SUICÍDIO
A lua cheia parecia uma bola de cristal à espera do seu senhor para iniciar o trabalho constante de predizer o futuro de pessoas inseguras que a isso recorrem na esperança de encontrarem um ponto de apoio e coragem para continuarem pelos caminhos tortuosos da vida, à qual tanto temem.
O luar com seus raios prateados iluminava toda aquela majestosa mansão branca, perdida na vastidão dos campos floridos e silenciosos.
Somente uma janela da mansão estava aberta lá no alto e de onde escapava uma tênue luz de abajur. Nesta janela distinguia-se uma figura feminina que a julgar pela sua posição estática, parecia triste e de olhar perdido no infinito.
Seus longos cabelos dourados brilhavam sob o luar, dando-lhe uma imagem de deusa. Mas quem pudesse vê-la de perto, veria as grossas lágrimas rolarem quentes em sua face rosada e singela.
Seu olhar parecia ver algo fascinante ao longe, pois um sorriso largo e brilhante se desenhou na boca pequena, deixando à mostra os dentes alvos e perfeitos.
Assim ficou por algum tempo.
De repente o sorriso se desfez, as lágrimas estancaram e sua feição contraiu-se. Algo alucinante transpôs-lhe a mente doentia. Algo como uma grande dor, um grande pecado.
Como um autômato subiu na janela e dando um grito de pavor, atirou-se no vazio.
Seu corpo vestido de branco, parecia um anjo vindo do céu.
Alguns segundos depois a imagem do anjo branco se desfez para dar lugar a outro quadro. Este era pavorosamente triste e deprimente.
Os cabelos loiros já não eram mais os de uma deusa e sim uma pasta vermelha de sangue vivo. O corpo esbelto se transformou num amontoado de membros destroçados pela queda violenta.
Os raios do luar continuaram iluminando impassíveis a mansão branca e misteriosa. O quadro dramático não conseguiu transformar a beleza natural daquela noite de lua cheia.
A vida continuará na mansão com seus campos verdejantes e floridos. Em sua majestosa figura ficará apenas a lembrança de uma noite linda violada pela tragédia. E seus aposentos não desfrutarão mais a beleza da deusa loira... e louca!