UM PREFEITO SUB-REPTÍCIO - UMA PALAVRA DESCONHECIDA E O REBU PROVOCADO POR ELA

QUANDO UMA PALAVRA DESCONHECIDA QUASE PROVOCA CONFUSÃO E MORTE NA CÂMARA DE VEREADORES DA PEQUENINA PINHENGO

DOS CURRAIS

O Coronel Edigésino Pereira Inocêncio Severino do Souto Maior, embora fosse um sujeito muito jovem, levando se em consideração à idade dos demais coronéis de toga da região dos gerais, já tinha a alcunha de ser um verdadeiro carrasco. Não tinha muita instrução, mas possuía uma penca de riquezas incalculáveis, herança deixada pelo seu velho pai. Hoje ele é o prefeito da pequena cidadezinha, ainda meio atrasada, cujo nome é Pinhengo dos Currais, à beira do Rio Corrente.

Quando em campanha para a sua primeira eleição para a prefeitura da cidadezinha, em um dos seus discursos ele proferiu o seguinte em um comício:

- Prometo melhorar as nossas estradas para que o transporte terrestre tenha maiores facilidades nas ligações entre a nossa cidade e as demais do Estado da Bahia. Também irei melhorar a nossa beira do rio, construindo um cais do porto para facilitar a vida dos transportes "rioestres”. E se houver possibilidades ainda, tentarei ampliar o nosso campo de pouso para que os políticos da capital e os munidos de dinheiro possam utilizar do transporte “arestre” que é muito mais rápido e ligeiro do que enfrentar estradas terrestres e rios. Ao citar o pronunciamento do então candidato à época e agora prefeito, como exemplo de um dos absurdos, que às vezes são cometidos nos discursos na nossa língua pelos políticos, em uma das suas aulas de português, a professora Guilhermina foi sumariamente exonerada da rede pública municipal pelo Edigésino com a alegação de ter cometido desrespeito à autoridade constituída. Na verdade era mais uma das truculências do prefeito Edigésino!

A história maior sobre a truculência do prefeito Edigésino aconteceu na reunião mais famosa da câmara de vereadores do Pinhengo dos Currais, onde o prefeito estava sendo sabatinado sobre as licitações para a construção das novas estradas e do porto de cais do rio, cujas contas tinham sido rejeitadas pela câmara de vereadores por três vezes seguidamente, e, em face aos grandes valores superfaturados, pelas construtoras, que, aliás, a maioria delas pertencia à família do Prefeito Edigésino e as que não pertenciam, eram de propriedades de correligionários coo - parentes.

O que mais chamou a atenção foi o discurso do prefeito para justificar o atraso nas obras provocando com isto, atraso no cronograma do progresso da cidade, segundo ele, e , empunhando um monte de papeis com os dados financeiros das licitações com nomes das empresas, projetos e as justificadas das escolhas, acompanhado de três bate-paus truculentos(capangas) que estavam armados até os dentes, trajando um terno azul com gravata verde listrada de amarelo, cabelos úmidos de brilhantina que devido ao calor infernal no recinto, escorria-lhe pela testa e pelo cangote, exalando um cheiro forte de perfume semelhante à marca príncipe negro, além do desodorante avanço. Ao subir na tribuna do plenário, Edigésino olha com ares de seriedade e de raiva para todos os vereadores da oposição ali presentes. Fulmina o presidente da câmara vereador Antonio Bobó Periquito de Alvarenga Souza, seu maior desafeto político, testa os microfones dando uma batida com os dedos e começa o seu exórdio:

- Trabaio que trabaio, brequethio que brequethio e esta buceta não progede, porque ocês da opusição são um bando de cornos e filas das putas que tão impedino o porogresso desta cidade!

- Espere lá prefeito! O senhor está faltando com decoro parlamentar nesta casa e se continuar desrespeitando terá que se retirar à força! Interrompeu o presidente da casa.

- Quero ver quem é o macho que se atreve a fazer isto comigo. Precisa ter os culhões roxos como o meu! Agarrou as partes baixas das calças segurando os testículos o sacudiu dando pulos para frente mostrando para toda a plateia e para os vereadores ali presentes.

- Prefeito o senhor deverá se retirar agora!- Gritou Antonio Bobó, presidente da câmara.

- Vem se ocê é macho para enfrentar a mim e os meus capangas seu roncolho! Gritou Edigésino possesso.

O chefe político do partido do prefeito, resolveu acalmar os ânimos de imediato ali dentro antes que o bicho pegasse mais forte pedindo para que a reunião continuasse. E assim que o prefeito terminou as suas justificativas, o presidente da câmara, Antonio Bobó, resolveu dar o parecer sobre os motivos pelos quais levaram a Câmara a vetar a aprovação das licitações.

Olhando seriamente para o prefeito, para os vereadores e para a plateia, ele começou a mencionar as suas considerações, já que era o relator dos vetos:

- Não há como esta casa aprovar as licitações feitas pelo senhor prefeito, tendo em vista que os valores superfaturados levarão o nosso município à falência. As licitações, se aprovadas, levarão o nosso município ao caos total em todas as áreas, como saúde, educação, segurança, pagamento das obrigações e salários dos servidores. Aprovando, também estaremos dando autenticidade para o maior prefeito da nossa região! Bobó deu uma pausa e Edigésino sem esperar molhar o bico até gostou desta última fala – O maior prefeito sub-reptício da região! Completou Antonio Bobó.

Imediatamente Edigésino sacou de um revolver calibre vinte e dois, e partiu para cima do presidente da câmara.

