O alquimista
Dentro do porão, assim vivia o alquimista. Lá fez seu laboratório, abandonou as pessoas e fez do orvalho, do sal, do mercúrio e do enxofre os seus amigos. Não queria barulho, pessoas incomodavam, nem cogitava criar homúnculos, tinha medo que a criação o atrapalhasse em outros projetos.
Conversava com os astros e com os quatro elementos sobre o seu sonho: Transmutar aço em ouro e beber do elixir da longa vida. Desse modo eram contados os dias do alquimista: Entre destilações, fermentações, combustões e evaporações. Saia breve de casa, colhia os ingredientes que precisava e logo voltava ao porão.
Sempre fracassava em suas experiências, mas nunca desistia. Queria logo transmutar aqueles metais retorcidos em fino ouro, assim compraria muitas terras, construiria o seu palácio de ouro e seria o homem mais rico dentre todos os homens. Não bastava só ser rico, do que valeria todo o ouro se ele não tivesse longos anos? Vendo que os gases dos experimentos o matava aos poucos, ele queria adiar a morte para poder desfrutar da sonhada riqueza!
Para isso ele teria que criar a desconhecida pedra filosofal, trabalhava dia e noite na “grande obra”. No corpo do alquimista era possível ver como ele trabalhava arduamente, as marcas de queimaduras não negavam todo seu empenho. Trabalhava para que a matéria passasse pelos três estágios até chegar ao estágio final, o rubedo, mas nunca saiu do primeiro estágio.
Seu combustível era a ambição, solitário no porão tinha sempre um pensamento: “Se para ter riquezas e longa vida, eu precisar me esgotar entre experiências, que assim seja”. Não queria mais saber como estava a vida fora do porão, se importava apenas com seu objetivo e nada tirava sua determinação.
Certa noite ele começou a ter bons resultados, depois de tantas frustrações era hora da felicidade entrar naquele porão, por mais que ainda faltasse outros estágios em seu experimento, um bom resultado era motivo de se comemorar. O sono era presente e quase dominante, mas ele não queria parar. Pensava: “Se eu parar agora, talvez nunca mais consiga!”.
As pálpebras pesadas atrapalhavam o prosseguimento e fizeram ele não perceber que estava colocando enxofre demais na sua grande obra. Uma grande luz precedeu uma grande explosão que tomou conta daquele pequeno porão. O alquimista foi jogado contra a parede e caiu desmaiado.
Ele sentia fortes dores enquanto voltava à consciência e quando abriu os olhos percebeu que tinha perdido algo muito valioso... Seus olhos estavam abertos, mas nada enxergavam... Ele nunca mais veria seu laboratório, seus experimentos e o mais frustrante: Nunca mais iria conseguir trabalhar com alquimia, nunca mais iria alcançar o seu grande sonho...
Agora, nada de riquezas e poder: É apenas um velho homem de pulmão fraco, com muitas marcas na pele, sentado em frente a uma casa quase destruída... Um velho homem que não é capaz de ver, mas é capaz de sentir na pele a solidão que ele mesmo buscou.