Por acaso
 
            Os três tipos rodavam num automóvel de pouco uso. Furtado, mas marca muito vendida, difícil a identificação imediata pela polícia.
            Procuravam um homem alto, esguio, que hora estava muito bem vestido, hora com traje comum ou de uniforme. Havia dado uns tiros em vagabundos, dois criminosos que mataram sua companheira. Duda não merecia aquilo. Aliás, ninguém merece. Foram apanhados em flagrante e tomaram tiros de quarenta e cinco, uma verdadeira tijolada perfurante, penetrante e letal.
            Os três tipos, comuns e de péssimo aspecto, queriam vingança, mas como todos os marginais da pesada, eram burros. Não sabiam com quem estavam lidando.
            - Foi exatamente como está me contando, capitão Callado?
            - Sem nenhum erro, meu comandante. Foi isso.
            - Atiraram em você também?
            - O que ia tentar não teve muita sorte, a porrada no peito jogou o safado longe.
            - Recolha-se ao seu alojamento. Está preso, capitão. Vou me entender com o delegado. Fique tranquilo, não vai acontecer nada, se o fato aconteceu assim mesmo, conforme me contou.
            O coronel Fonseca, chefe imediato do homem com o elegante e sóbrio terno cinza, localizou rápido a delegacia, consultando o computador. Logo estava conversando com o delegado titular, que já havia aberto o inquérito policial para apurar as mortes no apartamento simples, mas bastante confortável de um capitão do exército. 
            - Houve violência sexual contra a moça, doutor?
            - Houve. A necropsia constatou esfolamento na vagina e presença de sêmen.
            - Estes ordinários ganharam o que mereciam.
            - Também acho, coronel. Mas tenho que cumprir o meu dever.
            - Claro, claro. Eu lhe apresento o homem tão logo esteja fora do flagrante. Bom dia, doutor Hélio. E muito obrigado. Fico devendo esta.
            - Devendo não, senhor. Já fui protegido pelo serviço também, embora conte com tantos policiais. Estou tentando retribuir, só isto.
            O coronel Fonseca havia retirado o uniforme, antes de sair do quartel. Vestia um elegante jeans inglês, camisa de seda pura, branca e sem desenhos.
            A única coisa que os três marginais sabiam era que o homem procurado gostava de vestir-se bem. Viram quando entrou no seu carro particular, não quis usar veículo oficial com motorista. Seria mais um a saber, o que em absoluto interessava.
            Já quase chegando ao quartel, levou um tiro de espingarda calibre doze, que o deixou irreconhecível.
            Por acaso, os safados pensaram que foi ele quem eliminou seus colegas.  
Jorge Cortás Sader Filho
Enviado por Jorge Cortás Sader Filho em 17/04/2011
Código do texto: T2914199
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