Demora
Era uma manhã de segunda-feira... Já era tarde, já passava das 8h. Ela estava atrasada. Tudo estava atrasado... mas ela nunca notara, até aquele dia...
Naquela pressa em se aprontar, ela parou em frente ao espelho. Era ela. Era ela? De fato, tudo estava atrasado: ela, as coisas, a vida enfim... Como não tinha percebido? Quem era ela? Onde estavam todos? Não havia ninguém... ela estava só. Há quanto tempo?
Já não conseguia sorrir, não se lembrava mais como se fazia isso. Soltou os cabelos. Sentiu falta de como eram lindos, como os adorava. Sentiu falta de si mesma. Sentiu falta de quem ela costumava ser. Sentiu falta dEle, do olhar dEle. Mas já era tarde, já passava das 8h, ela estava atrasada... Valeu a pena? Seria tarde demais?
A vida a esperava, a rotina esperava, ela estava atrasada, de novo. A vida a esperava. Vida?
De repente ela parou... tudo fazia sentido. Ela estava sozinha! Já não se lembrava mais de como era ser ela mesma, será que alguém lembrava? Será que Ele...
De súbito, sentou-se e pôs-se a procurar... O passado teima em se esconder, onde estaria? Onde ela havia perdido? Onde ela havia se perdido? Onde teria posto seu futuro, antes tão idealizado e agora empoeirado pelo tempo, pela vida. Vida?
Eis que Ele surge, materializado em um minúsculo papel escrito com caneta colorida. Era sua letra. Sua letra... também esquecida e arquivada pelo tempo, já nem se lembrava. Que horas eram? Nossa como ela estava atrasada! Mas Ele estava ali, só isso importava.
Após fitar aquele papel por um longo tempo, ela decidiu. Mas como agir? Como ser ela mesma novamente? Ela não se lembrava!
Ela disse "alô".
Ele se lembrava. Ele esperava. Ele sempre esperou.
De fato, a vida esperava. Então, ela resolveu viver.
E foi.