Ideologia

IDEOLOGIA

“E com 65% dos votos no segundo turno das eleições, o novo governador do Amazonas é João Carlos da Silva.”

Não acredito que eu, Renato Cunha Maia, em Manaus, novembro de 2010, tinha acabado de receber a noticia mais triste de minha vida até agora. Afinal, eu tenho 22 anos e sou recém formado em direito. Essa tinha sido a primeira eleição de minha vida e do novo partido do qual eu faço parte, o PFB (Partido Futurista Brasileiro).

Nos próximos dois meses eu não consegui pensar em mais nada além das eleições e continuei trabalhando pouco e vivendo aquela vida medíocre. Até que meu primo me convidou para ir a uma festa em um clube novo perto do rio. Fui com ele.

Chegando lá, eu não conseguia ouvir mais nada além de uma batida que pulsava em todo o meu corpo. Eu me separei do meu primo, comecei a beber, dançar, conhecer pessoas e estava curtindo muito a festa. Depois disso não me lembro de mais nada além de acordar em um motel, sem ninguém e com uma tatuagem tribal em meu braço direito.

Depois daquela festa eu comecei a participar de muitas outras baladas, comemorações, shows e coisas do gênero. Eu acho que estava fazendo isso pois estava perdido e me sentia impotente, incapaz, sem vontade de fazer nada.

Um dia, meu telefone tocou, era Marcelo, meu chefe. Ele me disse que havia conseguido uma vaga para mim como assessor de um deputado estadual. Eu fiquei muito feliz e comecei a trabalhar muito, mas sem deixar de ir às festas nas noites de sexta e sábado.

Um dia, em um dos shows em que fui, um amigo de trabalho, ofereceu-me maconha. Eu , para não ficar com cara de bobo, experimentei. Não consegui mais parar e como quase todos no trabalho, fiquei viciado.

Eu estava ficando doente, queria cada vez mais, mas não percebia. Uma das coisas que eu não conseguia esquecer era que as eleições de novembro de 2010 foram corruptamente manipuladas, como quase tudo na política de Manaus. Agora, porém, eu fazia parte dessa corja, como assessor do chefe do “poderoso chefão” . Agora, além de doente estava perdido, doido, neurótico. Comecei a freqüentar vários médicos, psicólogos e terapeutas e com eles tinha começado a refletir sobre todos os planos que eu colocaria em prática para mudar Manaus, Amazonas, o Brasil e até o Mundo. Nem esses profissionais conseguiram me ajudar. Eu estava parando de trabalhar e cada vez mais ir a festas e usar drogas

“Tudo isso está passando por minha cabeça nesse exato momento, eu estou no topo de um edifício, escrevendo nesse papel minha história e todas as minhas idéias.”

Amarrei este papel em minha cabeça. Em minha imaginação, pulei o mais alto que pude, vi o prédio passando ao meu lado, os pássaros voando, as árvores parecendo maiores, o tempo desacelerando... As pessoas me olhando iam crescendo, os carros iam crescendo até as formigas iam crescendo. O chão ia chegando mais perto, mais perto e mais perto ainda, quando, finalmente ... Caí na realidade: será que isso tudo valia a pena? Como eu poderia desistir de mim se, há pouco tempo atrás eu era o representante do Partido Futurista Brasileiro.

Dei meia volta, finquei os pés no chão e voltei para minha vidinha medíocre. Porém, dessa vez, tudo parecia diferente. Pensei, orgulhoso de mim: Em 2014 a história será outra!

Alexandre Meneghesso
Enviado por Alexandre Meneghesso em 28/04/2011
Código do texto: T2937195
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