O HOMEM AO LADO
Ele entrou no ônibus e, com tantas cadeiras vazias, veio sentar-se justo do meu lado. Por um segundo nossos olhares se cruzaram e ele sorriu. Eu retribuí a gentileza, e voltei minha atenção para o best-seller que estava lendo.
Li duas ou três páginas do livro, mas não consegui mais me concentrar. O sujeito, ali pertinho, me perturbava… Eu nunca tinha sentido aquilo antes, era algo completamente diferente de tudo que eu já experimentara dentro – ou fora – de uma condução!
Pensei em mudar de cadeira, mas no fundo eu sabia que não era isso o que eu queria... Portanto, resignei-me a fingir que lia o livro, até que um de nós dois saltasse. Ou os dois ao mesmo tempo, quem sabe... Por que não?
Teve uma hora que o braço do estranho roçou no meu – ou talvez tenha sido o meu que roçou no dele, não sei dizer! – e eu quase entro total em desespero. Disparei a suar frio, e meu corpo começou a formigar nas costas, nos braços, no rosto, em tudo quanto é canto!
Para minha decepção, o homem saltou algumas quadras à frente. Arrisquei uma olhada mais indiscreta. Ele aparentava uns quarenta anos, se vestia como um executivo, era muito calvo e ostentava um cavanhaque que necessitava de um retoque urgente...
Quando ele desceu do ônibus, eu suspirei extasiado. Sentia-me como se tivesse acabado de encontrar o que há anos buscava em cada homem que me levava para a cama. Foi uma sensação tão boa, que tive vontade de me levantar da cadeira e ali mesmo cantar, dançar, sorrir, gargalhar...
Mas me contive e esperei. E, mal entrei em meu apartamento, botei uma música agitada e dei o maior espetáculo da minha vida; uma senhora apresentação, digna dos maiores aplausos, dos maiores refletores – encarnei uma verdadeira musa do cenário pop mundial!