FELPUDO UM CACHORRO CORAJOSO
Havia naquela manhã um cheiro inconfundível de flores no ar.
Um cão passeia seu dono, ou o dono passeia seu cão?
Difícil saber a resposta. Mas olhando pela janela do seu quarto Daniel se sente atraído pela figura esguia daquele cão tão grande e forte. Era um pastor alemão muito altivo e belo. Seus pêlos até brilhavam, e pelo visto havia sido escovado pelo seu dono.
Olhando mais atentamente percebeu uma certa tristeza em seu olhar.
Resolveu sair para ver de perto aquele cão que lhe chamava tanto a atenção.
Caminhou lentamente para fora de seu prédio e foi em direção ao jardim.
Chegando lá sentou-se próximo ao dono e perguntou:
- O senhor vem sempre aqui?
- As vezes, pois moro acima daquele prédio que fica lá atrás do aeroporto, é um pouco longe, mas como hoje vou mais tarde ao trabalho resolvi sair mais longe com Felpudo.
- É um nome diferente.
- Foi minha esposa que colocou, mas enfim o cão é mais dela que meu.
- Mas o senhor não gosta de seu cão?
- Ele parece ser tão manso e calmo.
- Eu não tenho tempo, e trabalho muito, chego em casa tarde e Amélia sempre resmungando que nunca saio com ele.
- Você gosta muito de cães pelo jeito?
- Gosto sim, eu já tive um, mas ele morreu, ficou muito doente e não pudemos fazer nada.
- É uma pena mesmo, mas olha se quiser posso falar com minha esposa e quem sabe ela dá pra você o Felpudo, você quer menino? Alias nem sei seu nome.
- Meu nome é Daniel, e adoraria ter um cão como o Felpudo, mas vou ter que Falar com minha mãe. Não sei se ela vai deixar, pois eu vou a escola de manhã e fico em casa somente a tarde, ela trabalha também e meu pai sai muito cedo para o escritório.
- Então façamos assim, eu falo com Amélia e você com seus pais. Amanhã de manhã venho até aqui e conversamos, ou melhor nos encontramos aqui e depois vou até sua casa se quiser falar com eles. Está bem assim?
- Sim senhor.
- Pode me chamar de Clóvis.
- Está bem senhor Clóvis, amanhã cedo lá pelas nove da manhã estarei aqui com uma resposta.
Daniel caminhou então para casa e ficou pensando como faria para convencer seus pais a aceitar o Felpudo. Pois na última conversa eles já haviam dito quem nem pensar em outro cão. Já haviam sofrido demais com o Bilu.
Sua mãe havia saído para o trabalho e seu pai estava no portão quando retornou.
- Filho? Você está bem?
- Oi pai, sim estou. É que eu estava ali no jardim conversando com o seu Clóvis, aquele senhor com aquele pastor alemão.
- E o que conversaram? Já disse a você para não falar com estranhos, é perigoso.
- Eu sei pai, mas achei o cão dele tão bonito que fui até lá ver.
- Pai será que você e a mãe me deixam ficar com ele? É mansinho e muito calmo.
- O dono dele não tem como sair e passear e a mulher dele também não. Deixa pai?
- Por mim tudo bem, mas sua mãe não sei, vai ter que convence-la.
- Agora eu vou indo ao trabalho, e você por favor filho, nada de abrir a porta para estranhos e nem sair de casa, até sua mãe chegar na hora do almoço, está bem?
- Sim pai, pode deixar que não vou sair, eu tenho trabalho de escola para fazer e como não tem aula hoje vou adiantar tudo.
- Ótimo meu filho, agora de lá um beijo no seu velho que já estou indo.
Daniel então dá um longo abraço em seu pai e um beijo, sendo retribuído pelo pai.
A manhã correu normalmente, Daniel fez a lição de casa, arrumou seu quarto e desceu até a cozinha. Sua mãe já estava chegando, ouviu o barulho da garagem abrindo.
- Daniel meu filho está aí?
