Como dois e dois são cinco

Na semana passada Lúcia toma um choque ao ver um colega da faculdade trabalhando como carteiro. - Mas como pode um quase matemático,com um futuro promissor se rebaixar a um cargo que não irá aprimorar suas habilidades na profissão? pensou. A repugnância inicial mesclando a vergonha deste sentimento a fez optar por "não ver". Seria muito mais fácil, cômodo, conclui. O interessante é que com as idas e vindas desta "roda viva" alguns minutos depois encontra Maurício novamente e desta vez opta por ir ao seu encontro. - Olá, como está? Quanto tempo. E Paola? Mande lembranças para ela. E conversa vai, conversa vem, ele informa que por conta do trabalho tranca a universidade, impossível conciliar, trabalho o dia todo, lamenta. Nas entrelinhas o que ele comenta, pondera Lúcia, é que esta é uma boa opção, ao menos temporariamente, a ser feita num mundo a dois. Maurício e Paola, casados, tiveram que fazer algumas escolhas em prol da sobrevivência. Paola está trabalhando na área, parece que feliz por ter a opção de trabalhar em algo que estudou anos a fio. Quanto a Maurício, Lúcia não sabe. Seu olhar, meio cabisbaixo, acanhado, de repente se torna mais altivo, - Mas retornarei a estudar, comenta com esperança num futuro certo como dois e dois são cinco. A despedida foi abreviada pela necessidade de ambos seguirem seus rumos mas se deu para Lúcia como um sopro de paz, como se um espectro houvesse sido expulso em meio aquele dia chuvoso e cheio de interrogações.

Isabel Lima F
Enviado por Isabel Lima F em 30/04/2011
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