Maria
Era a primeira semana de agosto, quando nos conhecemos, ela estava tão distante, parecia querer ouvir o som do próprio grito. Começamos a conversar, ela queria apenas um ombro para se aconchegar, mas não confiava em mais ninguém, sofria por dentro.
Seu nome. Maria trazia o sol nas mãos, o brilho do luar nos olhos, o resplendor das estrelas.
Sombras tentavam encobrir seus sonhos, mas acreditava que “amar podia dar certo”.
Buscava encontrar o amor, acreditava que alguém iria chegar e ficar, cuidar do seu coração magoado. Gostava do sol, vibrava com a beleza da lua, gostava de flores e poesias. Sentei-me bem próximo a ela, podia ver o brilho dos seus olhos, nossas almas se uniram e eu senti toda força de Maria, mas não poderia ficar em sua vida, e fui embora deixando um rosto para ela amar e um coração cheio de sonhos, acreditando no amor.
Fui sem deixar rastros para ela me achar, eu queria ser amado por ela, não um compromisso com o amor. Fiquei dentro de Maria, seu coração me levava para onde quer que ela fosse, através dos olhos dela, eu via tudo belo, o sol que ela assistia nascer, deitada na rede contemplava o céu, gostava da chuva, e andar descalça enquanto a chuva caia , era sua alegria.
Mesmo não vendo Maria, sentia a força desse amor. Uma garantia que ela não iria me decepcionar, que os anos, passariam com ternura, ao lado dela, seria tudo novo, mas eu não tinha a garra e a coragem de amar alguém assim como ela me amava. Ela acreditava que um coração partido poderia ser reconstruído. Amava sem cobrança, amava amar.
De dentro dela, participava de sua rotina, do seu despertar às 05h45min, da manha, espreguiçando e soltando o travesseiro que dormia abraçada, o banho quando ensaboava e ensaboava meu cabelo e beijava meu rosto, cheio de xampu. Fazia o café, calmamente o tomava não se importando de estar nua, se sentia uma deusa grega em seu lar, cercado de plantas. Penteava o cabelo me vendo ao lado no espelho, depois de pronta um beijo no espelho, bom dia para casa e um olhar para as plantas.
Ela saia me arrastando junto, de dentro dela eu via o sol dourando seu rosto, o sorriso que surgia, estava começando seu dia.
O trabalho, a escola, a igreja, a solidão, os amigos, as lágrimas que de dentro dela eu impedia que caíssem, as alegrias e os momentos de carinho, as decisões e as aflições, eu segui dentro dela uma viagem fantástica, nossas almas unidas lembrando fatos e rindo a toa.
À tarde o sol se põe e Maria esta em alguma rua olhando e me vendo nela.
O dia termina.
Agora só comigo no pensamento.
Maria foi uma criança só, cresceu sem os pais e na infância não soube o significado de carinho.
Começou a trabalhar cedo, inventou seu próprio estilo, escolheu a solidão como companheira. As amizades falsas desiludiam seu coração, muitos magoaram seu coração, mas ela acreditava no ser humano e continuava amando por esporte, não aceitava que o coração ficasse vazio e quanto mais amava mesmo não sendo correspondida, não desistia do amor e amava tudo e todos.
Em seu aniversario, queria ganhar um presente meu, eu poderia ter cumprido seu desejo, ela sorriria feliz ao ganhar uma arvore e me vendo sorrir.
Eu deixei Maria com seus devaneios, seus sonhos de amar um homem que nada tinha para lhe oferecer, eu sei que ela foi apenas uma ponte para que eu pudesse encontrar um caminho, nada mais que isso. Nas noites, os bares cheios, eu vejo em cada rosto que olho cada boca que beijo e em cada corpo que amo, um pouco da mulher que eu não possuo. Sinto que Maria me olha sem rancor, sem ciúme depois de ter sido traída ela passou a ter amor ou pena das mulheres.
Ela tentou esquecer-me, chegou bem próxima a um outro rosto, mas nesta hora, eu que estava dentro dela, materializei em sua frente e ao olhá-lo ela me viu, me olhou nos olhos e ao ver meus lábio, desistiu. Pobre rapaz, sem saber o que acontecia, olhava Maria com seu olhar distante pairando longe, bem longe dela.
Na mesa do restaurante escrevia meu nome na toalha e pingava gotas de refrigerante na palavra “eu te amo nossas almas riam e brincavam o nosso espetáculo só nosso, e ela sorria apenas”.
Lá se vai mais um dia, calçadas cheias, os ônibus lotados, e a hora que cada um volta para o lar, para os braços de alguém. Começa a escurecer, o sol vermelho se prepara para nascer no Japão. As horas passam rápidas. Da mesa do bar, vejo uma nuvem enorme se formar, da cor negra, e o que sinto é intransferível; algo esta para acontece. O sol lança os últimos raios de sol e se vai.
Uma tempestade começa e uma mulher caminha calmamente na chuva forte, a água lhe molha os cabelos longos, o vestido floral de tecido leve cola ao seu corpo, é Maria que se deixa molhar dançando na praça, brincando com a água.
Petrificado fico olhando, sinto que será de mim e o meu eu interior se encontra com ela, as mãos se tocam, os lábios se unem numa linguagem muda se despedem Maria foi ficando pequena e começou a flutuar, um olhar aquela alma que diz amar, se transforma em um pingo de luz e se foi entre um relâmpago e outro.
Senti-me só, sei que muitas mulheres me amarão e eu talvez ame algumas delas, mas o amor de Maria, com a intensidade e a sinceridade eu não mais encontrarei.
Quando tudo ficou calmo e a chuva caia em gotas finas, notei que uma mulher surgia e era dura como pedra, fria como o gelo, de seus olhos saíam faíscas de indiferença, dos lábios um sorriso cínico surgia.
Algo nela me fez lembrar minha Maria que me amava e me queria do jeito que eu era, inteiro ou aos pedaços, me beijava a face, percorria meu corpo com a língua, me amava de um jeito selvagem, nos amávamos, e depois dormíamos abraçados como bêbados de amor.
Mas ela se foi na tempestade em que transformei a vida dela e eu perdi minha Maria, e a chance de viver um grande amor.
Agora nas noites de chuva, eu posso ver um corpo dançando a luz dos postes e as gotas D’água me lembram o gosto molhado do beijo dela e ainda posso ouvi-la dizer com sua risada franca.
Amo-te
CRISVIANA