Uma Lágrima no Paraíso…
Cheguei Aqui depois de ter percorrido todo um mundo cheio de demasiados locais, demasiadas paisagens que se caracterizavam por terem em comum o mesmo cenário de nada, de cinzas, de solo de cinzas, de árvore feitas em cinza, de pé, mas de cinza petrificada, em pardacenta e lúgubre sintonia com um céu de cinza, de nuvens de cinza, que derramavam água de cinzas para terras de cinza, rios e mares de cinza…
As pessoas com que me cruzei também eram de cinza, e só se sabia que eram pessoas, e não meras sombras, porque uma réstia de cor brilhava no seu olhar, rostos de uma humanidade quase extinta, que o seria de facto quando esse brilho se transformasse por sua vez em cinza…
Até que dei comigo Aqui, o último baluarte, o último lugar onde a cinza não imperava, onde todas as cores do Universo se tinham vindo refugiar…
Aqui haviam pessoas e coisas como aquelas que diziam existir antigamente, num tempo já esquecido e varrido da memória humana, num tempo que não era meu, mas que descobrira um dia num livro numa escola abandonada, também ela transformada para sempre em cinzas…
Aqui a Esperança que abandonara o homem era bem vinda, habitava por aqui, apesar de todos sentirem, mas nunca o admitirem, que Um Dia as cinzas viriam para não mais sair…
E tudo começou num dia como os outros, em que a tristeza entrou numa casa, sem pedir licença, e depois mais uma casa, e mais uma, até que todas as casas se encontravam irremediavelmente infectadas por cinzas…
Neste cenário de fim dos tempos, dei comigo novamente a errar entre pessoas de cinza, que nada diziam, nem sequer choravam, andavam apenas ao acaso, andavam perdidas de um lado para o outro…
Até que reparei num Ser com cor…
Estava a boa distância, e por isso à medida que me fui aproximando, a Fé e a Esperança renasceram em mim, o último ser vivo com tal…
Fui-me aproximando, e fui reparando que esse Ser com cor era uma criança, o último local de vida estava no corpo de uma criança, fui-me aproximando até que vi o seu rosto e reparei que essa criança com cor derramava lágrimas…de cinza…