LENDAS - LIA DE SÁ LEITÃO - 1?05/2011

Há pouco me vi lendo sobre as lendas, e senti um desejo enorme de brincar um pouco com o estilo narrativo do maravilhoso, a criação oral que segue o rumo da tecnologia e deságua em um universo sublime, a Literatura.

Segundo o folclorista brasileiro Câmara Cascudo no livro Literatura Oral no Brasil:

Iguais em várias partes do mundo, semelhantes há dezenas de séculos, diferem em pormenores, e essa diferenciação caracteriza, sinalando o típico, imobilizando-a num ponto certo da terra. Sem que o documento histórico garanta veracidade, o povo ressuscita o passado, indicando as passagens, mostrando, como referências indiscutíveis para a verificação racionalista, os lugares onde o fato ocorreu. CASCUDO, 1978 , p. 51

A lenda por sua origem na oralidade, nas narrativas de avó, sentadas nos terraços das casas esperando o sono da noite arrebatar os menores que escutam atentamente as narrativas em terceira pessoa acentuando as tragédias do destino e a vontade de vencer as agrúras do desconhecido.

As riquezas do lendário brasileiro destacam narrativas fantásticas e tradicionalmente conhecidas em todo o território, pode-se citar, o Boitatá, Boiúna, Salamandra, Curupira, Iara, Mula sem cabeça, Comadre Florzinha, Saci Pererê, Vitória Régia, Descoberta da Rede de dormir, Negrinho do Pastoreio e outras tantas narrativas não menos valorosas. A estrutura básica dos é algo bem divertido para trabalhar a criação ou recriação de textos com adolescentes.

Introdução – Logo na introdução o protagonista principal é apresentado na narrativa e dessa feita, também se expõe o problema que interfere na sua vida.

Exemplificando:

Ali na selva existiam vários igarapés, mas aquele lá no final da curva do grande rio era o mais profundo e a correnteza das águas formavam pequenas cachoeiras com algumas corredeiras que desaguavam em um lago verde que proporcionava um ar romântico ao local. O silêncio era entendido pelos pássaros da redondeza que harmonizavam com a natureza todos os momentos até o final da tarde quando se ouvia uma voz maravilhosa que entoava tristes canções de amor. Era Iara a linda sereia dos rios que entoava canções de saudades.

Desenvolvimento – nesse momento a lenda toma um corpo significativo pois, a narrativa abrange o mistério, o inusitado, o maravilhoso.

Exemplificando.

1º Conflito – apresentação do problema que aponta a causa principal do personagem ser visto como um presságio do bem ou do mal.

Os caçadores e pescadores da tribo mais próxima daquele igarapé evitavam aquele local de fartura por causa dos mistérios que envolviam as matas próximas. Ouviam-se com nitidez gemidos e gritos, vozes de índios que sumiram naquela lagoa, destemidos guerreiros que prometeram desvendar o segredo dos medos de seu povo. Alguns diziam que ali era a moradia de uma cobra d´água que se alimentava com aqueles guerreiros, outros falavam que era a profundidade do lago que sugava o guerreiro até um reino desconhecido no centro da terra habitado por espíritos invejosos e maus que levavam a vítima até as profundezas e depois a tornava um escravo.Outros revelavam que nada disso era verdade e sim, a Iara, uma linda índia expulsa de sua tribo por causa de sua soberba e desdém com todos os seus irmãos. Um dia Tupã fez um jovem índio pedir a Iara em casamento. Mais uma vez ela desdenhou e o jovem desapareceu na mata para nunca mais voltar, seus pais pediram ajuda de Tupã que sabia o local exato em que o rapaz se encontrava. Mostrou em sonho para o pajé da tribo que ao correr com todos os índios até lá para socorrer o jovem índio era tarde e o guerreiro estava morto envenenado com um chá de raiz.

2º conflito – conseqüência relacionada ao fato do primeiro conflito, se tem desfecho punitivo ou não.

Exemplificando.

Todos os membros da tribo indignados com aquela situação resolveram punir a Iara com o degredo da tribo. A moça mesmo sendo expulsa de sua comunidade não externou nenhum sentimento de arrependimento e partiu com uns poucos objetos rumo a selva, procurou clareiras e nãos as encontrou. Buscou apoio em outras tribos, mas a fama de má já havia se espalhado e ninguém dava pouso.

Iara volta para selva e encontra um espírito mal que promete vingança e ela aceita entregando a sua alma aquele pajé maligno e logo o índio inicia um ritual de pajelança do mal e a Iara já se modifica com cabelos ainda mais longos e esverdeados como limbo, sua pele toma a cor de canela, mas as suas pernas somem e a metade do seu corpo toma aspecto de peixe. Iara se revolta com o velho bruxo,mas era tarde, ele havia renovado as suas forças do mal com a alma da jovem índia e sumiu no tempo para não ouvir os seus lamentos.

A Iara arrastou-se até aquele igarapé e mergulhou para que ninguém a visse de perto, seu lamento era pedir perdão de seus malefícios na tribo, mas isso era impossível porque a sorte já estava lançada e seu destino seria seduzir os índios para seu reino debaixo das águas tornando-os súditos infelizes.

Conclusão – a conclusão pode servir de lição positiva ou de alerta para que não se concorra com males semelhantes na vida cotidiana.

Exemplificando.

Finalmente a Iara estava fadada a passar o resto de sua vida ali naquele igarapé, solitária e infeliz por não poder pedir desculpas aos membros da tribo e viver separada até dos animais da florestas que morriam de medo de seu canto sedutor que levava a morte e depois a escravidão no fundo do lago.

Agora é fazer por onde a criação dos adolescentes aflore para a criação de novas roupagens das lendas mais conhecidas.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 01/05/2011
Reeditado em 11/02/2012
Código do texto: T2942365
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.