* Último suspiro
"I’ll miss the winter, a world of fragile things."
O carro parado à beira de um precipício em uma BR qualquer. Precisava pensar, mas não queria. Estava contente, ainda havia chances de arrependimento.
Sabe o que mais doía? Ela não sabia. Era no coração, mas era indecifrável.
Sorriu. Quem sorri neste tipo de situação?
Resolveu repensar os motivos que a fizeram dirigir até ali, trepidante. Ela não tinha mais um marido, ela não tinha mais um emprego, ela não tinha mais uma vidinha comum, da qual sempre reclamara.
Olhou para as árvores, desejando ter a eternidade delas. Se queria ser eterna, por que raios estava ali, quase jogando seu carro contra um fim imutável?
Chacoalhou a cabeça, tentando reorganizar os pensamentos. Não seria tão covarde, aliás, pagou o pedágio jurando que seria a última nota que gastaria na vida.
Entrou novamente no carro e o ligou. Esvaziou a mente cantando mantras quaisquer, que em sua maioria dizia que a vida não tinha mais lógica. É, ela estava em um beco quase sem saída.
Arrancou com o carro, não em direção ao precipício, e sim seguindo a pista.
Em um lapso de arrependimento, deu ré, rumo à morte sem escapatória. Ouviu sirenes de polícia. E daí que eles iam multá-la?
“Bota na conta do Papa!” – Falou olhando pelo retrovisor. Deus! Aquilo não fazia sentido algum!
E sentiu sua cabeça batendo contra o volante, violentamente. Desacordou.
Enquanto o carro capotava, sentia o sangue quente escorrer da testa, e se aquilo não desse certo? E se ela, como castigo divino, nunca mais pudesse andar?
Não houve tempo de pensar mais nada.
Um barulho de combustão foi ouvido e ela sentia as chamas a queimando. Doeu, mas durou pouco.
E todo sentido que ela estava buscando se esvaiu.