante da idéia transparente do que ia ter que enfrentar nos próximos dias. Ele sentia uma onda de inesquecível lembrança. Nada mais, nada menos que o eco incontrolável dos sentimentos. Era um amor, cujos lábios macios tocaram sua lembrança. Era um sentimento adormecido, abarcando o seu mundo real e enchendo seu coração de novas esperanças de um amor ardente e ao mesmo tempo impossível.

Ali olhou para a casa grande e seus olhos sonolentos, se tornaram bem despertos quando vislumbrou aquela figura querida. A mulher que amara um dia estava de volta. Ela viera para tomar posse da fazenda. Lucia era a única herdeira do patrão que havia falecido há uma semana. Ela não viera ao velório porque morava do outro lado do mundo, precisamente numa cidade no interior do Japão. O pai persuadira a se casar com um amigo da família que unira grande interesse em comum. Todo esse tempo suspirara amargamente e chorara penosamente, pois vivera uma copiosa solidão, uma saudade ardente como se houvesse uma fogueira instransponível entre o seu coração e o coração de Ernesto, de quem se separou sem se despedir. Casara-se com o empresário Herculano e tivera um filho que foi sua única alegria nesse tempo de nostalgia. Desde que se casara nunca mais voltora à fazenda, Às vezes seu filho Lucas e Herculano vinha ao Brasil e aproveitava para rever o avô. Ficara casada por vinte e cinco anos. Havia perdido o marido num desastre de avião há 3 anos.

E agora não teve escolha, precisou voltar ao Brasil e retomar as coisas que eram suas por direito. E temia não encontrar mais o seu amado Ernesto. Ela ficou todos esses anos sem saber noticias dele, pois quando se casara todos sabiam da história dos dois enamorados. E fizeram tudo para dificultar qualquer aproximação.

Caminhou no meio do orvalho, ruminando pensamentos tentando encontrar palavras para não perder a magia do instante a vir e apressou os passos. Ao olhar aquela mulher com um semblante triste e amargurado, seu coração acelerou e sua tez se enrubesceu.

Os dois se entreolharam. As lágrimas se desencadearam nas faces saudosas. Gemeram-lhes o coração, arfante, um fluxo e refluxo de um vento tempestuoso. Sem nenhuma palavra se abraçaram e se beijaram perdidamente.

Um grande amor capaz de atravessar o mundo e se erguer como uma luz, a indicar o caminho de volta ao coração amado.

Angeluar
Enviado por Angeluar em 01/05/2011
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