NEM SEMPRE
A PÁSCOA É TECIDA
EM CORES
Nem sempre a páscoa é tecida em cores. No ano passado apresentou-se cinzenta para a jovem senhora, quando águas doces da chuva a atingiram com violência, respingando grosseiramente nos vidros já embaçados do carro.
Seus olhos jorravam lágrimas que emergiam do peito e não foram capazes de avaliar o risco de prosseguir na estrada.
Estava feito, pensava ela. A cesta de páscoa havia sido entregue na portaria do condomínio distante de sua casa e o carinho com que a arranjara certamente faria entoar suas mensagens.
Obviamente não haveria o abraço e o toque de pele, ainda que o sangue pulsasse em demasia, contudo, sementes haviam sido plantadas em cada laço, disso ela tinha certeza.
O som emitido pelo celular, momentaneamente a livrou do torpor. Encostou o carro para atender a chamada, com esperança de que a voz anunciasse o desejo de sua presença. Engano! Mais um engano atravessava sua expectativa, sem sequer um ínfimo gesto de compaixão.
Retomou a estrada revezando soluços e orações. Há algum tempo, suas preces pareciam não ser merecedoras de atenção, tal a fragilidade com que as cercava.
Não neste momento! Eram pronunciadas com fervor, sentia o calor do acolhimento. O pranto não cessou, mas viu-se diante da face do SENHOR. Acalmou-se diante do óbvio: a necessidade do ajuste nu e cru à realidade.
O sentimento de tristeza ainda adormecia em seu colo no primoroso instante em que pediu uma vida regada com um pouco mais de cor e ELE enviou-lhe um arco-íris.
O limpador de pára-brisa estancou diante da beleza e ela prosseguiu em paz.
Hoje, a cesta já está pronta e reluz em sua sala florida, tão perfeita quanto à do ano que se passou...