O Reencontro
Os dias tristes de inverno se arrastavam lentamente. Elizabeth estava encostada sobre a janela da sala, coberta por um manto velho. O frio que a possuía não cessava e o cobertor pouco a aquecia. Os cabelos esvoaçados eram seu único atrativo físico naquele momento. As olheiras mais pareciam uma marca de soco. Mal pregara os olhos desde a noite anterior. Parecia que nenhum de seus problemas seria resolvido. A grande solidão que pairava sobre aquela casa, definitivamente, não queria partir. Mas, deve ser muito duro perder assim, de repente, os pais e os únicos avós que restavam vivos. Se ao menos tivesse alguma pista de sua irmã Maggie, seria menos triste. Seu rosto estava molhado, como todas as noites. De pé, admirava o céu e lembrava o que sua irmã dizia. “Ninguém morre.Só vira estrela”. Palavras que não saiam de sua mente. Depois de seus pais terem sofrido um acidente de avião, prendeu essas palavras dentro de si. Uma pequena garota, com pouco menos de 13 anos, órfã. Pouco lhe importava estar morando de favor. O que lhe fazia falta era sua família.
Estava morando provisoriamente na casa de uma amiga, muito caridosa por sinal. A mesma, já dormia. Enquanto seus olhos marejavam, fitava o nada. De repente, seus olhos brilharam em contraste com o fenômeno luminoso que cruzou por um breve momento o céu estrelado. Antes que ele sumisse, fez um pedido. O primeiro que veio em sua mente. Pediu que devolvessem sua irmãzinha. Mesmo que sentisse falta de seus pais e de seus avós, sentia muito mais falta de Maggie, sua pequena e frágil irmã. Finalmente, encontrou um fio de esperança. Depois de ter feito o desejo, teve esperanças de encontrar a pequenina. Coisa passageira. Foi só dormir alguns minutos para ter um pesadelo com Maggie e acordar assustada para deixar a pouca esperança que teve partir. Custou a dormir novamente. Revirou várias vezes na cama até conseguir uma posição agradável. No outro dia, às seis horas da manhã, já estava sendo acordada por sua amiga Luana. Mais um dia sem ir a escola poderia prejudica-la ainda mais. Então levantou e foi se arrumar. Mal tomou café. Engoliu em seco algumas torradas e foi o suficiente pra conseguir chegar inteira na escola. Pouco prestou atenção na aula. Qualquer palavra parecia estar relacionada aos tristes acontecimentos. Conseguiu até pegar uma parte ou outra da aula, mas sempre com a mente bem longe. Até o fim das aulas.
A tarde passou quase num pulo. O céu estava quase sem estrelas essa noite. Elizabeth estava sentada no sofá, lendo um livro. O telefone tocou. Luana e sua mãe estavam jantando. Ela não quis comer essa noite. Atendeu o telefonema.
– Alô? – Sua voz falhou um pouco.
– Elizabeth? Temos notícias de sua irmã. – A mulher causou um aperto no coração de Elizabeth.
– Fale! Fale o que sabe sobre a Maggie! – Gritou.
– Ela está... – A ligação caiu.
Elizabeth chorou desesperada. Luana e Rita, sua mãe, vieram correndo ver o que estava acontecendo.
– O que houve Elizabeth? – Rita perguntou.
– Uma mulher ligou... E disse que tinha notícias da Maggie. Mas quando ia falar, a ligação caiu. – Falei entre soluços.
– Mãe, não tem como identificar o número do telefone? – Luana perguntou esperançosa.
– Não, nosso telefone não tem identificador. – bufou.
– Sinto muito Beth. – Luana Lamentou.
– Vou ficar bem. – Mentiu.
– Vamos dormir Luana. – Rita avisou.
– Boa Noite Elizabeth. – Luana a abraçou de lado.
– Boa noite Luana. – Sorriu de lado.
– Bons sonhos querida. – Rita saiu.
