A ÚLTIMA CEIA NO DOMINGO DE PÁSCOA

Escrito por Deífico

Colaborador do Blog: Lírio Urbano

UMA MENSAGEM PARA RENASCIMENTO

O coronel Anfilófio está prestes a completar noventa anos de existência. Dona Carmélia, sua esposa no último mês de janeiro comemorou oitenta e cinco anos. O coronel Anfilófio deu uma linda festa em uma das suas fazendas e para o evento convidou todos os amigos, parentes, filhos, netos e funcionários das fazendas para comemorar o aniversário da querida esposa, com quem já era casado há sessenta e dois anos.

Hoje é domingo de páscoa! Está um lindo dia! O sol brilha intensamente! As folhagens das árvores estão sendo sacudidas pela suave brisa do outono, enquanto os cantos dos pássaros” maviam” os nosso ouvidos. Nos pastos o gado pasta placidamente a relva verde e fresca, como se o domingo de páscoa não existisse. As águas do pequeno rio correm plenamente fazendo os pequenos barulhos sonoros regarem as margens férteis.

O céu está azulado com pouquíssimas nuvens alvas que são carregadas pela brisa. Ao longe as cadeias de serras e morros dão o toque final na linda paisagem bucólica, como se registrassem em digitais, este belo dia em que comemoramos a ressurreição de Cristo e a nossa; e é com o pretexto de comemorar a sua última ceia que o coronel Anfilófio resolveu convidar alguns amigos da congregação católica e protestante, todos os parentes, bisnetos, netos, filhos, o pároco Augusto padre da comunidade, o reverendo Abel pastor da igreja Presbiteriana de Sítio do Mato e os funcionários das fazendas para a comemoração da sua última ceia de páscoa.

As mesas sobrepostas em fileiras e juntas para darem o aspecto de uma comunhão estavam forradas de toalhas bordadas manualmente, pelas alunas da escola de corte e costura da casa paroquial. Para cada convidado havia uma taça e um pequeno prato. Nas taças para cada convidado, fora servido uma pequena dose de vinho e nos pratos uma pequena fatia de pão asmo. As garrafas de vinho e os pães asmos, que vieram diretamente de Israel encomendados pelo Coronel Anfilófio, que queria dar aos convidados, a mesma sensação sentida pelos Judeus, quando da comemoração da páscoa deles.

Coronel Anfilófio é uma pessoa muita excêntrica e detalhista em matéria de realismo naquilo que está acostumado a fazer. Todos os convidados já tinham participado das suas cerimônias do domingo de páscoa nas suas respectivas igrejas e estão agora, a convite do coronel, preparados para a pequena ceia pascal na fazenda.

O pároco Augusto, convidado a fazer o exórdio, abre a sua bíblia de capa marrom e começa a ler Lucas 22: 19-23 e 34 - E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós, fazei em memória de mim. Semelhantemente, depois de comer o pedaço de pão, tomou o cálice dizendo: Este é o cálice da nova aliança do meu sangue derramado em favor de vós. Todavia, a mão do traidor está comigo à mesa. Porque o filho do homem, na verdade, vai segundo o que está determinado mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído! Então começaram a indagar entre si quem seria, dentre eles, o que estava para fazer isto. – Mas Jesus lhe disse: afirmo-te Pedro, que, hoje, três vezes negará que me conheces, antes que o galo cante.

Após a leitura dos versículos da bíblia, o padre Augusto convida todos os presentes sentados à mesa para repetirem com ele, os gestos feitos por Cristo na última ceia, com relação ao pão e ao vinho. Em seguida começa a pregar a sua pequena mensagem.

