Onze anos

Que cu de vida, Joana. Quero ir embora. Quando voce quis vim pra esse lugar

Dei meu voto de confiança. E ai, já estamos aqui. Nada do que você falou deu certo

E agora. Vamos ficar nesse cafundó até quando. Aqui está sua familia. Mas e eu.

O que sou pra você. Me diga joana o que sou pra você?

Falei pra ela no olho. Abaixou as vistas e começou a rir igual uma cadela. Arrumei

Minhas coisas e partir. Aquela risada cinica diante de minha insatisfação. Cadela

Ingrata. Tem mulher que só pensa nela, percebe? Que não adianta você dar o coro.

Trabalhar por ela, dar atenção. Amar um troço desse so diminuindo. Sendo pouco.

Bem pouco, um nadinha de nada. Assim foi minha rotina com Joana. Com ela

Eu era um tampinha de garrafa. Solta ainda. Sem serventia. Não dá mais.

Conheci essa mulher quase por acaso. Fui no comercio comprar um livro. Estudava nessa ocasião.

Final de ano letivo quis comprar algo pra reforçar meus estudos. Bem no centro, ali, perto da feira,

Sentei a porta do cinema e folheava uns panfletos, quando ela passou. Deu uma olhada e passou

Por uma pilastra, atravessou e olhou de novo. Levantei e fui atras dela. passos rapidos e contidos.

Não queria ser percebido. De repente ela parou. Tinha chegado sua casa. Tentei esconder em vão ela me viu

E me reconheceu como o homem que estava sentado no cinema. E perguntou pra mim: “você esta me seguindo?” eu disse que sim. Sem graça e contrangido. Pior foi o que ela disse logo depois: “você fez isso

Quantas vezes hoje? Minha base tremeu. Neguei que fizesse aquilo por habito. Disse-lhe apenas que gostei

Dela e que queria conhecer...me confidou pra entrar. Não na casa, mas na area da frente onde havia uns bancos de madeira e um poste de luz clareando vagamente o ambiente. E conversamos muito. Disse

De mim. das minhas vontades. De onde eu morava. Trivial, pequenos instantes que o pouco de intimidade permitia. Naquele dia imaginei que Joana fosse a mulher de minha vida. Saimos uma semana depois.

Fomos ao cinema. Entre esse cinema e hoje, quando fui emboram, passou onze anos.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 27/04/2011
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