- Retire o que ocê disse seu corno sem vergonha, se não eu te mato agora mesmo seu desgranhento! Grita enraivecido.

- Retirar o quê coronel de bosta, salafrário, corrupto e ladrão! Revidou Antonio Bobó, o presidente da câmara de vereadores.

-Ocê me chamou de réptil, seu verme. E me chamou dos piores dos répteis! Chamou - me de sub- réptil. Tu é que é um sub- verme, um sub -corno, um sub- roncolho, que é pior do que um verme, seu canalha, seu corno presepeiro ! Vou te capar o resto de colhão que lhe restou depois do acidente na vaquejada e aí quero ver ocê todo desarvorado e maricado! Edigésino estava fulo de mais, quase bufando, cuspindo fogo e salivas para todos os lados.

A plateia teve que sair correndo temendo que uma tragédia viesse a acontecer com os ânimos exaltados, principalmente do lado do coronel Edigésino, afinal de contas, os capangas deles estavam armados e doidinhos para entrarem em ação. Mas depois dos e deixa disto e com a chegada dos praças, os ânimos foram serenados e Antonio Bobó e o prefeito Edigésino foram conduzidos à delegacia de polícia da cidade, enquadrados pelo delegado e conduzidos de imediato para o Fórum, com a finalidade de serem ouvidos pelo Juiz da Comarca, Dr.Libório, muito conhecido por ser um juiz muito severo.

Mas antes de narrar sobre o que aconteceu no Fórum, vou narrar um fato que ocorreu quando o Prefeito, na época em que ainda não era político, resolveu montar uma funerária na cidade e colocou na propaganda o seguinte: FUNERÁRIA DO EDIGÉSINO - A FUNERÁRIA MAIS SÉRIA E COMPLETA DA REGIÃO-TUDO QUE ALGUÉM PRECISAR PARA UM FUNERAL COMPLETO VOCÊ ENCONTRARÁ AQUI. Salvador do Mercado, que era um sujeito cheio de sugestas, um piadista inveterado, foi até a funerária para conferir a loja e tirar um sarro do Edigésino. Chegando lá com sua cara de pau foi logo cumprimentando e perguntando para o coronel.

- Bom dia coronel. É verdade que nós achamos aqui tudo o que é necessário para fazer qualquer enterro completo na sua funerária?

- Sim, respondeu Edigésino.

-Então eu quero um caixão com todos os acessórios e um defunto de contrapeso. Solicitou Salvador com a cara de quem queria testar o coronel e ao mesmo tempo pegá-lo de calças curtas.

- Defunto não temos: só os acessórios! Completou Edigésino.

- Ué, você não disse na propaganda que tinha tudo aqui para si fazer um enterro completo? Então quero um defunto! Se não vou espalhar por aí que a sua funerária não é tão seria assim! Vou denunciá-la ao código municipal do consumidor por propaganda enganosa, coronel!

Coronel Edigésino, sem falar nada, deu uma olhadela pro Salvador dos pés à cabeça medindo o com os olhos faiscando vagarosamente, depois se virou para o interior da funerária, chamou um dos seus capangas e disse-lhe: - O mancebo aqui quer um defunto para fazer um enterro completo e pelo visto, ele é uma mercadoria bem ao estilo. Se ele continuar insistindo, transforme esse sujeito em defunto e aí a encomenda dele mesmo estará completa, honrando o nome da nossa funerária!

Olhando para o capanga que acariciava o cabo de uma cartucheira de dois canos, vendo que o coronel Edigésino não estava para brincadeira ,ou se estava apenas tentando assustá-lo, na dúvida, Salvador tratou de se desculpar com o Edigésino com um sorriso sem graça entre os dentes e caiu fora rapidamente se não poderia sobrar algum rebu para ele.

Retornando ao Fórum da cidade, o juiz Dr. Libório em uma das suas indagações perguntou aos dois contendores ,desafetos pendengantes, sobre o real motivo do forrobodó todo.

-Ele me chamou de sub - réptil, respondeu Edigésino.

-É mentira doutor, eu disse que, se aprovássemos as licitações fraudulentas, ele passaria a ser o maior prefeito sub-reptício da região, e ele entendeu sub -réptil.

-Ele disse que se fossem aprovadas as licitações você seria o tal sub, coronel? Perguntou doutor Libório.

- Se aprovadas, sim doutor.

-Então ele não o chamou de sub-reptício coronel, já que as licitações não foram aprovadas, ponderou o doutor Libório. A propósito, o senhor sabe o significado da palavra SUB-REPTÍCIO? Pergunta. Um a um dos presentes ali no Fórum da cidade, olha para a cara do outro, e , como se ouvissem alguém falando em chinês, disfarçaram que conheciam o significado daquela palavra, e sacudiram as cabeças com um sim, mas parecido com um não. Na verdade só o Juiz e o estudado Antonio Bobó, que de fato era roncolho, já que em uma vaquejada levou uma chifrada de um touro, o que provocou a perda de um testículo, sabiam o significado da palavra. Nem eu sabia. E olha que nas aulas de português da professora Arturzita, nós fizemos um trabalho sobre duas crônicas, envolvendo as palavras, plebiscito e recalcitrante. Foi muito divertido. Agora cabe a você leitor, olhar no dicionário os significados destas palavras, para não entrar em maus lençóis COMO O PRESIDENTE DA CÂMARA DE Pinhego dos Currais, Antonio Bobó Periquito de Alvarenga Souza e sua excelência o prefeito Edigésino Pereira Inocêncio Severino do Souto Maior

Tenho dito

ARISTORBIO