O Serviço Especial
A notícia correu rápida. Um fato desta natureza tem divulgação imediata. Todos ficaram aparvalhados.
O capitão Callado dormia profundamente. Havia retirado o elegante terno, engraxou os sapatos, limpou a pistola que o coronel Fonseca não havia pedido, quando da voz de prisão ao subordinado. Tomou um longo banho, após quarenta flexões de braço, vestiu a camisa de malha branca, o calção do exército e mergulhou no secreto mundo dos sonhos.
- Callado! Callado! Acorda, porra. Mataram o coronel!
Tem certas palavras que mesmo dormindo acordam qualquer um. Morte é uma delas. O capitão não acordou. Literalmente, deu um salto da cama e viu-se diante de dois oficiais, alguns soldados e sargentos.
- Que está acontecendo?
- Mataram o coronel Fonseca, homem! Um tiro no rosto.
- O quê?
- O que eu estou dizendo. Um tiro na cabeça, de espingarda de cartucho. Coisa de profissional, deve ter sido seguido. - Fora seguido. Os três marginais estavam de olho na delegacia do lugar, deixaram o carro estacionado numa rua próxima. Bebiam, no balcão, uma cerveja. Era apenas um disfarce para vigiarem o lugar. Viram quando o coronel entrou na delegacia e para surpresa deles, que esperavam uma prisão em flagrante, mas nunca se sabe, o homem demorou pouco, saiu e entrou no seu automóvel.
- Esse cara é milico. Olha o andar dele e o cabelo. Vamos logo atrás.
- Aqui quem resolve isto sou eu, cara. Fica na tua, seu otário. Claro que vamos atrás dele.
Estava de bermudas, camisa ordinária metida a chique, e sapatos mocassim, não gostava dos tênis da moda. Ao lado do motorista, preparou logo a escopeta. Bastava ultrapassar, apontar para a janela do carro azul do coronel e fazer fogo a queima-roupa. Assim fez. O tiro foi a menos de metro de distância. Largaram o carro com as armas, limpando as digitais com as camisas. Eram burros, mas nem tanto. Sumiram em direção ao antro de vagabundos que ocupavam a bem organizada favela, onde os trabalhadores ficavam cegos, surdos e mudos.
Comemoraram com muitas cervejas e caipirinhas, num bom bar existente no local. Depois foram dormir, estavam empanzinados com as cervejas e o angu com linguiça e salsicha, uma das especialidades do botequim bem arranjado.
O enterro do coronel Carlos Alberto Fonseca de Barros foi uma cerimônia militar triste, séria e de honras. Os soldados da Polícia do Exército dispararam seus fuzis, a bandeira que cobria o caixão, depois de cuidadosamente dobrada, passou às mãos da viúva desconsolada, segura por uma filha nova e um rapaz que deveria ter poucos anos menos do que a irmã.
O corneteiro executou com sentimento e solenidade o toque de silêncio, quando as lágrimas de todos ficaram abundantes, mas não se disse uma só palavra. É a hora mais triste de um enterro militar, e também a mais solene.
Assistindo tudo, não de muito perto, o capitão Callado e um major das Forças Especiais do Exército, estavam ao mesmo tempo tristes, raivosos e indignados. A vingança seria cruel, muito cruel. Basta ver o apelido do capitão Callado. “Coisa Ruim”, o que ele era, realmente.
A notícia correu rápida. Um fato desta natureza tem divulgação imediata. Todos ficaram aparvalhados.
O capitão Callado dormia profundamente. Havia retirado o elegante terno, engraxou os sapatos, limpou a pistola que o coronel Fonseca não havia pedido, quando da voz de prisão ao subordinado. Tomou um longo banho, após quarenta flexões de braço, vestiu a camisa de malha branca, o calção do exército e mergulhou no secreto mundo dos sonhos.
- Callado! Callado! Acorda, porra. Mataram o coronel!
Tem certas palavras que mesmo dormindo acordam qualquer um. Morte é uma delas. O capitão não acordou. Literalmente, deu um salto da cama e viu-se diante de dois oficiais, alguns soldados e sargentos.
- Que está acontecendo?
- Mataram o coronel Fonseca, homem! Um tiro no rosto.
- O quê?
- O que eu estou dizendo. Um tiro na cabeça, de espingarda de cartucho. Coisa de profissional, deve ter sido seguido. - Fora seguido. Os três marginais estavam de olho na delegacia do lugar, deixaram o carro estacionado numa rua próxima. Bebiam, no balcão, uma cerveja. Era apenas um disfarce para vigiarem o lugar. Viram quando o coronel entrou na delegacia e para surpresa deles, que esperavam uma prisão em flagrante, mas nunca se sabe, o homem demorou pouco, saiu e entrou no seu automóvel.
- Esse cara é milico. Olha o andar dele e o cabelo. Vamos logo atrás.
- Aqui quem resolve isto sou eu, cara. Fica na tua, seu otário. Claro que vamos atrás dele.
Estava de bermudas, camisa ordinária metida a chique, e sapatos mocassim, não gostava dos tênis da moda. Ao lado do motorista, preparou logo a escopeta. Bastava ultrapassar, apontar para a janela do carro azul do coronel e fazer fogo a queima-roupa. Assim fez. O tiro foi a menos de metro de distância. Largaram o carro com as armas, limpando as digitais com as camisas. Eram burros, mas nem tanto. Sumiram em direção ao antro de vagabundos que ocupavam a bem organizada favela, onde os trabalhadores ficavam cegos, surdos e mudos.
Comemoraram com muitas cervejas e caipirinhas, num bom bar existente no local. Depois foram dormir, estavam empanzinados com as cervejas e o angu com linguiça e salsicha, uma das especialidades do botequim bem arranjado.
O enterro do coronel Carlos Alberto Fonseca de Barros foi uma cerimônia militar triste, séria e de honras. Os soldados da Polícia do Exército dispararam seus fuzis, a bandeira que cobria o caixão, depois de cuidadosamente dobrada, passou às mãos da viúva desconsolada, segura por uma filha nova e um rapaz que deveria ter poucos anos menos do que a irmã.
O corneteiro executou com sentimento e solenidade o toque de silêncio, quando as lágrimas de todos ficaram abundantes, mas não se disse uma só palavra. É a hora mais triste de um enterro militar, e também a mais solene.
Assistindo tudo, não de muito perto, o capitão Callado e um major das Forças Especiais do Exército, estavam ao mesmo tempo tristes, raivosos e indignados. A vingança seria cruel, muito cruel. Basta ver o apelido do capitão Callado. “Coisa Ruim”, o que ele era, realmente.