Casa de avós tem cheiro de abraço em dias de tempestade
Sempre achei que os avós eram como mágicos que faziam brotar do medo mais assombroso coragem para olhar e perceber que as situações não são tão terríveis como às vezes pensamos que são.
Minha avó dizia: - “Sei que você se assusta com essa chuva de pedrinhas e com o barulho que elas fazem quando batem contra o telhado , mas fique calma porque, na verdade, essas pedras de gelo são rosas que Deus joga para todos do céu. Por isso, essa chuva se chama de rosas e não de pedras. As coisas nem sempre são o que parecem!”
Como eu acreditava nas verdades da vovó!
Neste mesmo dia me senti culpada por chupar às escondidas as "rosas" de Deus e me perguntava o porquê de as pedrinhas machucarem meu corpo quando caíam do céu, já que eram rosas.
Bom, as rosas do céu talvez fossem diferentes das rosas da Terra. Pensava eu.
“As coisas nem sempre são o que parecem!”
Como minha avó me fez pensar!
Certo dia, observei por algum tempo uma pedra de gelo derreter na esperança de enxergar uma rosa. Princípio da reversibilidade.
Em outras situações, ouvia broncas por achar que um “não” da minha mãe pudesse ser um “sim”. Princípio da malandragem.
A verdade é que nunca sabia aplicar as sábias palavras da vovó, mas foi dessa forma, errando, que aprendi a acertar mais.
Naquela tarde a chuva cessou e as "rosas" cobriram toda calçada.
As ruas ficaram como em dias de procissão de Corpus Christ... Ruas prontas para receber e cobrir de glória a visita do menino Jesus.
Parece-me que naquele dia as pedras tinham cheiro de rosas e a tempestade se foi com cheiro de abraço de avós.