Franja, ki-chute e estilingue
FRANJA, KI-CHUTE E ESTILINGUE.
As horas preciosas - e outras não tão boas - da infância.
(trechos do e-livro)
"Com a força imaginária por mim recém-adquirida, levantei minha cadeirinha laranja de madeira. Dei um grito! Foi um que peguei emprestado do He-man: "eu tenho a força!". Aliás, meu cabelo loiro, com a franja, era mais parecido com o do He-man. À essa altura, eu já tinha me desvinculado do Super-Homem que eu imitava e do He-man, cujo cabelo parecia mais com o meu, para criar meu próprio herói: Super-Moleque."
(Texto: "Queria ter voado!" )
"- Tio! Tio! Toca o disco do Papai Noel? - ele tinha copo de uísque na mão e conversava com os familiares. No entanto, me deu atenção. Agachou-se para falar comigo.
- Papai Noel? Você trouxe o disco do Papai Noel, "zé gabrié"? (era assim que os tios me chamavam. Às vezes, chamam até hoje).
- Eu não! Nem tenho! Tô falando de um que é do senhor.
- Ué... qual?
- Vem cá. Vou te mostrar - segurei a mão do tio e levei ele para perto da pilha de discos.
- Aquele! Olha ali! - O tio também riu, igual a tia. Estranhei a gargalhada dele."
(Texto: "Papai Noel de terno na capa do disco?" )
"No fim da aula, olhamos um para o outro, já apreensivos, concentrados no desfecho da missão.
Demos um tempo no pátio, até que o mundaréu de alunos desaparecesse da escola. "Barra limpa", disse meu amigo em voz baixa. O silêncio tomou conta do lugar. A única exceção era o barulho do raspar da palha das vassouras no chão. As serventes limpavam as classes cantando e fazendo ruídos. Era mais do que suficiente para sabermos que elas estavam distantes e ocupadas, não oferecendo perigo".
(Texto: "Soda quente nunca mais" )
- Vem ver, mãe! - gritei para ela, que estava na cozinha.
- Ver o quê, Gabriel? - ela me olhou lá na sala, sem deixar de lado o que fazia na pia. Era pastel.
- Olha só! Estas pessoas estão na praia!
- Ué, e daí?
- Daí que é de noite!
- É sim.
- Não pode! - fiquei indignado com a cena.
- Não pode por que, Gabriel?
- Porque a praia fica fechada! Será que eles pularam o muro?
(Texto: "Tá na hora de fechar a praia" )
"com aquele presente nas costas me sentia igual o adolescente da novela das sete, que mascava chiclete, usava bandana e calçava all star cano baixo. Fui até o balcão do bazar. Peguei estojo, lápis, régua, caneta, linha de anzol, borracha, durex, dedais, caneca, caminhãozinho, saca-rolha e pus tudo na mochila. Como não sabia direito o que se usava na escola, para estudar, incluí algumas peças que podiam ser úteis".
(Texto: "Surpresa na escola" )
"Minha mãe apontou para um rapaz magro, de óculos escuros, cabeludo. Só faltou o violão a tiracolo para se assemelhar a um fugitivo de Woodstock. "Quem? Esse aí?", perguntei, indignado. Duvidava que aquele sujeito ridículo pudesse ser a pessoa que dava vida àquele simpático mosquitão de mentirinha. E se eu fosse adolescente naquela época, certamente faria uma de minhas piadinhas sarcásticas: 'este cara raquítico aí INTERPRETA o Dengue ou CONTRAIU Dengue?' [...] antes que a dúvida me deixasse preocupado, observei e deduzi o objetivo da separação: os adultos ficariam no auditório e as crianças no cenário. Fomos colocados bem no centro, onde no chão, existia o desenho de uma boca vermelha, gigante, representando marca de batom. Eu achava engraçado aquilo: estava 'pisando no bocão da Xuxa [...] chegou um tiozinho caolho, muito feio, que nada tinha a ver com o glamour na TV, nem os encantos de um programa infantil imaginados por mim. Se tivesse menos que meus sete anos, provavelmente estaria aos berros, com medo, como na época em que o Papai Noel ainda me assustava [...] na tela de um dos monitores do estúdio, a loira descia a escadinha dançando e gesticulando. Apareceu uma criança sorrindo, em seguida Xuxa cantou. Na cena seguinte, as paquitas faziam passos de dança ensaiados. Logo após, uma panorâmica do cenário e as crianças pulando. Depois, um close no meu rosto: uma descomunal cara de bunda. A cara típica de criança que pediu ao Papai Noel bicicleta e, ao abrir o pacote de presente, se deparou com um par de meias bege, do tipo social. "
(Texto: "Xou da Xuxa - a desilusão" )
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