A MENSAGEM DO PADRE AUGUSTO

Prezados senhores e senhoras – Estamos aqui reunidos para celebrarmos esta ceia maravilhosa neste belo domingo de páscoa. As palavras chaves são: Traição e negação. Mas elas não serão discorridas pelo ponto de vista do texto de Lucas, mas pelo ponto de vista das nossas vidas. Diuturnamente nós convivemos em função destas duas palavras e nem percebemos o quanto! Quando nos utilizamos de todos os sentimentos mesquinhos, como a inveja, a ambição, a falsidade, a mentira, o desamor ao próximo, a corrupção, os subterfúgios, na verdade estamos traindo todos os princípios éticos, morais e cristãos. E quando nós nos negamos a vivenciarmos os preceitos éticos, morais e religiosos, simplesmente estamos vivendo sempre em traição e negação dentro de nós mesmos , e antes que o galo cante no amanhecer de cada dia e nasça o sol, e antes de nos assentarmos à nossa mesa para as refeições do dia, se não buscarmos o nossos renascimento, nos despindo de todos os sentimentos mesquinhos, como escrito pelo apóstolo Paulo em uma de suas epístolas, não deixaremos de ser traidores e negadores no decurso das nossas vidas – Portanto peço a todos vocês aqui presentes que reflitam em silêncio, no recôndito do seu aposento e da alma, para , a partir desta páscoa, buscar o renascimento das suas vidas se transformando em um novo ser despido de todos os sentimentos mesquinhos que levam à traição e à negação. Que a paz do Senhor Jesus Cristo esteja convosco nesta páscoa e em todos os momentos da vida. Amém.

Ao terminar a sua mensagem, o padre Augusto passa a palavra para o coronel Anfilófio, que fica de pé e começa a dar um testemunho. Os presentes que ouviram a mensagem do pároco, Padre Augusto ficam em um total silêncio e concentração e mostram também surpresos e curiosos.

O TESTEMUNHO DO CORONEL ANFILÓFIO

Caros amigos e amigas. Vou dar um testemunho e depois com base nele, o pastor reverendo Abel Oliveira da comunidade de Sítio do Mato, meu amigo de longas datas, fará a mensagem final para todos, e logo em seguida iremos nos deliciar do belo almoço preparado pela minha querida esposa.

– Todos vocês sabem, ou melhor, alguns de vocês sabem que no momento em que completei sessenta anos , fui acometido de uma doença gravíssima no meu coração. Os médicos só me deram mais ou menos dez dias de vida, caso eu não me submetesse a uma cirurgia que só teria dez por cento de chances de dar certo. Faltavam quarenta dias para o domingo de páscoa. Perguntei ao Doutor Eliecim, que já não está mais no meio de nós, se daria para esperar até o domingo de páscoa, com fortes medicamentos, para que eu participasse da minha última ceia. Diante da negativa do doutor Eliecim, é que entrei no meu quarto sozinho e, diante do altar que a minha querida esposa mantém dentro do quarto, conversei em oração diretamente com Deus; nem falei com Cristo nem com a nossa senhora Aparecida: Falei já direto com o chefão e lhe pedi que guiasse os médicos na tarefa difícil que seria a cirurgia e que me permitisse viver, pelo menos, até o domingo de páscoa, e depois ele poderia me levar, no dia e na hora que bem entendesse. Eu só queria passar a última ceia e nada mais. Afinal de contas, em partindo, não deixaria nada pendente para trás. Tudo já estava resolvido. Filhos criados, netos criados, a vida dos empregados resolvida, as questões de ajuda para as comunidades, católica e protestante, já estava também resolvida. Então, se tivesse que partir não haveria problema desde que fosse após a páscoa.