Elizabeth não saiu da sala. Ficou imóvel, ao lado do telefone. Ainda tinha a tola esperança de que a mulher ligasse novamente. Acabou dormindo no sofá. No outro dia, Rita a acordou. Teve de ir ao colégio toda dolorida. Novamente não prestou atenção na aula. Voltou para casa, comeu muito pouco e ficou no sofá o resto do dia, esperando o telefone tocar. E isso aconteceu. Mas quando atendeu, só falaram alô e a ligação caiu. Isso destruía completamente o coração de Elizabeth, que só fazia chorar. Isso se repetiu por dias. Até que a Rita chegou em sua casa com um identificador de chamadas. As três ficaram rondando o telefone. Horas se passaram. Quando Rita e Luana iam sair, o telefone tocou. Elizabeth não pensou duas vezes. Atendeu o telefone rapidamente. A ligação caiu novamente. Então ela pegou o número no identificador e retornou a ligação. Conseguiu falar com a mulher que ligava.
– Alô? É a Elizabeth. – Falou quase num sussurro.
– Elizabeth! – houve uma pausa – Tenho notícias de sua irmã! Todos os dias estavam tentando falar com você, mas a ligação sempre caía! – Falou rapidamente.
– Onde a minha irmã está? – Foi direta.
– Ela está... – respirou fundo – viva. – completou.
– Onde ela está? – Elizabeth Gritou.
– Está aqui conosco, no orfanato do hospital. – explicou.
– Vou pega-la agora. – Avisou já chorando.
– Espero você. – Desligou o telefone.
Elizabeth não falou nada. Rita já havia pegado as chaves do carro. Correram para o tal orfanato. Assim que chegou lá, Elizabeth correu desesperada. Avistou uma sala, no fim de um corredor. Abriu a porta esperançosa. Viu várias camas enfileiradas e crianças deitadas. Poucas estavam dormindo. Quase nas últimas camas, avistou uma garotinha sorrindo. Aproximou-se para ver a garota e reconheceu sua irmã Maggie. Correu para seu encontro. Abraçaram-se como nunca. Elizabeth chorava de felicidade. Mas as lágrimas de tristeza vieram quando Maggie perguntou a pior coisa possível.
– Cadê a mamãe? E o papai? – Os olhinhos inocentes de Maggie brilharam.
– Eles... – Elizabeth não conteve o choro – Estão bem, vamos vê-los esta noite. – Assegurou.
– Vamos logo, estou com saudades. – Maggie sussurrou.
Elizabeth ficou calada. Voltou para casa de Luana agarrada à Maggie. Quando chegaram, Maggie cobrou o encontro de seus pais. Elizabeth a conduziu até a varanda e apontou o céu.
– Tá vendo aquelas estrelas? São eles. – Uma lágrima molhou seu rosto.
– A gente pode ir lá? – Perguntou inocente.
– Amanhã nós vamos. – Prometeu.
– Tá bem...Nossa, que sono. – Maggie bocejou.
– Vamos dormir Maggie. – Elizabeth colocou a irmã na cama e dormiu ao seu lado.
No outro dia, acordou muito cedo e acordou Maggie.
– Aonde vamos? – Maggie sussurrou.
– Aonde eu vou? Vou ver o papai e a mamãe. – Elizabeth avisou.
– Quero ir com você. – Maggie disse.
– Então vamos. – Elizabeth segurou a mão da irmã.
Ela saiu de casa e foi andando com Maggie no braço, até uma velha estrada. Chegaram num penhasco. A pequena Maggie olhou para baixo e segurou a irmã fortemente.
– Temos que pular? – perguntou assustada.
– Se quisermos encontrar papai e mamãe. – completou.
– Então vamos. – Ela sorriu.
Elizabeth segurou Maggie nos braços e se aproximou da beirada. Suspirou amedrontada. Abraçou sua irmã e pulou. Ela não morreu. Só foi viver no céu. E teve um final feliz. Encontrou seus pais. E seus avós. Encontrou a felicidade.