Há fogo

Há fogo em tudo o que vejo, pelos meus dedos escorrem pensamentos ardendo em brasa. Do meu suspiro desprende-se calor, dos meus olhos desprendem-se faíscas. Certa vez você me disse que com apenas uma fagulha poderíamos ser diferentes. Cuidei-me! Tomei todos os cuidados para ser inerte, para não expressar. Hoje sei que tudo é fogo, e que o fogo destrói, contudo também transforma.

Há fogo em tudo o que vejo, no primeiro e no último por de sol da existência, na primeira mensagem do dia e na última da madrugada, no olhar castanho da tarde e no sereno da manhã, na brisa fria da madrugada. O fogo se espalha pelo mundo, eu vejo o fogo, mas ele não me vê, eu sinto o fogo, mas ele não me sente, eu quero o mundo, mas ele não me quer.

Há palavras traçando minha mente como os meteoros o céu, tão rápidas e tão ferventes que não permitem que eu as escreva no mesmo ritmo que elas surgem. A prosa já não se faz bela, não se faz culta, não se faz pura. A prosa agora é um desprender desordenado de palavras do cérebro, a prosa nem prosa é, é quase verso, é quase ingênua.

Posso arriscar um poema bobo em contraste com esse fogo que vejo em tudo. Os opostos se despertam. A ingenuidade desperta o fogo, o fogo desperta a pureza, o fogo purifica. A inteligência desperta a alienação e a alienação por sua vez instiga. Tento mergulhar em um mundo que desconheço, um mundo pelo qual já caminhei do auge da minha escrita, no auge do meu entusiasmo, da minha inspiração. Tento caminhar por um mundo que já não me pertence e ao qual eu já não pertenço... As palavras já não me cabem e eu já não caibo nas palavras, mesmo assim insisto, insisto em não morrer e me agarro ao ilógico e à comparação tola. Quem sabe me agarre apenas naquilo que sou.

Sah
Enviado por Sah em 17/04/2011
Código do texto: T2915021
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