Finalmente chegou o dia da chamada operação. A cirurgia, segundo informações, durou cerca de doze horas. Só sei que neste meio tempo, eu sonhei que andava em um deserto. E nesta andança vi uma árvore gigante pegando fogo e de dentro dela sair uma voz muito forte e nítida, me perguntando: - Você de fato quer celebrar a sua última ceia de páscoa? – Sim, respondi. – Vou estudar o seu caso com carinho e futuramente lhe enviarei a resposta, continuou a voz" trovônica"- Por - que não pode ser dada agora a resposta? Questionei. Porque, continuou a voz, o tempo é o meu tempo e a resposta será dada no meu tempo e não no seu. O seu tempo é um mero empréstimo, de uma fração mínima do meu! E por ser no meu tempo e não no seu, quando houver uma resposta, será dada no meu tempo, embora eu a mande no seu tempo, que foi dado por mim, mas sempre prevalecendo o meu tempo! Depois disto o fogo da árvore foi apagando, apagando, até sumir de vez, e eu acabei fazendo o meu caminho de volta. Quando acordei, já se tinha passado o período de vinte horas entre a anestesia e a cirurgia, e eu já estava no quarto da UTI em plena fase de recuperação. Exatamente neste ano em que completarei noventa anos de idade, também aquela cirurgia completará trinta anos e aquela ceia de páscoa depois da cirurgia também. Até hoje os médicos não conseguem explicar, como uma pessoa que teve uma enfermidade grave no coração, com sessenta anos de idade, possa sobreviver, e sobreviver por trinta anos! Seria milagre? Seria a resposta no tempo de Deus! Bem, agora com base neste meu testemunho, o meu amigo pastor, reverendo Abel Oliveira, que já conhece a minha história, vai fazer a mensagem final. Todos vocês fiquem sabendo agora, que todas as nossas trinta ceias sempre foram pautadas pelo Padre Augusto, pelo Pastor e por mim. E esta que poderá ser a minha última ceia, é uma ceia especial.

Todos ficam boquiabertos diante do breve testemunho do coronel Anfilófio.

Coronel Anfilófio tinha sido um grande magistrado, e quando se aposentou há mais de trinta e cinco anos passou a advogar em favor dos necessitados e a laborar pela comunidade.

Saudando a todos ali presentes, o reverendo Abel Oliveira começa a fazer a sua mensagem final.

A MENSAGEM FINAL DO REVERENDO ABEL OLIVEIRA

Caros amigos e amigas. Há trinta anos que o Coronel Anfilófio faz a sua última ceia de páscoa. Todos devem estar se perguntando: Por – que sempre a última ceia, se estamos chegando à trigésima ceia! Respondo-lhes: Quando ele Fez a primeira ceia depois da cirurgia, ele achava que seria a última. Algumas pessoas que participaram desta primeira ceia não puderam participar da segunda, porque partiram para o plano celestial.

Então para elas aquela foi a última ceia de páscoa. E também para todos os que foram partindo ao longo destes trinta anos, em algum momento participaram da sua última ceia, e todos nós aqui presentes teremos a nossa última ceia também. Só não sabemos o momento certo, porque o tempo, é o tempo de Deus e não o nosso tempo. Mas é certo que teremos. E na vida tudo é assim. Sempre teremos uma última chance, um último momento. Em razão disto, precisamos viver o presente como se fosse o último momento das nossas vidas e procurarmos renascer sempre! Sermos um novo ser! Como bem o disse o amigo padre Augusto para nós nos despirmos do sentimento da traição e da negação. E podemos começar por esta ceia de páscoa, neste belo domingo de sol, buscando o novo nas nossas vidas, como se só houvesse uma única chance ou a última chance. Na verdade estamos vivendo sempre no último momento! Como estamos a mercê do tempo de Deus, é melhor não vacilarmos onde no amanhã poderá ser muito tarde! Pensem bem nisto caríssimos irmãos e irmãs! Que a Paz do Senhor Jesus Cristo esteja sempre convosco.

Juntos, todos fazem a oração do pai nosso, e só depois é que o almoço de páscoa, a grande ceia de páscoa começa a ser servida de fato.

FELIZ PÁSCOA PARA TODOS-FELIZ PÁSCOA PARA TODOS-FELIZ PÁSCOA PARA TODOS-FELIZ PÁSCOA PARA TODOS-FELIZ PÁSCOA PARA TODOS-FELIZ PÁSCOA PARA TODOS-FELIZ PÁSCOA PARA TODOS