- Oi mãe estou aqui na sala vendo tv.
- Então venha aqui me ajudar que tenho compras para descarregar.
Daniel ajudou sua mãe enquanto contava o que havia acontecido naquela manhã.
- De jeito nenhum Daniel, nem pensar em outro cão nessa casa.
- Você viu o sofrimento que passamos com o Bilu, e não quero ver mais ninguém chorando nessa casa por causa de cão nenhum.
- Mas mãe, ele é tão bonito, manso e muito calmo.
- Esquece meu filho. Aqui não entra mais cão.
Daniel ficou muito triste, quase nem comeu nada do almoço. Mas sua mãe nem deu muita importância a isso e depois do almoço voltou a falar com Daniel.
- Filho? Não adianta você ficar desse jeito, nem fazer greve de fome, esquece essa história de cachorro, está bem?
- Mas, mãe Felpudo é tão bonzinho.
- Não se toca mais nesse assunto. Agora eu vou ter que sair, vou até o mercado.
- Posso ir com você? Sua mãe então vendo que ele estava todo triste resolveu deixar.
- Então vai se trocar que estou indo na garagem para tirar o carro.
Mãe e filho foram ao mercado, e por coincidência era perto do prédio onde morava o dono do Felpudo. Mas Daniel nem disse a mãe.
Quando entravam no estacionamento do supermercado havia algo errado, muitos gritos e Daniel teve a impressão de ter ouvido um tiro.
Sua mãe desesperada tentou sair da garagem, mas já era tarde, havia outros carros atrás do dela e nem teve como recuar.
Ela então fechou o vidro do carro e tentando desesperadamente estacionar em algum lugar seguro pediu ao filho para se abaixar.
- Fique quieto aí em baixo Daniel, não faça nenhum barulho.
Ele obedeceu sua mãe e abaixou-se no banco de trás, quase deitando.
- Saia do carro madame. Ouviu uma voz atrás do carro. Era um homem alto com uma meia enfiada na cabeça.
- Sem dizer nada sua mãe desce e imediatamente ouve um tapa.
- Aiiiiii, não meu machuque moço.
- Se a senhora colaborar ninguém sai ferido. Agora entra no carro e me tira daqui. E rápido que a policia vem aí.
- Mas eu não posso.
- A senhora quer morrer? E aponta a arma na cabeça dela.
- Está bem. Mas o senhor pode deixar meu filho sair por favor?
- Ah, então tem um menino lá atrás? Venha cá fora moleque.
- Daniel então sai e o homem diz:
- Olha aqui menino, vai dizer prós home lá fora que sua mãe é refém e que eu só saio daqui com a imprensa e os fotógrafos, entendeu?
- Sim seu moço, entendi.
- Então vá logo antes que eu dê cabo da sua mãe.
Daniel então sai correndo e quando chega a rua fica desesperado e começa a chorar.
- Menino? O que aconteceu lá dentro? Ele percebeu que era um policial.
- Tem um ladrão lá dentro com a minha mãe, e ele tem um revolver apontado na cabeça dela. Por favor ajude a minha mãe, não deixe ela morrer.
- Pode deixar menino, qual é o seu nome?
- É Daniel, e da minha mãe é Patricia.
- Fique sossegado meu filho, vai até ali ficar com o outro policial que já trago sua mãe.
- O bandido quer fotógrafos e a imprensa seu policial.
- É sempre a mesma coisa, mas ele pensa que é quem?
- Quero minha mãe salva. E Daniel então sai dali levado pelo policial.
Lá fora o tumulto é grande, muita gente querendo saber o que se passava e muito curioso também. Mas o que mais preocupava o menino era o fato de sua mãe ter uma arma apontada em sua cabeça. Pediu ao policial para ligar ao seu pai e contar o que se passava ali.
O policial fez o que Daniel pediu e mais do que depressa seu pai apareceu ali.
- Você está bem meu filho? Abraçando Daniel muito forte.
