A velha Margareth - parte IV - especial de Natal
Carlos entrou no escritório vazio. Entrou na Internet em cada computador que encontrou pela frente.
Não havia jeito. Sua conta estava zerada. Não deixaram um centavo sequer. Os milhões de reais da sua conta, tão importantes, haviam desaparecido como por encanto.
Parecia a cena do filme Gosth.
Foi ao banheiro, lavou o rosto, tentou ligar para a sua agência, mas era véspera de Natal, sete horas da noite apontava o relógio, ninguém o atenderia.
Carlos foi até seu carro. Antes de sair do estacionamento, ligou para José.
-Tem que acreditar em mim, cara… me ferraram, fui roubado, não sei como, há dois dias atrás estava tudo lá e agora sumiu.
-Eu acredito, Carlos, o problema vai ser o chefe acreditar. Os sócios dele queriam o dinheiro até hoje à tarde. Você sabe… ele odeia atrasos.
-Me dá mais algumas horas.
José suspirou no outro lado da linha,
-Você tem meia hora, Carlos.
Carlos chegou em casa.A sogra acabava de fazer rabanadas, seus sobrinhos e filhos correndo pela casa discutindo como o Papai Noel entraria para deixar os presentes – se pela chaminé, ou com a chave mágica ou se tele-transportando. Sua mulher, jovem e bela, de avental e sorriso no rosto o recebeu.
-Querido, acabei de esconder os presentes, seu irmão disse que vai se atrasar um pouco e temos que conseguir arrumar os colchões para as minhas irmãs.
Carlos olhou para a mulher.
-Claro, claro, faça o que quiser.
-Eu quero a sua ajuda.
-Agora eu não posso querida, sim, me entenda.
Subiu as escadas com pressa. Trancou-se no escritório e ligou o computador. Tentou rastrear o desgraçado que havia roubado todo o seu dinheiro. Ou melhor, dinheiro dos outros, e isso era o pior.
Minutos se passaram. O telefone celular tocou.
-Alô.
-Carlos, sou eu.
-José, eu rastreei o extrato, não há nada. Pelo amor de Deus, como que tanto dinheiro pode desaparecer sem deixar vestígios? Depois do feriado eu irei procurar o gerente…
-Um carro irá te pegar às onze horas da noite – disse José.
Carlos engoliu seco.
-E minha família?
-Eles ficarão bem, eu lhe garanto, o chefe depositará seu fundo de garantia na conta de sua esposa.
Carlos desligou o telefone, desceu as escadas vislumbrando cada móvel caríssimo da sua bela casa. Os familiares conversavam com ele, mas as palavras não fora ouvidas. Olhou a árvore de natal, e sentiu vontade de vomitar.
Às onze em ponto, um carro estacionou na frente da sua casa.
Carlos tomou banho e se arrumou.
-Onde você vai uma hora dessas?
-Eu tenho que resolver um problema – disse Carlos a mulher – Cuide das crianças, não deixe faltar nada para elas.
-Claro que não, eu irei servi-las na hora da ceia.
Carlos saiu sem dizer mais nada. Entrou no carro e sentou-se ao lado de um homem.
-Sr. Carlos, boa noite. Fui enviado pelo seu chefe, antes de resolvermos este problema gostaria de mostrar-lhe algo.
O carro foi até uma escola em uma comunidade carente. Faltavam dez para meia-noite, e lá dentro podiam-se ouvir milhares de crianças e famílias pobres ao redor de diversas mesas repletas de comida e árvores de natal repletas de presentes, uma festa de dar inveja a muita gente rica.
-Todo o dinheiro na sua conta foi retirado e dividido entre diversas escolas carentes para proporcionar um natal melhor a muitas famílias. Seu chefe não sabe disso, é evidente, e ele será vitima do mesmo processo de retirada de dinheiro de suas contas particulares dentro de uma semana, e seus sócios corruptos também, em pouco tempo estarão todos falidos.
Carlos virou-se para o homem ao seu lado.
-Quem é você?
-Meu nome é Augusto.
O tiro atingiu Carlos no peito. Ele morreu em menos de dois minutos. Augusto foi silencioso como de costume. Pediu ao motorista para seguir seu caminho normalmente, e fez uma ligação do celular.
-Sr. Margareth, nós deixaremos o corpo em uma praça vazia, como a senhora pediu.
-Fico satisfeita – disse a mulher, ao fundo a voz de crianças e adultos festejando o Natal – Amanhã comprarei o jornal bem cedo para ver a repercussão do crime atingiu um dos maiores fraudadores da previdência da história.
Margareth mastigou um pedaço de peru.
-Não quer vir se juntar a nós, Augusto, meus netos adoraram lhe conhecer. E minha rabanada é a melhor do nordeste. Pode acreditar.
-Agradeço minha senhora, mas tenho outras coisas a fazer.
-Tudo bem seu anti-social. Feliz Natal Augusto.
-Feliz Natal, Sr. Margareth.
O carro desapareceu na esquina.