- Sim pai estou bem, mas a mãe está lá dentro com o ladrão.
- Mas afinal seu policial o que acontece lá dentro?
- Aquele que está lá dentro é um foragido da cadeia dessa manhã de uma viatura da delegacia, ele estava sendo transferido e no caminho conseguiu se soltar das algemas.
- E ainda por cima assaltou uma joalharia lá dentro e agora quer a impressa, fotógrafos, televisão, todo mundo. Está com medo de ser morto, mas o senhor não se preocupe que tudo vai sair bem.
- Esse é meu problema, vocês dizem que tudo vai ficar bem e de repente alguém leva um tiro, no caso é minha esposa que está lá com a arma na cabeça.
- O senhor fique calmo.
Daniel então começa a chorar e seu pai sai com ele fora do carro da polícia.
- Filho, via ficar tudo bem, daqui a pouco o bandido solta sua mãe.
- Pai estou com medo, e se ele matar a mãe? Que vai ser da gente?
- Isso não vai acontecer, eu prometo a você.
Daniel estava apreensivo e nem percebeu Clóvis que já estava do seu lado.
- Que houve Daniel?
- Olá senhor Clóvis, é minha mãe que é refém do assaltante que fugiu de manhã e roubou a joalharia. E agora está lá dentro com uma arma apontada na cabeça.
- Vai ficar tudo bem Daniel. Olha Felpudo está aqui.
Daniel então se abaixa e abraça o cachorro com força e chora.
- Ah Felpudo se pudesse me ajudar minha mãe com certeza mudava de ideia e você poderia morar lá em casa.
E como se Felpudo entendesse o que Daniel disse se soltou de Clóvis e saiu correndo em direção a garagem. Todos ficaram apavorados, pois havia ali muitos polícias com cães e nenhum deles estava solto. Começaram a latir todos deixando o assaltante lá dentro nervoso. Ouve-se um tiro e um grito.
Os polícias todos correm para dentro da garagem e vêem Felpudo lutando com o bandido. Mordendo em tudo que era lugar, e finalmente conseguiu que ele soltasse a arma. Mas infelizmente o tiro dado havia acertado o braço de Patrícia.
- A senhora está bem?
- Estou com muita dor no braço.
- A senhora vai ficar bem. Foi salva por esse cão que nem sei da onde surgiu.
- Esse cão é meu, se chama Felpudo. Foi muito corajoso menino, venha cá.
Clóvis abraça Felpudo e patrícia fica enternecida pelo que o cão fizera.
Quando saem de lá sua mãe é prontamente atendida por um ambulância e levada ao hospital. Mais tarde quando Daniel e seu pai vão a hospital ela já esta acordada no quarto. Sorri para o filho e o marido e diz:
- Bem meninos, onde está meu salvador? Quero lhe dar uma notícia.
- Ele está com seu Clóvis lá fora mãe, o bandido foi preso e levado para a penitenciária.
- Obrigada filho, você salvou minha vida, você e aquele cão.
- Bem, estive pensando e resolvi que vamos adotar o tal Felpudo que você pediu.
Pai e filho sorriem para a mãe e Daniel fala:
- A mãe que bom, e ele ainda salvou sua vida, a senhora vai gostar muito dele.
- Eu já gosto meu filho, e você pode ter certeza que vai ser muito bem cuidado.
Daniel então sai correndo para contar a novidade para Clóvis que fica muito feliz por Felpudo e aquele menino corajoso.
- Daniel espero que cuide muito bem dele. No fim-de-semana eu e minha esposa vamos dar fazer uma visita a seus pais e levaremos algumas coisas que ficaram em casa do Felpudo. Pode leva-lo hoje mesmo.
Daniel abraça o Felpudo todo feliz e juntos passeiam pelo jardim em frente ao hospital.
Sua mãe de lá de cima fica toda comovida em ver a alegria de seu filho. Mãe e pai abraçados vendo Daniel correndo e brincando com Felpudo.
Silvya Regyn@
04/04/2011